Ana Gabriela Silva – Acadêmica do 4º semestre de Relações Internacionais da UNAMA

A Batalha de Aljubarrota teve um motivo muito comum para acontecer, disputa por sucessão. Em meados do século XIV, o rei de Portugal morre e seu filho Dom Fernando I assume seu lugar, trazendo benefícios para Portugal, por meio da fomentação da economia, melhorias sociais, mantendo o tesouro que seu pai lhe havia deixado. No entanto, tomou algumas decisões erradas durante seu reinado.

A desaprovação do povo com relação às atitudes do rei veio quando ele se casou com D. Leonor Teles, que já era casada com um dos seus vassalos, tornando a união ainda mais inconveniente, ela tinha um amante castelhano. Dom Fernando I e D. Leonor Teles, tiveram uma filha, D. Beatriz, o que acabou tornando-se um problema para a sucessão e os conflitos com o reino de Castela (DUARTE, 2025).

Outro erro, foi o casamento de D. Beatriz com o rei João I de Castela. A sucessão e a coroa de Portugal já estavam comprometidos, pois Castela poderia ter o controle de Portugal, mesmo que indiretamente e de forma não oficial, assim que o rei morresse. Quando a morte do rei se tornou uma realidade, ficou acordado que D. Leonor Teles seria a regente até que sua filha tivesse um filho e este completasse 14 anos, podendo assim assumir seu lugar no trono (ibidem).

Portugal havia entrado em crise com a morte do rei, que ficou conhecida como A crise de 1384-1385, onde revoltas aconteceram em todo o país contra a dominação de Castela, em meio a esses conflitos o Conde Andeiro, amante da Rainha regente morre em batalha (BRAGA, 2019).

Os mesteirais, que são ferreiros, padeiros, tecelões, etc., não aceitavam a dominação de Castela nem D. Leonor Teles, e juntamente com camponeses, servos e outros trabalhadores, pressionaram os mercadores e a nobreza a apoiarem Dom João I, também conhecido como Mestre de Avis, já que teriam muito a perder caso Castela ficasse com Portugal, e assim, o “elegeram” como “Regente e Defensor do Reino” (DUARTE, 2025).

Dom João I, era meio irmão de Dom Fernando I, ele não havia entrado na disputa pelo trono pois não era filho legítimo do rei, visto que, foi concebido fora do casamento. Como D. Beatriz era mulher e não poderia assumir o trono, esta posição ficou em aberto, contribuindo para que os mesteirais e o povo incentivassem Dom João I a lutar por essa posição (ibidem).

Com a guerra oficialmente declarada entre os dois, os portugueses se encaminham para a região de Aljubarrota, onde a disputa seria decidida. Do lado português, havia a aliança entre o Mestre de Avis e Nuno Álvares Pereira, uma figura muito importante para o desfecho dessa batalha, e de outro João I de Castela, com um exército bem maior que o de Portugal, entre franceses, castelhanos e portugueses aliados (ibidem).

Por conta da enorme diferença quantitativa entre os dois exércitos, parecia impossível a vitória de Portugal, apesar de também conter aliados vindos da Inglaterra, o número ainda era bem discrepante. Meses de viagem cansativa e uma peste que fez com que o contingente castelhano diminuísse consideravelmente, foi o que melhorou um pouco a disparidade entre os dois (BRAGA, 2019; DUARTE, 2025).

A região de Aljubarrota foi o lugar estratégico escolhido por Nuno Álvares para o combate com Castela, sendo a localidade onde eles teriam a melhor chance de vitória. Montaram um plano de contingência, com armadilhas e cercos, besteiros, arqueiros e infantaria estrategicamente posicionados, quando os castelhanos chegam, decidem que o melhor era atacar pelo Sul, acreditando que teriam ainda mais vantagem.  Contudo, o exército era muito grande e consequentemente lento, nesse tempo, deu para o exército português se reposicionar em direção ao sul (BRAGA, 2019).

Quando a batalha começou, a estratégia provou ser a melhor arma, a precisão dos ataques e as armadilhas foram o que fizeram a diferença. Os exércitos, assim como seus líderes não se pouparam de combates corpo a corpo. Houve muitas baixas dos dois lados, o número maior ficou com o lado de Castela que caíram nas armadilhas, enquanto a linha de defesa portuguesa continuava firme. A batalha só terminou quando os portugueses pegaram a bandeira de Castela, nesse momento os soldados pensaram que o rei havia morrido e começaram a fugir (ibidem).

Após a batalha, o exército vencedor ainda ficou por mais três dias em Aljubarrota para ter certeza de que nenhum ataque surpresa iria acontecer, o que era praticamente impossível considerando que João I de Castela, D. Beatriz e os sobreviventes do conflito, voltaram para Castela o mais rápido possível. Nas cortes de Coimbra a nova dinastia de Avis estava sendo iniciada e cada vez mais ganhava legitimidade (BRAGA, 2019; DUARTE, 2025).

Para Maquiavel um príncipe precisa ter fortuna e virtú, tanto para chegar como para se manter no poder (GEHRE, 2013, p. 6). Analisando o que aconteceu na batalha de Aljubarrota, Portugal teve fortuna e virtú. Quando a peste atingiu o exército castelhano no caminho, enfraquecendo e diminuindo o seu contingente, essa é a sorte das circunstâncias chamada por Maquiavel de fortuna.

Por outro lado, a virtú está em aproveitar as boas chances e oportunidades de vitória que o momento e o lugar oferecem, neste caso toda a estratégia usada para derrotar o exército de Castela e aquele momento decisivo ao pegar a bandeira, foi um forte exemplo de como usar o meio e as circunstâncias a seu favor (ibidem).

REFERÊNCIAS

BRAGA, Thiago. A Batalha de Aljubarrota | Batalhas Decisivas #1. YOUTUBE. 12 de dez. 2019. Disponível em <A Batalha de Aljubarrota | Batalhas Decisivas #1 – YouTube > Acesso em: 13 de set. 2025.

DUARTE, Luís Miguel. Vista do lado de cá: A batalha de Aljubarrota, desde o planeamento ao campo de batalha. National Geographic Portugal. 14 de ago. 2025. Disponível em <Vista do lado de cá: A batalha de Aljubarrota, desde o planeamento ao campo de batalha > Acesso em: 13 de set. 2025.

GEHRE, Thiago; ARRAES, Virgílio. Introdução ao Estudo das Relações Internacionais. 1ª edição. São Paulo: Saraiva, 2013.