Gabriela Vaz,
acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais

O passaporte musical desta semana é sobre a ativista, cantora e produtora cultural, Djuena Tikuna. A artista canta apenas na sua língua materna, o Tikuna, e suas canções abordam sobre ancestralidade, território, resistência e defesa da Amazônia, além de transmitirem sensações de leveza e calmaria (Nexo, 2024). Ela foi a primeira jornalista indígena do Amazonas e faz parte da curadoria do festival “Indígenas.Br”, que valoriza a diversidade musical dos povos originários. (Ministério da Cultura, 2025).

Djuena Tikuna nasceu em 1984, em Tabatinga, no Amazonas. Passou a infância na Aldeia Umariaçu II, da etnia Tikuna, e posteriormente mudou-se para Manaus, onde viveu na Comunidade Indígena Wotchimaücü (ACW), fundada por seus parentes com o intuito de preservar a cultura e a língua Tikuna (Instituto Socioambiental, 2021). A artista recebeu influência musical da mãe, que era cantora de um grupo indígena e, em 2006, começou a cantar com o grupo Magüta, formado por integrantes do povo Tikuna (Instituto Socioambiental, 2021).

Com o tempo, Djuena percebeu que os artistas indígenas não tinham o devido reconhecimento. Por isso, seu objetivo era mudar essa perspectiva, divulgar o canto indígena e ampliar o conhecimento da sociedade sobre as questões que envolvem os povos originários.

Em 2008, a artista participou de uma coletânea de cantos indígenas, a qual contribuiu para a participação em grandes eventos. No ano de 2016, na abertura das olimpíadas, cantou o hino nacional brasileiro na língua Tikuna (Senado, 2024). Em 2017, lançou, no Teatro Amazonas, seu primeiro álbum “Tchautchiane”, que foi indicado ao Indígenous Music Awards (Nexo, 2024). E, no ano de 2018, seguiu em turnê pela Europa com o álbum “Wiyaegü”.

Ao longo dos anos, a artista vem conquistando participações em vários eventos, promovendo a conscientização e valorização das vozes indígenas, como, recentemente, no Global Citizen Now, e no TedxAmazonia, ambos em Belém do Pará.

Dentre as canções mais conhecidas da artista estão: “Maraka’anandê” (2017); “Wiyaegü”(2019); “Torü Wiyaegü” (2022) (projeto multimídia com 20 canções); “Yiemagü Rü Nainecüti Igü (2023); “Floresta Cura – Remix” (2023); “Jungle Beat” (2025), com a participação de outros artistas, essa canção uniu ritmos ancestrais e música eletrônica.

A trajetória musical de Djuena Tikuna pode ser relacionada com a teoria póscolonial das Relações Internacionais, que mostra como relações de poder e dominação da colonização ainda persistem, especialmente por meio do conhecimento ocidental. De acordo com a Gayatri Spivak, em “Can the Subaltern Speak?” (1988), os subalternos – grupos historicamente marginalizados, como os povos indígenas – frequentemente são silenciados pelas estruturas dominantes, mesmo em sociedades formalmente independentes (Spivak, 1988).

Ao cantar somente em língua Tikuna, Djuena rompe com a lógica da imposição cultural e linguística ocidental e tensiona o espaço que historicamente negou a expressão indígena. Sua presença em eventos de alcance nacional e internacional, como o TEDxAmazônia e o Global Citizen Now, por exemplo, ampliam a visibilidade de pautas importantes para a sociedade em geral, sendo estas as pautas indígenas e as pautas ambientais.

Afinal, as pautas índigenas e ambientais estão intimamente ligadas entre si, vinculando umas as outras quase que de forma obrigatória e, no momento que Djuena promove essas pautas, por meio das suas canções, definitivamente se observa a sua importância cultural para o nicho indígena, bem como também se observa as devidas relações de suas músicas com os aparatos teórico das Teorias Pós-Coloniais de Relações Internacionais já destacadas.

Desta forma, a sua arte não apenas preserva a cultura, mas também questiona as estruturas de poder que invisibilizam os povos originários, criando quebras no silenciamento apontado por Spivak.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Carlos. Djuena Tikuna – Amazonas. Som Brasilis, Rádio Senado, 19
abr. 2024 (atualizado em 23 abr. 2024). Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/radio/1/som-brasilis-1/2024/04/19/djuena-tikunaamazonas. Acesso em: 24 ago. 2025.

Glocal Experience. Djuena Tikuna “os cantos da onça que pula no rio”. Glocal
Experience, 24 ago. 2023. Disponível em:
https://www.glocalexperience.com.br/2023/08/24/djuena-tikuna/. Acesso em: 24
ago. 2025.

MINISTÉRIO DA CULTURA. Indígenas.BR – Festival de Músicas IndígenasIndígenas.BR –Mapa da Cultura. Disponível em:
https://mapa.cultura.gov.br/projeto/209025/#info. Acesso em: 24 ago. 2025.

    NEXO Jornal. Como Djuena Tikuna leva música indígena ao mundo. Nexo
    Jornal, 15 abr. 2024. Disponível em:
    https://www.nexojornal.com.br/externo/2024/04/15/como-djuena-tikuna-levamusica-indigena-ao-mundo. Acesso em: 24 ago. 2025.

    RAMOS, Thaís. Djuena Tikuna: a representação e a voz dos povos indígenas.
    Pueblos Indígenas em Brasil, Instituto Socioambiental, 17 abr. 2021. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/es/Notícias?id=220029. Acesso em: 24 ago. 2025

    SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Can the Subaltern Speak? In: NELSON, Cary;
    GROSSBERG, Lawrence (Org.). Marxism and the Interpretation of Culture.
    Urbana: University of Illinois Press, 1988. Pag. 271–313. Disponível em:
    https://jan.ucc.nau.edu/~sj6/Spivak%20CanTheSubalternSpeak.pdf. Acesso em:
    24 ago. 2025.