Pedro Henrique de Aviz – Internacionalista formado pela UNAMA

Ao decorrer dos anos, os meios de comunicação existentes na sociedade sofreram diversas evoluções tecnológicas, sobretudo na entrega das informações, mensagens que antes demoravam semanas ou até meses para serem recebidas, hoje chegam de forma imediata. Esse imediatismo das grandes redes de informações promoveu mudanças em várias esferas da sociedade, ressignificando a cidadania e o meio informacional global.

Com sua grande presença global, a mídia tornou-se um importante ator internacional, influenciando diretamente a decisão de grandes líderes de Estado dentro das dinâmicas globais. A partir disso, conforme Giacomini Filho et al. (2011), a mídia é capaz de formar ideias, percepções e opiniões na sociedade acerca de diversos assuntos e, a partir disso, unir determinados grupos e organizações dentro da rede informacional internacional, permitindo uma melhor comunicação entre eles.

A partir deste pressuposto, o ativismo digital surge como uma nova vertente desse campo, sendo influenciado diretamente pelas tecnologias de comunicação e mídia na articulação de movimentos e projetos políticos dessas entidades. A coordenação de atividades, através do imediatismo das informações, gera uma transparência muito maior com a comunidade, aumentando a credibilidade, a divulgação e a confiança das ações feitas por entidades (Picon, 2014).

Desta forma, o ativismo nas vertentes ambiental e social ganharam destaque no meio informacional e vem mobilizando diversas ações em áreas ambientais vulneráveis, reforçando o importante papel das mídias na preservação da biodiversidade e da cultura da região. Esse fator, bastante sublinhado por Picon (2014), também evidencia a evolução que o ativismo teve ao decorrer da história, que iniciou no século XIX na Europa com grupos pontuais de defesa do meio ambiente e hoje tem presença internacional, fortalecendo a cidadania da sociedade civil global.

Sendo assim, o ativismo digital na Amazônia tem se tornado bastante presente nos veículos de comunicação, intermediando não só mobilizações em prol da preservação da floresta e da identidade dos povos que ali vivem, mas também desmistificando o imaginário de lugar “perigoso” e “místico” que a Amazônia possui na esfera nacional e internacional.

As novas formas de comunicação democratizaram a participação da sociedade civil para a criação de medidas e mobilizações políticas, possibilitando que o ativismo digital não se restringe somente a organizações, ele pode ser feito por jornalistas, indígenas, mídia comunitária, entre outros. Conforme Franco et al. (2020), toda essa diversidade contribui para a pluralidade de falas, cultura e opiniões em assuntos governamentais e, consequentemente, em medidas efetivas que realmente reflitam a necessidade da região.

Desse modo, o ativismo digital na Amazônia ressalta o protagonismo indígena nas ações voltadas para a floresta. Um texto publicado pela Tucum (2025), afirma que no mundo interconectado o arco é o smartphone e a internet a flecha e, através de comunicadores indígenas, é possível garantir o direito e cidadania dos povos da floresta utilizando hashtags, campanhas online e outras ferramentas digitais.           

A força do ativismo digital se intensifica em período de intensas crises na Amazônia (Pontes, 2019), por exemplo, no período em que as queimadas na floresta se intensificaram em 2019, houve um aumento exponencial nas redes sociais da hashtag #Prayforamazon (Orem pela Amazônia), o alcance do engajamento ultrapassou as fronteiras terrestres e até mesmo personalidades internacionais, como Leonardo DiCaprio, apoiaram a hashtag. 

Diante deste cenário, Pablo Ortellado, professor da Universidade de São Paulo (USP) fez a seguinte declaração: “Desde 2013, temos visto um nível de engajamento muito alto. É como se o ativismo digital estivesse dando linha na sociedade, influenciando e mobilizando”, o pensamento do professor juntamente com o cenário alarmante de 2019 corroboram para a importância e presença do ativismo digital atualmente, segundo Pontes (2019). 

A partir desse aspecto, a comunicação na Amazônia passa a ser uma ferramenta de mobilização política, social e identitária, rompendo com ideias coloniais de homogeneidade e simplificação. Monteiro e Colferai (2011) afirmam que os pilares de sustentação da comunicação na Amazônia são a cultura e a floresta, esses dois elementos de alta complexidade são fundamentais para entender a região como um todo e, a partir disso, conscientizar a sociedade acerca das singularidades amazônidas.

