Luca Zampollo – acadêmico do 4° semestre de Relações Internacionais da Unama

A guerra que se segue na Faixa de Gaza tem se mostrado extremamente brutal e deixa em evidência uma perseguição sistemática realizada pelo atual governo de Israel, de Benjamin Netanyahu e também pelas forças armadas deste mesmo país, contra o povo palestino, muitas vezes  injustamente colocado em uma posição de generalização como se toda a população fosse simpatizante do grupo violento Hamas ou outros grupos considerados terroristas por Israel. É válido ressaltar que nem toda a população israelense apoia os atos de seu governante, este sendo bastante impopular entre o povo e tendo até mesmo sido indiciado por corrupção (G1,2020).

No entanto, a partir desta generalização errônea acerca dos palestinos, se torna fácil para Netanyahu e seus asseclas de vertente sionista radical  usarem este discurso de que estão apenas se defendendo e atacando unicamente alvos considerados como ameaças ao povo israelense, fato este que se mostra falso, tendo em vista os diversos ataques deliberados contra escolas, hospitais, campos de refugiados e demais instalações de uso civil em Gaza.

 Partindo deste ponto é mais do que crucial compreender os eventos passados que culminaram até o presente cenário, para então, exigir que a Comunidade Internacional se pronuncie e exerça pressões para que o Estado israelense acabe com este verdadeiro genocídio.

Para contextualizar de forma mais abrangente o cenário geopolítico atual desta região, é indispensável mencionar o fator histórico que tem levado este conflito a escalar de forma drástica ao longo das décadas. Primeiramente, pode-se dizer que o Estado de Israel foi implantado de maneira não natural  em uma região já ocupada por povos árabes, muitos dos quais tentaram invadir o território israelense recém-estabelecido e foram expulsos posteriormente pelos próprios israelenses que saíram vitoriosos da maioria de suas batalhas, nomeadamente a Guerra dos Seis Dias em 1967 e a Guerra do Yom Kippur em 1973.

Devido tais intrigas bélicas e a ineficácia de organizações internacionais para ajudar a mediar a situação árabe na região, Israel continuou a expandir seu território de forma irregular e muitas vezes ilegalmente, fazendo com que muitos palestinos, cerca de 750 mil pessoas, que já habitavam a área fugissem para nações vizinhas ou fossem expulsos por tropas israelenses, começa então a Nakba, a palavra palestina para destruição ou catástrofe (BBC,2023).

 É possível argumentar que ocorre em Israel, desde sua criação artificial até suas expansões territoriais mais recentes, é o conceito criado por Michael Shapiro, importante pensador da teoria pós-moderna, conhecido no âmbito das relações internacionais como cartografia violenta, uma abordagem crítica ao mapeamento que examina como a violência, tanto física quanto simbólica, molda compreensões espaciais e dinâmicas de poder.

Portanto, este conceito explora como os mapas podem refletir e reforçar estruturas de poder existentes, particularmente em contextos de guerra, colonialismo e outras formas de dominação. Explicando assim, a razão para a Faixa de Gaza encontrar-se praticamente cercada e separada, de forma brutal, dos centros prósperos do território israelense, excluindo os palestinos da chance de conseguir uma vida melhor para si próprios e suas famílias (SHAPIRO,1997).

 Para se utilizar um exemplo no qual esta tese pode ser observada mais claramente, basta compreender a divisão territorial da África na época de sua colonização e descolonização, pois as nações deste continente foram separadas de forma mal planejada por potências europeias que nem sequer importavam-se com as diferentes culturas e povos nativos de seus respectivos lugares de origem, desta feita, criaram-se confrontos e guerras civis étnicas em diferentes países africanos, mais notadamente Ruanda, em que parte de sua população passou por um verdadeiro expurgo em uma guerra interna entre duas culturas consideradas beligerantes. Assim como Israel faz com a população que vivia no território palestino unificado, separando-a por meio da força e gerando uma instabilidade política, social e de segurança nestes locais, em especial, a Faixa de Gaza.

Tendo apresentado este cenário alarmante, a Comunidade Internacional deveria se prontificar para tomar decisões realmente efetivas que ajudassem os lados combatentes a encontrarem uma solução que agradasse a todos, embora muitas vezes já tenham sido propostos acordos de paz que nunca foram realmente úteis para ambos os lados.

 Outra questão a se levantar, é o fato da mídia e a velocidade de informações serem pontos cruciais nesta situação, segundo James Der Derian, outro pensador da teoria pós-moderna das relações internacionais, a opinião de outras pessoas no mundo é forjada pelo o que estas escutam ou leem nos jornais de notícias, conceito conhecido como infowar, ou seja, uma guerra pelo controle da informação e como este fator molda ou distorce o caráter e os pontos de vista da notícia apresentada para a população (DER DERIAN,2001).

A mídia ocidental mainstream, principalmente a norte-americana, tende a defender Israel e ocultar os crimes de guerra que este país comete, dificultando que o público e os demais Estados do mundo possam realizar uma ação que de fato condene e puna o governo de Netanyahu.

