Maria Eduarda Perdigão, acadêmica do 2° semestre de Relações Internacionais da Unama.

Thaís Carvalho, acadêmica do 8° semestre de Relações Internacionais da Unama.

Ficha Técnica:

Ano: 2008

Gênero: Fantasia

Diretor: Hayao Miyazaki

Distribuição: Toho

País de Origem: Japão

“Ponyo: Uma Amizade que veio do Mar” (2008), filme dirigido pelo renomado diretor japonês Hayao Miyazaki e produzido pelo Studio Ghibli, aborda temas como responsabilidade ambiental, fantasia e amizade. Com um universo narrativo onde a relação entre humanos e o mundo natural está quebrada, a trama da animação é desencadeada quando Sosuke, um menino que vive em uma cidade costeira, encontra no mar uma criatura mística, a qual nomeia de Ponyo, a salvando de um monte de lixo, tornando-os amigos inseparáveis desde então (Raya, 2015).

Ponyo é um peixinho dourado, filha de um cientista com uma deusa do mar, vivendo cercada por um mundo cheio de magia e mistérios. Contudo, Ponyo apresenta desde cedo uma intensa curiosidade pelo mundo humano, motivo que a leva fugir de seus pais e começar uma jornada como humana, repleta de descobertas, transformação e amizade, ressaltando a força de sua personalidade e sua relação com a natureza, o que a configura como um elo entre dois mundos – Mar e Terra, humano e Natureza -, evidenciando a necessidade de um equilíbrio entre as realidades.

Entretanto, a decisão da personagem de se transformar e permanecer no mundo humano causa um desequilíbrio no planeta, fazendo com que as forças naturais e ancestrais se manifestem. Esta reação da natureza é incorporada como uma metáfora sobre as consequências da interferência humana nos ecossistemas, no entanto, a solução para a crise não acontece através de dominação, mas através de um compromisso genuíno do personagem Sosuke, que restaura o equilíbrio por meio da compreensão de que a harmonia entre os dois mundos só é possível através do respeito mútuo, e não pela imposição, representando um viés mais empático e sensível da humanidade. Dessa forma, o filme propõe que a criação de uma relação entre seres humanos e o mundo natural não deve ser por meio de controle, mas de uma coexistência baseada no respeito e na conformidade (Serpa, 2020).

Nesse sentido, pode-se analisar Ponyo sob a lente da Teoria Verde das Relações Internacionais (RI), vertente esta que possui uma abordagem pós-positivista que desloca o foco tradicional centrado nos Estados e no sistema internacional para uma perspectiva ecocêntrica, na qual o meio ambiente é considerado um ator legítimo nas dinâmicas políticas globais (Bueno, 2024).

De acordo com um dos principais teóricos do pensamento verde, Andrew Dobson, em sua obra “Green Political Thought” (2007), essa abordagem propõe uma reconfiguração das estruturas políticas e éticas, reconhecendo o valor intrínseco da natureza e defendendo uma relação de interdependência e responsabilidade entre seres humanos e o ambiente. Assim, a Teoria Verde não só questiona o antropocentrismo predominante nas RI, mas também sugere que os problemas ambientais contemporâneos, como as mudanças climáticas e a degradação dos ecossistemas, exigem novas formas de governança transnacional e local, baseadas em justiça ecológica e sustentabilidade.

Assim, a relação entre Ponyo e Sosuke evidencia a tensão constante entre o mundo humano e o natural, pois a trajetória da criatura marinha que deseja integrar-se à vida dos humanos simboliza o colapso do equilíbrio ecológico causado pela interferência antropocêntrica e ressalta a necessidade de uma reconciliação entre as duas dimensões. Dessa forma, a obra funciona como uma metáfora coerente com a vertente verde das RI, ao representar visualmente a ideia de que a harmonia entre humanidade e natureza só pode ser alcançada por meio do reconhecimento da agência e do valor intrínseco do mundo natural.

Por fim, Ponyo contribui para ampliar o entendimento das relações internacionais ao incorporar dimensões culturais e ambientais à análise das relações humanas, evidenciando que a construção de um futuro sustentável depende não apenas de políticas estatais, mas também de uma transformação de valores e percepções acerca do papel da natureza no sistema internacional.

REFERÊNCIAS:

BUENO, Guilherme. Teoria Verde nas Relações Internacionais: do antropocentrismo ao ecocentrismo. ESRI, 2024. Disponível em: https://esri.net.br/teoria-verde-nas-relacoes-internacionais/ . Acesso em: 27 out. 2025.

DOBSON, Andrew. Green political thought. Routledge, 2007.

RAYA, Juliana. Crítica: Ponyo – Uma Amizade que veio do Mar. Cinem(ação). 2015. Disponível em: https://cinemacao.com/2015/05/27/critica-ponyo-uma-amizade-que-veio-do-mar/ Acesso em: 18 out. 2025

SERPA, Miguel. Ponyo (2008). Medium. 2018. Disponível em: https://medium.com/@migdomserpa/ponyo-2008-a81b518bf947 Acesso em: 23 out. 2025