As políticas identitárias e ambientais promovidas pelos ativistas ambientais digitais são, de acordo com a ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara, a nova estratégia para garantia de direitos dos povos da floresta. Em uma de suas entrevistas, ela afirmou: “Nós vamos continuar lutando para demarcar nossas terras, mas nós vamos também demarcar as telas, as redes sociais (…) nosso povo vai estar presente em todas as redes” (The Conversation, 2024).

É importante analisar que a grande parte do público engajado com o ativismo digital é jovem, essas pessoas as mídias de informação atuam como agentes intermediadores responsáveis por convergir ideias e mobilizações de quase 80% da população jovem brasileira. Esses dados (The Conversation, 2025), juntamente com a presença digital juvenil acompanhada da hashtag #juventudepeloclima, demonstram o comprometimento da juventude brasileira para atuarem como protagonistas de uma nova realidade.

Entretanto, até mesmo a atuação positiva do ativismo digital enfrenta dificuldades em sua implementação, pois dependem diretamente da estabilidade de veículos de comunicação funcionais difundidos pela localidade para facilitar o escoamento de informações e a produção de conteúdo para as redes sociais.

Desse modo, a Amazônia passa por profundas instabilidades internas que dificultam o fluxo de informações e a eficiência do ativismo digital na região. Essas deficiências estruturais históricas da região amazônica, considerada como a periferia da periferia (Baster; Tavares, 2023), resultam na exclusão dos povos da floresta e corroboram para a falta de representatividade dos mesmos nas grandes mídias informacionais, sem qualquer tipo de voz ou participação na formulação das políticas públicas.

Além disso, devido à facilidade de produzir e divulgar materiais dentro das mídias informativas, o ativismo digital vem acompanhado de diversos problemas que podem causar efeito negativo na região, como a desinformação e a eco ansiedade. Com a COP 30, a região amazônica passou a ter os holofotes nas redes sociais e, apesar do engajamento e visibilidade, o excesso desses elementos prejudica a região devido à pressão exercida no meio digital.

Essa exaustão midiática acompanhada da superexposição promovida pelas redes sociais e dos desafios estruturais da Amazônia, acaba substituindo a narrativa principal de valorizar e proteger a floresta por pautas vazias, movidas apenas por curtidas e engajamento nas redes sociais. Assim, é importante utilizar as ferramentas midiáticas de forma responsável para que possam criar conexões reais entre a sociedade e o campo socioambiental da Amazônia, conforme o The Conversation (2025).

Para isso, existem diversas redes de ativistas digitais pelas mídias que propõem reflexões e ações para garantir a representatividade indígena e o fim dos estereótipos ainda presentes nas redes sociais acerca da Amazônia. Dentre eles, é possível destacar o Coletivo Mairi (@coletivomairi) e o Engajamundo (@engajamundo), ambos se destacam pelas críticas aos algoritmos de plataformas midiáticas que reproduzem estereótipos amazônicos e contradições governamentais acerca da preservação da floresta (The Conversation, 2025).

Assim, fica claro que o avanço comunicacional possibilita novos caminhos para a preservação da floresta amazônica e dos povos que ali vivem, além de possibilitarem uma nova geração de ativistas, sobretudo amazônidas, para tomar a frente de medidas políticas socioambientais para a preservação da região. Entretanto, o imediatismo também traz consequências negativas, portanto a checagem de informações e pautas a serem divulgadas são cruciais para evitar a desinformação e a exaustão na mídia.

Tendo em vista o tema trabalhado, recomenda-se o trabalho da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), uma organização que busca fortalecer a união dos povos indígenas no Brasil através de mobilizações sociais e articulação de atividades em níveis nacionais. A organização se faz presente em diversas plataformas digitais para divulgar notícias e trabalhos no território brasileiro.

Site:<https://apiboficial.org/sobre/>

Instagram: <https://www.instagram.com/apiboficial/

Além disso, também se sugere a leitura do capítulo “Imprensa paraense: um pouco da história da mídia na Amazônia” da obra “História, Comunicação, Biodiversidade na Amazônia” que aborda o processo histórico da mídia na Amazônia e a complexidade do campo da comunicação na região. O texto, escrito pelos pesquisadores Netilia Silva dos Anjos Seixas, Vanessa Brasil de Carvalho e Phillippe Sendas de Paula Fernandes, está disponível no link abaixo.

