Sofia Dias, acadêmica do 2º semestre de Relações Internacionais.

Ficha Técnica: 

Ano: 2009 

Direção: James Cameron 

Gênero: Ficção científica, Aventura 

Distribuição: 20th Century Fox 

País de Origem: Estados Unidos 

O filme vencedor do Oscar de Melhor Fotografia, Melhores Efeitos Visuais e Melhor Direção de Arte, Avatar (2009), dirigido por James Cameron, é ambientado no ano de 2154, em Pandora, uma lua distante onde empresas humanas exploram recursos naturais, em especial o unobtânio, um minério de alto valor estratégico. A narrativa acompanha Jake Sully, ex-fuzileiro naval paraplégico que integra o posto avançado humano em Pandora. Sua missão ocorre em um contexto de crise energética na Terra, que leva a humanidade a buscar soluções fora do planeta (Cinema.com, 2009). 

Nesse sentido, devido a atmosfera de Pandora ser tóxica, surge o Programa Avatar, que permite a humanos controlar remotamente corpos biológicos híbridos, criados a partir da combinação de DNA humano e Na’vi, os habitantes nativos. Nesse processo, Jake recupera sua mobilidade e participa diretamente das operações em campo, aproximando-se dos Na’vi, especialmente de Neytiri, que o introduz à cultura e ao modo de vida de seu povo (AdoroCinema, 2009). 

A RDA (Resources Development Administration), corporação responsável pela exploração de Pandora, é retratada como o ator central que encarna a lógica expansionista e hegemônica da narrativa. Dotada de vastos recursos militares e tecnológicos, a organização não age apenas como uma empresa em busca de lucros, mas como uma potência político-militar capaz de projetar poder sobre territórios alheios. Desse modo, sua personalidade é marcada pela racionalidade instrumental e pela disposição em sacrificar qualquer valor humano ou ecológico em nome da maximização de seus interesses estratégicos. 

O realismo ofensivo, fundamentado em conceitos do realismo clássico e neorrealismo, parte da premissa de que os Estados são atores racionais que operam em um sistema internacional anárquico e, por isso, buscam constantemente maximização estrutural de seu poder para garantir sua sobrevivência e segurança no sistema internacional.  Nessa lógica, a busca pela hegemonia regional, haja visto que, segundo Mearsheimer, uma hegemonia global seria difícil, não é uma escolha eventual, mas um imperativo estratégico em um ambiente marcado pela insegurança. John Mearsheimer, principal formulador dessa vertente, exerce papel central nas Relações Internacionais ao sistematizar essa perspectiva, oferecendo uma das análises mais influentes para compreender a dinâmica competitiva entre os Estados no xadrez internacional (Nogueira; Messari, 2005, p. 58). 

Dessa forma, o comportamento da corporação fictícia reflete com clareza as proposições da Teoria Realista das Relações Internacionais, com ênfase no realismo ofensivo de John Mearsheimer, haja vista que a RDA atua como uma potência expansionista movida pela busca incessante de poder, e para mais do que a simples extração do unobtânio, seu objetivo é consolidar a dominação completa de Pandora, impondo-se sobre os Na’vi e eliminando qualquer possibilidade de negociação ou coexistência, expandindo assim sua hegemonia regional. Nesse sentido, a RDA enxerga os habitantes locais não como sujeitos legítimos, mas como obstáculos a serem eliminados, expressando a lógica mearsheimeriana de que, em um sistema anárquico, os atores buscam hegemonia sempre que possível (Mearsheimer, 2007). Seu comportamento evidencia que a maximização do poder orienta suas ações e que a neutralização preventiva de ameaças é parte essencial da estratégia para assegurar vantagem e consolidar dominação. 

Assim, a destruição da Árvore das Almas constitui um ponto crítico para compreender a lógica ofensiva da RDA. Mais do que um símbolo espiritual, a árvore representa um núcleo de coesão social e resistência cultural para os Na’vi. Ao atacá-la, a corporação busca destruir a capacidade de resistência do grupo autóctone, eliminando qualquer ameaça potencial à sua hegemonia. A ação da RDA demonstra que, em situações de conflito, a expansão do domínio se sobrepõe a qualquer consideração moral ou diplomática, oferecendo uma representação visual e narrativa da dinâmica de poder ofensiva descrita pelo autor (Mearsheimer, 2007). 

Por fim, a narrativa de Avatar transcende o entretenimento, funcionando como uma metáfora visual das disputas de poder que caracterizam o sistema internacional. Ao representar a lógica da maximização do poder em um contexto ficcional, o filme oferece ao campo das Relações Internacionais um recurso simbólico para refletir sobre práticas hegemônicas e dinâmicas de dominação que permanecem presentes na política global contemporânea, evidenciando como a busca pela hegemonia regional, a expansão do domínio e a neutralização de resistências se impõem sobre valores éticos, culturais e ambientais. 

REFERÊNCIAS  

ADOROCINEMA. Avatar. 2009. Disponível em: <https://www.adorocinema.com/filmes/filme-61282/>. Acesso em: 2 set. 2025. 

 CINEMA.COM. Avatar (2009) – Synopsis. 2009. Disponível em: <https://cinema.com/film/11056/avatar/synopsis.phtml?>. Acesso em: 2 set. 2025. 

MEARSHEIMER, John. “A Tragédia da Política das Grandes Potências”. Lisboa: Gradiva, 2007.   

MEARSHEIMER. John J. Mearsheimer. Disponível em: <http://mearsheimer.uchicago.edu/>. Acesso em: 2 set. 2025. 

NOGUEIRA, J. P; MESSARI, N. Teoria das relações internacionais: correntes e debates. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.