Caio Farias Martins – 6° Semestre

Marcelo Eduardo Alves de Brito – 6° Semestre

Em meio às profundas transformações ambientais e econômicas do século XXI, a Amazônia desponta como um dos espaços mais simbólicos e estratégicos para repensar as relações entre desenvolvimento e sustentabilidade. A crescente crise ecológica, marcada pela escassez de recursos e pela degradação dos ecossistemas, exige novas formas de produzir, consumir e coexistir com a natureza.
Nesse cenário, a economia circular surge como uma proposta capaz de reconciliar progresso e preservação, convertendo o que antes era visto como resíduo em oportunidade e inovação. Mais do que uma mudança de modelo produtivo, trata-se de uma nova forma de compreender o papel da região amazônica no mundo, não apenas como fornecedora de
matérias-primas, mas como protagonista de uma transformação global rumo a um futuro mais equilibrado, ético e sustentável.

Funcionamento da Economia Circular

Fonte: GBC BRASIL (Green Building Council), 2019.

O gráfico acima representa o funcionamento da economia circular e uma alternativa a implantação desse modelo no contexto amazônico, modelo propõe a substituição da lógica linear de produção baseada em “extrair, produzir e descartar” por um sistema regenerativo, no qual os recursos são continuamente reaproveitados. Contudo, esse modelo deve ser ajustado às complexidades presentes no contexto amazônico com maior participação da sociedade civil, especialmente das populações locais mais vulneráveis e que dependem da região para sobreviver.

Desta forma, a economia circular na Amazônia representa uma alternativa concreta ao modelo linear de produção, baseado na extração e descarte. Por meio da reutilização de recursos, inovação tecnológica e redução de resíduos, busca-se construir um sistema produtivo mais sustentável. A região amazônica, detentora de vasta biodiversidade, apresenta potencial singular para o desenvolvimento de cadeias produtivas sustentáveis, como a bioeconomia, a farmacologia natural e os biocosméticos.

Contudo, para que esse potencial se concretize, é indispensável investimento em pesquisa, infraestrutura e políticas públicas integradas (BRESSAN, 2022). Os desafios que impedem a implementação plena da economia circular na Amazônia estão ligados à carência de infraestrutura logística, ao baixo investimento público e privado e à ausência de uma governança regional efetiva.

Nesse sentido, a articulação entre Estado, universidades e comunidades locais é fundamental para transformar o conhecimento científico e tradicional em práticas produtivas sustentáveis (COSTA, 2021).

Sob a ótica das Relações Internacionais, a economia circular na Amazônia pode ser analisada à luz da Teoria do Sistema-Mundo, de Immanuel Wallerstein. Segundo essa perspectiva, a economia global é estruturada de forma hierárquica, em que os países centrais concentram tecnologia e capital, enquanto as regiões periféricas, como a Amazônia, permanecem dependentes pela exportação de matérias-primas de baixo valor agregado.

Logo, a falta de políticas públicas integradas, de incentivos à inovação tecnológica e de mecanismos que garantam a repartição justa dos benefícios gerados pelos recursos locais reforça essa dependência. Assim, a economia circular se apresenta como um caminho para redefinir o papel da região no sistema internacional ao incentivar a produção local, agregar valor aos recursos amazônicos e promover uma transição econômica baseada na equidade, na cooperação e na sustentabilidade (LOUREIRO, 2023).

Nesse contexto, a economia circular representa uma oportunidade de romper parcialmente com essa lógica, ao estimular a industrialização sustentável, a inovação local e a geração de valor dentro da própria região (WALLERSTEIN, 1974).

Dessa forma, a economia circular se consolida não apenas como um modelo econômico, mas como um projeto político e ético de integração global. Ao transformar resíduos em recursos e promover inclusão social, ela redefine o papel da Amazônia no sistema internacional de fornecedora de matérias-primas a protagonista na transição para uma economia sustentável. Assim, o fortalecimento da circularidade amazônica representa uma oportunidade de cooperação internacional genuína, baseada na responsabilidade compartilhada e na preservação da vida (SILVA, 2023).

Portanto, a discussão sobre a economia circular na Amazônia ultrapassa o campo meramente econômico, inserindo-se em um debate mais amplo sobre soberania, sustentabilidade e justiça socioambiental. Com isso, a região, historicamente posicionada à margem dos processos de industrialização e inovação tecnológica, enfrenta o desafio de transformar sua dependência estrutural em autonomia produtiva e científica. Nesse sentido, a economia circular desponta como um instrumento estratégico para reconfigurar as dinâmicas econômicas locais, promovendo o uso racional dos recursos naturais, o fortalecimento das cadeias produtivas regionais e a valorização dos conhecimentos tradicionais.

Por isso, é essencial fomentar a integração entre Estado, setor produtivo e sociedade civil, esse modelo propõe não apenas a redução de impactos ambientais, mas também a construção de um desenvolvimento endógeno e inclusivo. Assim, a circularidade amazônica deve ser compreendida como parte de um projeto político de inserção soberana da região no sistema internacional, consolidando a Amazônia como agente ativo na transição para uma economia global sustentável e equitativa.

Referências:

BRESSAN, M.; SOUZA, P. Economia circular e sustentabilidade na Amazônia: perspectivas e desafios. Revista Brasileira de Desenvolvimento Regional, v. 10, n. 2, p. 45–62, 2022.

COSTA, L.; ALMEIDA, F. Bioeconomia e inovação sustentável na Amazônia. Belém: Editora da UFPA, 2021.

GBC BRASIL. Economia circular. São Paulo. 2019. Disponível em: https://www.gbcbrasil.org.br/economia-circular/. Acesso em: 27 out. 2025.

LOUREIRO, Violeta. Caminhos e descaminhos da Amazônia: em busca do desenvolvimento. 1. ed. Belém: Editora da Universidade Federal do Pará, 2023.

SILVA, R. A Amazônia e a transição para uma economia circular global. Revista de Relações Internacionais e Meio Ambiente, v. 5, n. 1, p. 77–91, 2023.

WALLERSTEIN, I. The Modern World-System: Capitalist Agriculture and the Origins of the European World-Economy in the Sixteenth Century. New York: Academic Press, 1974.