Pedro Paes, acadêmico do 6° semestre de Relações Internacionais

Walelasoetxeige Suruí, conhecida como Txai Suruí é uma grande ativista indígena brasileira que nasceu em 1997, pertencente ao povo Paiter Suruí e originária da Terra Indígena Sete de Setembro, em Rondônia. Filha de Almir Suruí e Neidinha Suruí, proeminentes líderes na defesa dos direitos indígenas e da Amazônia, ela cresceu com uma forte influência de seus pais. Sua infância, permeada por rituais ancestrais e discussões sobre a preservação ambiental, despertou sua consciência crítica e seu compromisso com a luta por justiça climática e territorial (G1, 2021).

Em novembro de 2021, Txai fez história ao ser a primeira indígena brasileira a discursar na abertura da COP26, a Conferência do Clima das Nações Unidas. Com apenas 24 anos, ela comoveu líderes globais ao declarar: “A Terra está falando, e ela nos diz que não temos mais tempo”. Seu discurso, proferido em inglês após intensa preparação, ressaltou a urgência da crise climática e a relevância da juventude indígena como protagonista global. (WWF, 2021)

Atualmente, Txai é estudante de Direito na Universidade Federal de Rondônia, sendo pioneira de seu povo nesta área. Ela emprega o conhecimento jurídico como instrumento de resistência, atuando na Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé e coordenando o Movimento da Juventude Indígena de Rondônia, que congrega mais de 1.700 jovens engajados na defesa dos direitos dos povos originários. Sua atuação integra saberes ancestrais e técnicos, fortalecendo a luta indígena em diversas frentes.

Além de sua participação na COP26, Txai atua como conselheira em organizações como WWF e o Pacto Global da ONU. Seu nome já foi mencionado inúmeras vezes em veículos internacionais, e ela se tornou um símbolo da resistência indígena contra o desmatamento e a exploração ilegal da Amazônia. A jovem também é voluntária da ONG Engajamundo, onde promove ações de conscientização e mobilização entre jovens brasileiros. Txai deposita sua esperança nas novas gerações e na força coletiva dos povos da floresta. Para ela, as palavras são como flechas e o território é o arco que impulsiona sua luta. Seu ativismo se distingue pela coragem, pela conexão com a ancestralidade e pela capacidade de transformar a dor em ação. Txai Suruí transcende o papel de líder: ela é um elo entre o passado e o futuro, entre a floresta e o mundo (DI BELLA, 2022).

O percurso de Txai Suruí tem uma ligação muito forte com as ideias de Aníbal Quijano sobre a Teoria Decolonial, principalmente no que se refere à sua crítica à forma como o poder é usado para manter a mentalidade colonial. Quijano (2000) entende que, mesmo depois do fim do colonialismo tradicional, ainda existem formas de dominação baseadas em raça, conhecimento e poder que deixam os povos originários de lado e mantêm a ideia de que a Europa é o centro do mundo, servindo como modelo de pensamento e progresso.

Txai, ao participar de eventos importantes como a COP26 e ao defender que os indígenas devem ser os líderes na luta contra as mudanças climáticas, questiona diretamente essa forma de pensar. Suas ações mostram que ela não concorda com a ideia de que apenas o conhecimento ocidental é válido, pois ela apresenta a visão de mundo indígena como uma forma diferente de entender e lidar com a crise ambiental global, tanto em termos de conhecimento quanto de política (QUIJANO, 2005).

Além disso, Txai representa a ideia de “desprendimento” defendida por Quijano, que é a necessidade de abandonar as ideias impostas pela modernidade colonial e criar formas de pensar a partir das experiências da América Latina. Ao lutar junto com jovens indígenas, usar o direito como forma de resistência e promover a conversa entre o conhecimento ancestral e a ciência, Txai ajuda a diminuir a influência do colonialismo nas relações internacionais.

Sua presença em eventos mundiais não é apenas um símbolo, mas uma estratégia: mudar a forma como os povos indígenas são vistos no mundo, desafiando a ideia de que alguns conhecimentos são mais importantes que outros e propondo uma nova forma de política baseada na diversidade de saberes e na justiça para o meio ambiente (QUIJANO, 2005).

REFERÊNCIAS:

G1. Quem é Txai Suruí, indígena e única brasileira que discursou na COP26. G1 Rondônia, 2 nov. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/ro/rondonia/natureza/amazonia/noticia/2021/11/02/quem-e-txai-
surui-indigena-e-unica-brasileira-que-discursou-na-cop26.ghtml. Acesso em: 2 ago. 2025.

NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL. Txai Suruí, nascida e criada na luta pela conservação da Amazônia. National Geographic Brasil, 27 jun. 2022. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2022/06/txai-surui-
nascida-e-criada-na-luta-pela-conservacao-da-amazonia. Acesso em: 2 ago. 2025.

QUIJANO, Aníbal (2005). Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais, perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005. p. 117–142

WWF-BRASIL. Txai Suruí, jovem indígena brasileira, acaba de discursar na abertura da COP26. WWF Brasil, 2021. Disponível em: https://www.wwf.org.br/?80429/Txai-Surui-jovem-indigena-brasileira-acaba-de-discursar-na-abertura-da-COP26. Acesso em: 2 ago. 2025.