Tiago Callejon Santos – internacionalista formado em Relações Internacionais pela UNAMA

Nos últimos dois meses, isto é, outubro e setembro de 2025, mas sobretudo no mês de setembro, observou-se um grande movimento de incursões e sobrevoos de drones militares pairando os céus de vários países da Europa, envolvendo, principalmente, países bálticos e Estados-Membros da OTAN (Fan, 2025). Estes acidentes, ocasionados por várias forças de atuação, ampliaram a percepção de risco que se há na Europa acerca das falhas territoriais aéreas em poder se constatar tais ameaças e de posteriormente neutralizá-las, uma vez que o tráfego “livre” destes drones corroboram em vários e distintos problemas aos Estados, sobretudo no âmbito da sua soberania nacional.

É de conhecimento geral que a Rússia e a Ucrânia protagonizam uma das principais guerras armadas dos períodos modernos e que essa guerra é fomentada, principalmente, pelo uso de drones a fim de desestabilizar as tropas e as fontes de informações de um exército para o outro. No entanto, a questão está tão complexa, no contexto hodierno, que essa mesma guerra dos drones não está se limitando apenas ao território ucraniano, mas já engloba outros países.

A exemplo disso, no dia 09 de setembro, a Polônia abateu 19 drones russos que haviam adentrado o seu espaço aéreo sob a alegação de que isto se traduz enquanto uma violação sem precedentes ao seu próprio espaço aéreo (BBC, 2025). Para além disso, é importante salientar que esta é a primeira vez, desde o início do conflito entre Rússia e Ucrânia (2022), que um país membro da OTAN atacou e neutralizou instrumentos de guerra da Rússia, tomando partido na guerra, ao menos para proteção do seu território.

De fato, a ação foi tão urgente que a Polônia se viu obrigada a fechar temporariamente 4 aeroportos após os contatos iniciais com estes drones, alegando que a autoria do ataque fora da Rússia – essa que, por sua vez, não comentou nada sobre- (BBC, 2025). Outrossim, os casos foram se multiplicando e constatou-se vários movimentos similares a este em vários países da Europa, alguns com aspectos bem parecidos aos ocorridos na Polônia, como foi o caso em Oslo, na Noruega, e em Copenhague, na Dinamarca (Defesa net, 2025).

Mesmo a crise sendo iminente, não se pode culpabilizar a Rússia, ao menos de forma oficial, por todas as ocasiões destas incursões. A exemplo disso, na madrugada do dia 21 para o dia 22 de setembro, na França, vários drones sobrevoaram a base militar de Mourmelon-le-Grand, conforme noticiado pelo L’Union, o que fez com que a base ativasse seus protocolos de defesa para casos de neutralização das aeronaves. No entanto, após investigações, as autoridades francesas chegaram à conclusão de que não eram drones pilotados por militares, então a natureza destas incursões, a priori, não seriam militares (Liabot, 2025).

Deste modo, pode-se presumir que tal problemática é tão elevada que o seu estopim, ao menos por agora, ocorreu na Dinamarca. Vários drones sobrevoaram o espaço aéreo dinamarquês próximo a uma das maiores instalações militares do país – na base aérea de Karup, no oeste da Dinamarca – que demarcou graves danos e ataques às infraestruturas próprias do país, pois, conforme Fouda (2025), estes ataques levaram ao encerramento temporário das atividades práticas de vários aeroportos em todo o país, sejam eles aeroportos civis ou militares, e isto inclui o principal aeroporto do país, o aeroporto de Copenhage-Kastrup, o que inviabilizou processos inerentes de mobilidade, turismo, logística e de comercialização da Dinamarca, ato este que foi até mesmo condenada pela então primeira-ministra do país, a prêmier Mette Frederiksen.

Devido a todas estas questões, mas com foco principal com o que aconteceu na Dinamarca, a OTAN começou a intervir mais diretamente no assunto, adotando, inclusive, um comportamento maior de vigilância que se aplicará aos países bálticos, com o foco na região do Mar Báltico, para fins de proteger a região de novas incursões de drones após os eventos ocorrentes na Dinamarca e, para além disso, a própria organização afirma que serão utilizados novos recursos para, de maneira efetiva, assegurar a devida segurança à região (UOL, 2025), algo que desagradou a Rússia, pois vê a influência da OTAN se expandindo ao território leste da Europa, o que acaba por influenciar em sua própria Balança de Poder na região.

Com efeito, para trazer esta realidade, de forma mais exemplificada e definida para o âmbito das Relações Internacionais, pode-se tentar compreender essa tal “crise dos drones” ocorrente na Europa sob a ótica dos estudos e das percepções teóricas da Escola de Copenhague sobre as temáticas das Teorias de Segurança.

Por exemplo, para Ole Weaver, um dos máximos expoentes desta escola, a segurança pode ser compreendida como um processo socialmente construído. Afinal, segundo o autor, uma ameaça é apenas caracterizada como tal quando ela representa alguma ameaça que é discursivamente construída ou reconstruída como tal, isto é, ela se configura como uma ameaça quando os vários atores e organismos passam a ver àquela entidade como um problema e começam a adotar medidas para tal, o que se encaixa perfeitamente à ótica das incursões de drones.

