
Julia Castro, acadêmica do 8º semestre de Relações Internacionais
Ficha Técnica:
Ano: 2007
Diretor: Simon J. Smith, Steve Hickner
Distribuição: Paramount Pictures
Gênero: Comédia
País de Origem: Estados Unidos
Produzida pela Dreamworks, a animação “Bee Movie” acompanha uma abelha que se rebela contra a vida monótona de sua colmeia e descobre que os humanos exploram o mel produzido pelas abelhas. Indignado, ele decide processar a humanidade, mas suas ações acabam afetando o equilíbrio da natureza (ADOROCINEMA, 2025). Assim sendo, de forma leve e divertida, o filme explora a importância das abelhas para o ecossistema.
A trama inicia com Barry B. Benson, uma abelha recém-formada na universidade, descobrindo que passará o resto da vida exercendo o mesmo trabalho dentro da colmeia: produzir mel. Insatisfeito com a ideia de viver no modo automático e sem propósito, Barry decide sair para o mundo exterior. Durante sua aventura, ele conhece Vanessa, uma florista humana que o salva de uma situação perigosa.
A partir dessa amizade improvável, Barry descobre que os humanos exploram o trabalho das abelhas e consomem o mel produzido por elas. Revoltado com a injustiça, ele decide processar a humanidade, exigindo que os humanos devolvam todo o mel às abelhas. Contudo, o resultado gera um efeito colateral inesperado e Barry percebe a importância da cooperação entre humanos e abelhas.
O longa-metragem se relaciona com a teoria marxista das Relações Internacionais por expor as desigualdades e a exploração do trabalho dentro de um sistema produtivo. A colmeia funciona como uma metáfora do capitalismo, onde as abelhas operárias realizam tarefas repetitivas sem questionar sua função, enquanto poucos se beneficiam do produto coletivo. Barry questiona essa lógica, representando a consciência de classe emergente que desafia o sistema produtivo totalizante.
Para Marx e Engels (MARX & ENGELS, 1998), a história avança a partir da organização econômica das sociedades. A base dessa organização, chamada infraestrutura é formada pelas forças produtivas (tecnologias e ferramentas) e pelas relações de produção (onde se dividem os meios de produção). A partir dessa base material, se forma a superestrutura, que inclui a política, o direito, a cultura, a religião, a moral e as ideologias. Ou seja, as ideias, valores e instituições de uma sociedade servem para manter o modo de produção existente. No plano das Relações Internacionais, a perspectiva marxista enxerga o sistema global como uma extensão dessas mesmas relações de exploração, só que em escala mundial (SARFATI, 2005).
Nas relações estatais, o conceito marxista de conflito de classes explora a divisão internacional do trabalho como fator primordial de diferenças entre os Estados periféricos e os centrais, em um sistema no qual as relações entre centro e periferia tendem a se reproduzir tanto quanto as relações entre burgueses e proletários dentro de um Estado (SARFATI, 2005). Assim como as abelhas produzem e os humanos se beneficiam, o Sul Global produz riquezas e matérias-primas que são apropriadas pelo Norte Global, perpetuando um sistema desigual. Logo, essa estrutura reflete com clareza a divisão social do trabalho e a alienação.
Nesse contexto, a denúncia de Barry contra a exploração humana do mel pode ser interpretada como uma metáfora das relações desiguais de exploração e acumulação no sistema internacional capitalista. O mel, nesse sentido, representa a riqueza produzida coletivamente, mas apropriada por poucos, sendo uma clara alusão ao conceito marxista de mais-valia.
Entretanto, o desfecho do filme também revela uma contradição: ao vencer o processo e interromper a produção de mel, as abelhas entram em um estado de inatividade total. Elas param de coletar néctar e de polinizar as flores, o que leva rapidamente a um colapso ecológico. A narrativa acaba sugerindo que o equilíbrio depende do funcionamento contínuo do sistema, o que enfraquece o potencial revolucionário inicial da trama. Nessa perspectiva, o sistema é questionado, mas não superado.
Em síntese, a obra cinematográfica é mais do que uma simples animação sobre abelhas, sendo uma alegoria sobre consumo e equilíbrio ambiental, envolta em uma estética leve e espirituosa. Sua crítica à exploração do trabalho e ao egoísmo humano o torna um filme interessante, ainda que, ao final, acabe reafirmando a necessidade de convivência dentro do próprio sistema que inicialmente denuncia.
REFERÊNCIAS:
ADOROCINEMA. Bee Movie: A História De Uma Abelha. 2025. Disponível em: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-55413/
MARX, K.; ENGELS, F. A Ideologia Alemã. Tradução: Luis Claudio de Castro e Costa. São Paulo: WMF Martins Fontes, 1998.
SARFATI, Gilberto. Teorias de Relações Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2005.
