
Maysa Lisboa , 8º semestre de Relações Internacionais
Maria Gadú se tornou uma das vozes mais potentes da música brasileira contemporânea. Cantora, compositora e violonista de Música Popular Brasileira (MPB), sua influência transcende o campo musical, funcionando como uma forma de diplomacia simbólica (MEGAELMUSIC, 2012). Sua trajetória evidencia um engajamento político que ultrapassa as estruturas estatais convencionais, próximas da lógica construtivista das Relações Internacionais, o que confirma a ideia de que a política mundial é socialmente construída, resultado de interações, identidades e normas compartilhadas (WENDT, 1999).
Maria Gadú, nome artístico de Mayra Corrêa Aygadoux, nasceu em São Paulo, em 1986. Desde cedo, demonstrou interesse pela música e composição, destacando-se rapidamente na cena musical brasileira. Seu álbum de estreia, Maria Gadú (2009), inclui canções como “Shimbalaiê”, sua primeira composição feita aos 10 anos, que foi incluída na trilha sonora da novela “Viver a Vida” da TV Globo, projetando-a internacionalmente. A partir desse momento, Gadú começou a incorporar em suas obras temas ligados à identidade, espiritualidade, ancestralidade e pertencimento coletivo (MARIAGADUU, 2025).
Nos últimos anos, seu envolvimento em causas socioambientais tem se intensificado, especialmente no contexto da crise climática e das políticas públicas para a Amazônia. Gadú tem participado de projetos focados em sustentabilidade e na defesa de comunidades indígenas, utilizando sua arte para fortalecer uma consciência planetária e ressaltando a interdependência entre cultura, meio ambiente e direitos dos povos originários (ONU NEWS, 2022). Ela destaca que a proteção das terras indígenas é essencial para combater as mudanças climáticas e garantir a justiça socioambiental (INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL, 2023).
Além disso, enquanto mulher lésbica e artista politicamente engajada, Gadú questiona estruturas normativas de gênero e sexualidade, defendendo espaços culturais e políticos mais inclusivos. O papel protagonizado por Gadú enquanto uma atora no cenário global de grande importância se evidencia na influência que exerce em debates globais por meio da construção simbólica de novos imaginários sociais (BRASIL DE FATO, 2022).
Com sua visibilidade, amplia discursos sobre direitos humanos, justiça ambiental, diversidade e decolonialidade cultural, convertendo a arte em instrumento político que reconfigura a percepção do Brasil e da América Latina no cenário internacional. Ela se apresenta como agente cultural e produtora de sentido na construção social da realidade internacional (BRASIL DE FATO, 2022).
As composições e discursos públicos de Maria Gadú — especialmente em defesa da Amazônia e dos povos originários — evidenciam que a política internacional transcende o âmbito dos diplomatas e dos Estados, envolvendo artistas e movimentos sociais que promovem uma redefinição de normas e identidades coletivas. Assim, Gadú contribui para uma diplomacia simbólica na qual a música se torna ferramenta para diálogo intercultural e transformação social (MEGAELMUSIC, 2012).
Segundo Alexander Wendt (1999), Maria Gadú exemplifica o princípio de que as realidades internacionais são socialmente construídas. Sua música e presença pública moldam percepções, desafiam normas de identidade e produzem novos significados sobre a América Latina, sobre o ser amazônico e sobre a brasilidade no mundo contemporâneo. Maria Gadí atua, desta forma, como um agente normativo que influencia a dinâmica global das identidades coletivas e dos valores sociais.
Contudo, ao articular tais questões com a análise da feminista Lélia Gonzalez, entende-se que essa construção simbólica carrega marcas profundas de racismo, colonialismo e patriarcado que estruturam as relações de poder globais. Gadú atua em um movimento de excursão simbólica, buscando descolonizar as formas de representar o Brasil e o Sul Global. Gonzalez (1988) conceitua essa perspectiva como “amefricanidade”, um espaço onde vozes subalternizadas ganham centralidade. A combinação entre arte e ativismo posiciona Maria Gadú numa epistemologia de resistência, sendo ela uma agente cultural que cria, canta e denuncia, funcionando como vetor de transformação política e cultural.
Portanto, a trajetória do artista comprova que a política internacional não se limita a acordos e cúpulas, mas é construída também por atores artísticos que projetam, pela linguagem da arte, novos mundos possíveis, esses aos quais são identidade, afeto e cultura detém tanto poder quanto às instituições oficiais.
REFERÊNCIAS
BRASIL DE FATO. Conhecimentos e descobertas: Val Munduruku e Maria Gadú são unem em série de vídeos na Amazônia. 17 conjunto. 2022. Disponível em:https://www.brasildefato.com.br/podcast/mosaico-cultural/2022/09/17/conhecimentos-e-descobertas-val-mundukuru-e-maria-gadu-se-unem-em-serie-de-videos-na-amazonia/. Acesso em: 08 out. 2025.
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Maria Gadú visita tribos indígenas no interior do Maranhão. 2023. Disponível em:https://www.pib.socioambiental.org/es/Not%C3%ADcias?id=187102. Acesso em: 08 out. 2025.
MARIAGADUU. Biografia de Maria Gadú. 2025. Disponível em: https://mariagaduu.webnode.com.br/mensagens/biografia- . Acesso em: 08 out. 2025.
MEGAELMÚSICA. Bibliografia de Maria Gadú. 2012. Disponível em:https://megaelmusic.blogspot.com/2012/03/bibliografia-de-maria-gadu.html . Acesso em: 08 out. 2025.
NOTÍCIAS DA ONU. Cantora Maria Gadú fala sobre trabalho na área socioambiental e direitos humanos. 30 maio 2022. Disponível em:https://news.un.org/pt/interview/2022/05/1790492 . Acesso em: 08 out. 2025.
Veja. “O meu sucesso, para mim, foi um grande susto”, diz Maria Gadú. 19 fora. 2023. Disponível em: https://vejasp.abril.com.br/cultura-lazer/maria-gadu-amarelinhas/ . Acesso em: 08 out. 2025.
WENDT, Alexander. Teoria Social da Política Internacional. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.
GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. Tempo Brasileiro, n. 92/93, Rio de Janeiro, 1988.