Ademais, para Weaver, aqui também se encaixa devidamente o conceito de “Securitização” – processo o qual um problema é construído politicamente como uma ameaça existencial para o Estado e para a sociedade como um todo, que se faz necessário adotar medidas para combater esta ameaça – portanto, no caso dos drones, a ameaça existencial é definida de várias formas: seja no âmbito das ameaças militares diretas, como foi na guerra russo-ucraniana, quanto na perspectiva da violação da soberania e à segurança cibernética, como ocorreu na Polônia, França, Noruega e Dinamarca.

De fato, se observa como a Escola de Copenhague consegue exemplificar corretamente estas fenomenologias das incursões de drones, até porque, ao se analisar outros contextos adversos, deve-se destacar que a OTAN também interviu na problemática, demonstrando como as relações de poder entre os organismos que compreendem o Sistema Internacional como um todo estão assiduamente complexadas, dificultosas e passíveis a grandes tensões e crises de poder.

Outrossim, o que se buscou demonstrar, ao longo de todas estas exemplificações, é que a Europa, além de estar passando por esta “crise” sob vários aspectos distintos, em várias localidades distintas ao longo de todo o vasto continente, interferindo desde a guerra russo-ucraniana, à região dos Balcãs e até mesmo a vários países pertencentes à OTAN, é que o Velho Continente possui um problema estrutural em solucionar problemáticas que se originam destas incursões, logo, possíveis ações de combate que deveriam ser mais rápidas, efetivas e sólidas para se alcançar a neutralização destas aeronaves são, no mínimo, complicadas para ser devidamente solucionadas.

A Deustche Welle (2025), uma emissora internacional da Alemanha que oferece jornalismo independente para vários países, em vários formatos de propagação de mídias distintas, tenta explicar que um dos motivos destes imbróglios se dá pelo fato de que não se consegue neutralizar, ao menos de ordem imediata, uma incursão de drones automaticamente, pois precisa ser analisado alguns fatores próprios para tal, como o fato de que se os drones possuem caráter militar ou recreativo e, caso sejam militares, devem ser contidos de forma adequada.

Para além disso, como a maioria destes eventos envolvendo drones se deram próximos de bases militares ou de aeroportos, os aeroportos por si não possuem a capacidade de neutralizar estas aeronaves, pois devem levar em conta fatores como a segurança da população local e a realidade de que não possuem equipamentos bélicos apropriados para neutralizar eventuais ameaças de drones militares, então, a melhor e principal ação a ser tomada é de paralisar todas as suas atividades comerciais, com o foco na segurança da sua população e da sua infraestrutura.

Por fim, se observa, portanto, que esta “crise dos drones” não é um fenômeno de natureza meramente militar, por mais que comumente a Rússia possa vir estar envolvida em vários destes casos, mas se traduz como um fenômeno que aborda os níveis de segurança nacional dos países pertencentes à Europa, pois, uma vez que estas duradouras e volumosas incursões de drones ocorram pelos territórios dos países integrantes da Europa, vários problemas se decorrem destas, problemáticas estas que se fazem presentes principalmente no âmbito da segurança nacional, o que gera a mobilização de vários atores, organismos e nações para se chegar a resolução de um problema que, ao menos por agora, não está próximo de ser resolvido.

Referências:

NICHOLLS, Catherine. União Europeia planeja “muro de drones’ para combater ameaça russa; entenda. CNN News Brasil. Publicado em 04 de outubro de 2025, Brasil. Disponível em https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/uniao-europeia-planeja-muro-de-drones-para-combater-ameaca-russa-entenda/

FAN, Ricardo. Aumento das incursões de drones testa defesas e unidades na Europa. Portal Defesa Net. Publicado em 30 de setembro de 2025, Brasil. Disponível em https://www.defesanet.com.br/we/aumento-das-incursoes-de-drones-testa-defesas-e-unidade-da-europa/

Polônia abate drones da Rússia após “violação sem precedentes de espaço aéreo”. BBC News Brasil; Publicado em 10 de setembro de 2025, Brasil. Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/articles/c8xrqlyy0g2o

Otan aumentará vigilância no Báltico após casos de drones na Dinamarca. Portal UOL, setor de notícias internacional. Publicado em 27 de setembro de 2025, São Paulo, Brasil. Disponível em https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2025/09/27/otan-dinamarca-drones.htm

LIABOT, Jean-Philippe. França: vários drones sobrevoaram a base militar de Mourmelon-le-Grand. Portal Euronews, aba de Europa > Notícias da Europa. Publicado em 26 de setembro de 2025, Brasil. Disponível em https://pt.euronews.com/my-europe/2025/09/26/franca-varios-drones-sobrevoaram-a-base-militar-de-mourmelon-le-grand

FOUDA, Malek. Drones detetados a sobrevoar uma das maiores instalações militares da Dinamarca. Portal Euronews, aba de Notícias > Mundo > Europa. Publicado em 27 de setembro de 2025, Brasil, Disponível em https://pt.euronews.com/2025/09/27/drones-detetados-a-sobrevoar-uma-das-maiores-instalacoes-militares-da-dinamarca Quais as dificuldades da Europa em se defender de drones?; Portal DW, aba de Política > Dinamarca. Publicado em 25 de setembro de 2025, Brasil. Disponível em https://www.dw.com/pt-br/por-que-a-europa-tem-dificuldades-para-se-defender-de-drones/a-74141396