Alciane Carvalho Dias, acadêmica do 8º semestre de Relações Internacionais da UNAMA.

O Katseye consolida-se como fenômeno paradigmático na indústria musical contemporânea, personificando a complexidade das dinâmicas de soft power e globalização cultural. Formado mediante o reality show Dream Academy (2023), iniciativa conjunta da sul-coreana HYBE Corporation e da estadunidense Geffen Records, o grupo constitui-se por seis integrantes de procedências diversas: Sophia (Filipinas), Lara (EUA, com raízes indianas), Daniela (EUA, com ascendência latina), Manon (Suíça), Megan (Havaí, com patrimônio multicultural) e Yoonchae (Coreia do Sul). Sua estreia em junho de 2024 com o single “Debut” assinalou o início de uma trajetória que amalgama o modelo de produção do K-pop com aspirações globais, culminando no EP SIS (Soft Is Strong) (agosto de 2024) e no segundo EP Beautiful Chaos (junho de 2025) (KATSEYE, 2024; 2025).

A discografia do grupo reflete uma estratégia calculada de soft power. Seus primeiros singles, como “Touch” (julho de 2024), incorporaram elementos de R&B e drum and bass, alcançando viralidade no TikTok e posicionando-se nas paradas da Billboard (G1, 2025). Já “Gnarly” (abril de 2025), faixa hyperpop experimental, tornou-se seu primeiro ingresso na Billboard Hot 100, enquanto “Gabriela” (junho de 2025), com influências latinas e coautoria de Charli XCX, atingiu o top 50 global do Spotify (VOGUE, 2025). Essas produções não apenas demonstram versatilidade artística, mas também funcionam como veículos para a projeção de valores culturais híbridos, onde identidades coreanas, ocidentais e latinas se entrelaçam (BRYAN, 2023).

Um marco significativo nesta trajetória ocorreu durante o lançamento do aclamado single “Gabriela”, que representou uma notável fusão de influências latinas com o pop contemporâneo. A canção rapidamente alcançou o top 50 global do Spotify, consolidando a posição do grupo como força inovadora no cenário musical internacional (VOGUE, 2025). Esta produção musical destacou-se não apenas por sua qualidade artística, mas também por sua capacidade de celebrar a diversidade cultural através de letras que enfatizam a transcendência de fronteiras e a união entre diferentes tradições culturais. A elaborada campanha visual que acompanhou o lançamento incorporou elementos estéticos inspirados em tradições latino-americanas, reinterpretados através de uma perspectiva contemporânea e global, demonstrando a habilidade do grupo em honrar diversas heranças culturais enquanto desenvolve uma identidade artística única e cohesiva (BRYAN, 2023).

O soft power exercido pelo Katseye opera em múltiplas dimensões. Primeiro, na diplomacia corporativa: a parceria HYBE-Geffen ilustra como conglomerados culturais transcendem fronteiras nacionais, criando redes de interdependência que beneficiam tanto a Coreia do Sul, ampliando sua influência além do Leste Asiático quanto os EUA, que reforçam sua hegemonia cultural por meio de adaptações globais (NYE, 2004). Segundo, na construção de narrativas identitárias: o grupo promove uma imagem de diversidade e inclusão, como evidenciado pela representação de culturas marginalizadas e pela defesa de causas LGBTQIA+, com membros publicamente Queer (VOGUE, 2025). Terceiro, na economia criativa: colaborações com marcas como Fendi, Coach e Pandora transformam o grupo em embaixador de estéticas transnacionais, enquanto parcerias com astros como Ice Spice (remix de “Gnarly”) e Young Miko (remix de “Gabriela”) reforçam sua penetração em nichos musicais diversos (G1, 2025).

Esta abordagem permitiu que a HYBE e a Geffen Records posicionassem o Katseye como um verdadeiro embaixador cultural em mercados estratégicos, incluindo América Latina e Europa, ao mesmo tempo em que reforça a imagem da Coreia do Sul como nação pioneira na criação e disseminação de conteúdo cultural globalmente relevante. O sucesso de “Gabriela” representou um ponto culminante na estratégia de soft power cultural, ilustrando como produções artísticas contemporâneas podem servir como pontes entre diferentes culturas e mercados (NYE, 2004).

Em conclusão, o Katseye personifica a evolução do soft power no século XXI: um projeto onde cultura, economia e geopolítica se fundem. Sua discografia desde SIS (Soft Is Strong) até Beautiful Chaos, serve não apenas como entretenimento, mas como instrumento de reconfiguração de influência cultural global, desafiando hierarquias tradicionais e afirmando a capacidade de atores não-estatais na moldagem das relações internacionais (NYE, 2004; BRYAN, 2023). A recepção entusiástica do trabalho pelo público internacional e sua performance excepcional nas paradas musicais globais testemunham a eficácia desta abordagem e o crescente impacto do grupo no panorama musical internacional.

REFERÊNCIAS 

BRYAN, A. K-pop and Soft Power: Cultural Proliferation in the Digital Age. Seoul: Seoul Press, 2023.

G1. KATSEYE: quem é o ‘girl group global’ da empresa do BTS. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2025/08/11/katseye-quem-e-o-girl-group-global-da-empresa-do-bts-que-esta-subindo-nas-paradas.ghtml. Acesso em: 04 set. 2025.

KATSEYE. Beautiful Chaos. HYBE/Geffen Records, 2025.

KATSEYE. SIS (Soft Is Strong). HYBE/Geffen Records, 2024.

NYE, J. S. Soft Power: The Means to Success in World Politics. New York: PublicAffairs, 2004.

VOGUE. Quem é Katseye, o grupo que está redefinindo os limites do K-pop. 2025. Disponível em: https://vogue.globo.com/cultura/musica/noticia/2025/08/quem-e-katseye-o-grupo-que-esta-redefinindo-os-limites-do-k-pop.ghtml. Acesso em: 04 set. 2025.