Texto:<https://livroaberto.ufpa.br/server/api/core/bitstreams/1bac75f6-68a5-4672-887e-6d4e4fc82099/content>

Por fim, destaca-se o Coletivo Indígena Mairi, do Pará, uma rede de ativismo digital ambiental que protagoniza as mulheres de Belém no campo da justiça climática. O grupo divulga diversas atividades, oficinas, notícias, fóruns e reúne cartas e documentos que debatem as mudanças climáticas na Amazônia.

Instagram: <https://www.instagram.com/redejandyras/>

REFERÊNCIAS

BASTER, Raquel; TAVARES, Viviane. Desinformação, desertos de notícias e os impactos na Amazônia. Diplomatique Brasil. 2023. Disponível em: https://diplomatique.org.br/desinformacao-desertos-de-noticias-e-os-impactos-na-amazonia/. Acesso em: 24/10/2025.

FRANCO, Thiago Cardoso; DI FELICE, Massimo; PEREIRA, Eliete da Silva. O net-ativismo indígena na Amazônia, em contextos pandêmicos. Estudos em Comunicação, v. 31, p. 109-132, 2020. Disponível em: https://acervo.socioambiental.org/sites/default/files/documents/g2d00076.pdf. Acesso em: 24 out. 2025.

GIACOMINI FILHO, Gino; GOULART, Elias. Amazônia: comunicação no contexto da websfera. In: Comunicação midiatizada na e da Amazônia. Belém: FADESP/UFPA, 2011. v. 2. Disponível em: https://www.ppgccom.ufam.edu.br/attachments/article/418/Comunicação%20Midiatizada%20na%20e%20da%20Amazônia.pdf. Acesso em: 24 out. 2025.

PICON, Leila Cassia. Ciberativismo e a questão ambiental: o exercício da cidadania em rede. Revista Direitos Emergentes na Sociedade Global (REDESG), Universidade Federal de Santa Maria, v. 3, n. 1, p. 1–15, 2014. DOI: 10.5902/2316305413684. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/redesg/article/view/13684. Acesso em: 24 out. 2025.

PONTES, Nádia. O peso do ativismo digital em defesa da Amazônia. Deutsche Welle – DW-Brasil, 2019. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/o-peso-do-ativismo-digital-em-defesa-da-amaz%C3%B4nia/a-50137293 . Acesso em: 24 out. 2025.

MONTEIRO, Gilson Vieira; COLFERAI, Sandro Adalberto. Por uma pesquisa amazônida em Comunicação: provocações para novos olhares. In: Comunicação midiatizada na e da Amazônia. Belém: FADESP/UFPA, 2011. v. 2. Disponível em: https://www.ppgccom.ufam.edu.br/attachments/article/418/Comunicação%20Midiatizada%20na%20e%20da%20Amazônia.pdf.&nbsp; Acesso em: 24 out. 2025.

THE CONVERSATION. Nos desafios da luta pelo clima na Amazônia, jovens ativistas transitam entre a ansiedade e a exaustão. The Conversation Brasil, 2025. Disponível em: https://theconversation.com/nos-desafios-da-luta-pelo-clima-na-amazonia-jovens-ativistas-transitam-entre-a-ansiedade-e-a-exaustao-262928. Acesso em: 24 out. 2025.

THE CONVERSATION. Redes sociais e tecnologia digital impulsionam ativismo de mulheres indígenas na defesa dos povos originários. The Conversation Brasil, 2024. Disponível em: https://theconversation.com/redes-sociais-e-tecnologia-digital-impulsionam-ativismo-de-mulheres-indigenas-na-defesa-dos-povos-originarios-220841. Acesso em: 24 out. 2025.

TUCUM. Comunicadores indígenas e as redes sociais como flechas. Tucum Brasil Blog, 2025. Disponível em: https://tucumbrasil.com/blogs/lutas-indigenas/comunicadores-indigenas-e-as-redes-sociais-como-flechas?srsltid=AfmBOorsh3x1u46sjme-q8zQEZq48n6_HUzoPYc-F4mWhqzX_RnhrtwY. Acesso em: 25 out. 2025