No entanto, parece haver uma mudança na visão dos cidadãos do mundo sobre as organizações globais e ativistas que procuram fazer a diferença e impedir a perpetuação dos crimes de guerra israelenses como, por exemplo, a destruição de qualquer possível corredor humanitário criado para auxiliar palestinos necessitados, como observado no recente ataque das forças armadas israelenses aos indivíduos da Flotilha da Liberdade que estava a caminho de Gaza com suprimentos para a população que foi bloqueada de receber ajuda.

 Entre os ativistas humanitários interceptados e detidos por Israel estavam a sueca Greta Thunberg e o brasileiro Thiago Ávila, no presente momento já encontram-se libertos (GOV.BR,2025). O Estado israelense portanto, estaria contradizendo a regra de auxílio, asilo e direitos humanos dos refugiados, proposta e defendida pelo internacionalista e pensador da teoria crítica, Andrew Linklater. Então, é mais do que necessário que exista uma demanda da comunidade internacional mais exigente sobre a necessidade de Israel seguir as normas de abrigo para os mais necessitados que buscam escapar da situação caótica em que Gaza se encontra (LINKLATER,1998).

Para concluir, é notável que os protestos a favor da soberania da Palestina e que condenam os atos de Israel aparentam possuir cada vez que mais força, tanto no meio acadêmico e popular, quanto no meio midiático e profissional, em uma escala global.

 A pressão internacional no entanto, ocorre desde o início do confronto, porém, fica evidente que há uma dinâmica de interesses  entre os países que realizam tais condenações, estes o fazem não apenas por denunciar o genocídio que se apresenta, mas também, para firmar concordâncias com nações que tenham as mesmas opiniões quanto ao caso de Gaza, dessa forma, condenar Israel torna-se um meio de demonstrar as alianças que surgem entre Estados que se opõem ao atual governo israelense e que observam nesta guerra, uma forma de denunciar os males das políticas de Netanyahu, mas claro, pensando em como esta prática pode ser benéfica para os anseios internos de sua população.

 Como exemplo disso, pode-se mencionar a maioria dos países árabes que desejam enfraquecer o poderio israelense devido ao seu contexto bélico histórico na região, assim como, em menor nível, a União Europeia e alguns países latino-americanos, que por meio de declarações procuram distanciar suas conexões com o país agressor.

Fica evidente portanto, uma mudança nas relações diplomáticas e nas parcerias econômicas e militares de nações que, com esta posição em comum, podem realizar alianças entre si, como forma de uma oposição ainda mais forte contra as medidas israelenses, gerando consequências para Israel futuramente, que pode encontrar-se mais isolado no cenário das relações internacionais.

Em suma, estes episódios bárbaros devem ser encarados como um sentimento de revolta e insatisfação como resposta aos crimes que ocorrem em Gaza, ou seja, parece tornar-se inviável para a mídia ignorar os horrores que aquela parte do Oriente Médio vem presenciando, portanto, é urgente que órgãos como a ONU, seus demais países membros e até mesmo o Tribunal Internacional de Haia encontrem formas de pressionar e cessar por definitivo, seja por meio de sanções e embargos econômicos ou por meio de mostrar a real gravidade da situação para o público espectador.

É necessário também cessar o poder quase ilimitado que o exército e o governo israelense impõem contra aqueles que consideram perigosos, quando em sua maioria, são apenas cidadãos pacíficos que de forma alguma merecem ser confundidos com grupos terroristas, vilipendiando ainda mais a imagem do povo árabe, como justificativa para uma narrativa enviesada que apoia tal injustiça atroz com esta violência desenfreada e ininterrupta.

Referências:

BBC. 8 mapas que ajudam a entender conflito entre Israel e palestinos. Disponível: https://share.google/bnpKQoZK9cqhpEfHK. Acesso em 14/07/2025.

DER DERIAN, James. Virtuous War: Mapping the Military-Industrial-Media-Entertainment-Network. Ano de Publicação: 2001.  Acesso em 14/07/2025

G1. Netanyahu, premiê de Israel, é formalmente indiciado por corrupção. Disponível: https://g1.globo.com/google/amp/mundo/noticia/2020/01/29/netanyahu-de-israel-foi-formalmente-indiciado-por-corrupcao.ghtml. Acesso em 15/07/2025.

GOV.BR. Libertação e retorno de tripulante brasileiro da “Flotilha da Liberdade” detido em Israel. Disponível: https://share.google/G5h4OpKuckMdoSKXI. Acesso em 15/07/2025.

LINKLATER, Andrew. The Transformation of Political Community: Ethical Foundations of the Post-Westphalian Era. Ano de Publicação: 1998. Acesso em 16/07/2025.

SHAPIRO, Michael. Violent Cartographies: Mapping Cultures of War. Ano de Publicação: 1997. Acesso em 16/07/2025.