
Ana Victória Padilha Carneiro – Acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais
A atual polarização política crescente no Sistema Internacional, corrobora para a crise global do modelo democrático hegemônico, evidenciando como a nova ordem mundial tem sido construída. Assim, se faz presente a necessidade de rever o funcionamento das instituições de poder no mundo, juntamente com os limites deste então modelo de organização e, também, na análise de como apenas regras formais não são o suficiente para garantir a sobrevivência e vigência plena das democracias.
Por conseguinte, por meio da utilização dos valores e ideais construtivistas, este presente artigo analisará os caminhos de superação dessa crise no regime democrático, destacando o caso da Finlândia como um exemplo de como normas democráticas, ativistas, sociais e cidadãs podem ser internalizadas e reproduzidas com sucesso para o fortalecimento de uma democracia.
O então Construtivismo Social, como apresentado por Alexander Wendt (1999), entende que o Sistema Internacional não é regido apenas por forças materiais, mas também por normas, ideias e narrativas globais que moldam o comportamento dos Estados. A democracia, nesse sentido, é uma norma internacional que orienta tanto a política externa quanto as instituições domésticas. Quando há enfraquecimento dessas normas, por exemplo, como a normalização da intolerância ou da concentração de poder, a ordem democrática entra em crise. Assim, superar esse cenário exige reforçar não apenas instituições formais, mas também valores democráticos plenamente compartilhados.
Nas últimas décadas, o número de países em processo de autocratização com retrocessos em liberdade de expressão e eleições limpas cresceu de forma alarmante no mundo todo em um curto período de tempo, tornando cerca de 40% da população mundial refém de governos autoritários e totalitários, segundo o que consta os dados do relatório da Economist Intelligence Unit de 2024.
Alguns países de grande destaque, no contexto estabelecido destas perspectivas, são, por exemplo, os casos de El Salvador, dos Estados Unidos e Mianmar, nas respectivas posições de 28° colocado, 95° colocado e 116° colocado, conforme demonstra o índice. Para além disso, o índice demonstra esta realidade em tantos outros países que, em menos de 8 anos, apresentaram uma queda brusca nos seus níveis de democracia e na preservação dos direitos humanos, se tornando alarmes internacionais dessa então crise generalizada da ordem democrática.
Em contrapartida, a Finlândia, a exemplo, aparece entre as democracias mais consolidadas do mundo, uma característica que é compartilhada pelos outros países de tradição escandinava, ocupando o 6º lugar no Global State of Democracy e recebendo nota 9,30 no Democracy Index da Economist (2025). A partir da lente construtivista, percebe-se que a consolidação democrática finlandesa não decorre apenas de instituições formais, mas sobretudo da internalização de normas e valores compartilhados por sua sociedade. Entre os pilares desse sucesso estão a educação cidadã, a resiliência contra a desinformação, a liberdade de imprensa e um Estado de bem-estar social consolidado.
Ao analisar esse contraste entre a Finlândia e os outros três países anteriormente citados, é possível notar que países em crise democrática sofrem com a fragilidade das normas sociais que sustentam a democracia, além da vulnerabilidade frente a ondas de desinformação. Nesse sentido, os autores Daniel Ziblatt e Steven Levitsky em seu livro: Como as Democracias Morrem (2018), destacaram o enfraquecimento das instituições políticas diante de campanhas massivas de desinformação, como o fenômeno contemporâneo das chamadas fake news.
Já o caso da Finlândia demonstra como a democracia pode se fortalecer quando valores democráticos são incorporados à identidade coletiva da sociedade. A combinação de políticas públicas inclusivas, transparência governamental e compromisso com a liberdade de expressão tem criado um ambiente de confiança entre Estado e cidadãos. Esse modelo sugere que os caminhos para a superação da crise global passam não apenas pelo fortalecimento institucional, mas também pela promoção de uma educação crítica e cidadã, pela transparência das políticas públicas e pela defesa intransigente de direitos humanos.
Em suma, a crise global da ordem democrática reflete tanto o esvaziamento de instituições formais quanto o enfraquecimento das normas sociais que sustentam a legitimidade da democracia. O Construtivismo contribui para compreender que valores e ideias compartilhadas são tão importantes quanto a estrutura institucional para a manutenção de regimes democráticos.
O exemplo da Finlândia demonstra que a consolidação democrática depende da internalização de normas de participação, transparência e cidadania ativa. Logo, para superar os desafios atuais, os Estados democráticos devem adotar políticas de educação transformadora, combater a corrupção, promover inclusão social e reforçar a democracia participativa, a fim de preservar a ordem vigente frente às ameaças autocráticas.
REFERÊNCIAS
EIU REPORT DEMOCRACY INDEX 2024. Economist Intelligent, 2025. Disponível em: < https://www.eiu.com/n/campaigns/democracy-index-2024/ >. Acesso em: 03 de Outubro de 2025.
WENDT, Alexander. Social Theory of International Politics. Primeira edição. Reino Unido: The Press Syndicate of the University of Cambridge, 1999.
ZIBLATT, Daniel; LEVITSKY, Steven. Como As Democracias Morrem. Primeira edição. Estados Unidos: Zahar, 18 de Janeiro de 2018.
