
Marcela Martins, acadêmica do 2° semestre, e Pedro Paes, acadêmico do 6º semestre de Relações Internacionais da UNAMA.
Ayakha Melithafa é uma ativista ambiental e climática sul-africana, nascida na província do Cabo Ocidental. Filha de uma agricultora, cresceu vivenciando de perto as dificuldades do campo, especialmente durante a seca severa que atingiu a região entre 2017 e 2018. Neste período, a falta de água nas barragens deixou os agricultores locais em uma situação crítica, tanto de fome quanto financeira (Children vs Climate Crisis, s.d.).
A ativista relata que as pessoas da região foram obrigadas a viver com apenas 50 litros de água por dia e que surgiram doenças causadas pela água poluída. Melithafa pontua que a raiva diante da situação instalada ao seu redor a levou a investigar as ações e os motivos que estavam causando aquela seca. Logo percebeu que os líderes estavam falhando com a população, decidindo assim ser uma pessoa mais ativa e participativa dentro dos espaços que serviriam de voz para sua luta. Mas, logo no início, o contato com as notícias sobre a situação climática a desmotivou (NewInt, 2023).
Seu primeiro projeto com foco no clima foi em sua escola, cujo nome é “90 até 2030”, que busca formas de diminuir as emissões de carbono até 2030. Este projeto trouxe motivação para Ayakha, pois lhe mostrou os problemas e, em contrapartida, apontou soluções. A partir deste momento, sua voz começou a ecoar através das rádios e entrevistas em jornais, além disso, ela buscou meios de conscientizar sua comunidade para se atentar às mudanças climáticas e se envolver para cooperar com o meio ambiente (NewInt, 2023).
Posteriormente, integrou a African Climate Alliance, responsável pelo protesto climático na Cidade do Cabo. Em 2019, ela e mais 15 peticionários adolescentes, incluindo Greta Thunberg, apresentaram uma queixa ao Comitê das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança em relação à crise climática.
Quatro anos depois, estava desenvolvendo um programa de conscientização nas escolas sul-africanas, pois a taxa de alfabetização e de consciência climática é baixa. Melithafa foi nomeada pela ministra da Educação, Debbie Schaefer, como integrante do Conselho de Educação do Cabo Ocidental. Aos 19 anos, foi comissionada como parte da Comissão Presidencial do Clima, tornando-se assim a comissária mais jovem (NewInt, 2023).
Atualmente, ela estuda no Centro de Ciência e Tecnologia em Khayelitsha e segue defendendo a participação e a inclusão de vozes dentro do ativismo climático. Usa sua voz e imagem para alcançar o público para além do público jovem. Segundo a Ayakha Melithafa:
“É muito importante que os pobres e as pessoas de cor participem desses protestos e marchas, porque são os que mais sentem a ira das mudanças climáticas. É importante que eles tenham uma palavra a dizer, que sua voz e suas demandas sejam ouvidas.” (GGH, s.d.).
Sua influência pode ser vista sob a perspectiva construtivista nas Relações Internacionais, principalmente pelas ideias de Alexander Wendt. Para Wendt (1999), “a anarquia é o que os estados fazem dela”, indicando que o cenário internacional não possui um sentido imutável, sendo influenciado pelas trocas sociais e pelas noções partilhadas entre os participantes.
Ayakha, mesmo não sendo um Estado, age desafiando padrões existentes ao introduzir novas histórias no diálogo climático mundial. Sua experiência de vida e sua reação ativa à crise da água mostram que identidades e interesses são construções sociais, não dados predefinidos (Wendt, 1999).
Além disso, Wendt (1999) defende que os agentes internacionais são influenciados por padrões, convicções e costumes que se desenvolvem através das interações. Ayakha desenvolve sua identidade de ativista a partir de sua realidade local, levando-a para ambientes globais, como no abaixo-assinado na ONU com Greta Thunberg.
Ela não só internaliza padrões internacionais de justiça climática, mas também ajuda a remodelá-los ao dar voz a grupos marginalizados, como comunidades carentes e racializadas. Isto ilustra a função ativa dos agentes na transformação das estruturas normativas do sistema internacional.
Finalmente, a jornada de Ayakha fortalece a ideia chave do construtivismo de que o mundo internacional é uma construção social. Ao ocupar lugares institucionais como a Comissão Presidencial do Clima e ao promover a educação ambiental, ela impacta diretamente a criação de novos padrões e costumes.
Como Wendt (1999) sugere, os objetivos dos participantes não são imutáveis, mas influenciados por ideias e interações e Ayakha é uma demonstração de como indivíduos podem reconfigurar o campo das Relações Internacionais através da ação conjunta, da formação de identidade e da propagação de novos significados sobre a justiça climática.
Referências:
CHILDREN VS CLIMATE CRISIS. Children vs Climate Crisis. Disponível em: https://childrenvsclimatecrisis.org/. Acesso em:02 de Out. 25
NEW INTERNATIONALIST. A entrevista: Ayakha Melithafa| Novo Internacionalista. Disponível em: https://newint.org/features/2023/02/20/interview-ayakha-melithafa. Acesso em: 02 de Out. 2025
AMWA. Ayakha Melithafa | Alina Mama wa Afrika. Disponível em:https://akinamamawaafrika.org/ayakha-melithafa/. Acesso em: 02 de Out. 2025.
GOLDEN GLOBE HONORS. Ayakha Melithafa – Fundação de Honras do Globo de Ouro. Disponível em:https://www.goldenglobehonors.com/ayakha-melithafa/. Acesso em: 02 de Out. 2025.
WENDT, Alexander. Social theory of international politics. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.
