
Soiany Vasconcelos Leão Coimbra – 2º semestre de Relações Internacionais da Unama.
Maria Luiza Garcia Lira – 4º semestre de Relações Internacionais da Unama.
O grande historiador da Grécia Antiga, Tucídides, escreveu a obra “História da Guerra do Peloponeso”, e foi considerado um dos principais teóricos do realismo nas Relações Internacionais. Em sua análise sobre a guerra entre as cidades-estados de Atenas e Esparta, o historiador grego destaca como o poder e o medo são forças que movem as nações e como as alianças entre Estados são formadas a partir de interesses próprios e na busca por segurança.
Segundo Tucídides (1987), o sistema internacional é anárquico, ou seja, não existe qualquer autoridade superior que regule o comportamento dos Estados, por isso, a busca por sobrevivência e expansão de poder, está relacionada ao agir de forma racional e estratégica para preservar sua existência e demonstrar superioridade.
Dessa forma, a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) é uma aliança militar criada em 1949, no contexto da Guerra Fria, surge com o objetivo de conter a expansão da União Soviética e proteger seus membros contra possíveis ameaças externas (NATO, 2001). Formada inicialmente por Estados Unidos, Canadá e países da Europa Ocidental, a organização se consolidou como um dos principais instrumentos de defesa coletiva do mundo ocidental.
Após o fim da Guerra Fria, a organização manteve sua relevância, adaptando-se a novos desafios e expandindo sua atuação para além da Europa, com missões militares e humanitárias em regiões como Afeganistão, Iraque e Bósnia (Gaddis, 2005). Nessa ótica, a segurança dos Estados-membros continua sendo o objetivo central da organização, tanto no campo político quanto no militar.
Sob a perspectiva realista de Tucídides, a OTAN pode ser compreendida como uma aliança pragmática de poder, baseada na defesa dos interesses estratégicos de seus membros. Assim como no pensamento de Tucídides, em que os Estados agem movidos pelo medo, interesse e busca por segurança, a OTAN atua em conformidade com essa lógica (Morgenthau, 2003).
As ações da organização refletem o desejo de preservar a estabilidade e o poder de seus membros, mesmo que, para isso, recorra ao uso da força militar. Por isso, entende-se que a guerra não ocorre por acaso, mas surge como consequência inevitável das assimetrias de poder e das percepções de ameaça entre unidades soberanas (Tucídides, 1987).
Além disso, a expansão da OTAN em direção ao Leste Europeu após o término da Guerra Fria pode ser interpretada como um reflexo direto da lógica do equilíbrio de poder presente no realismo. Ao incorporar países que anteriormente pertenciam à esfera de influência soviética, como Polônia, Hungria e República Tcheca, a aliança não apenas fortaleceu sua presença estratégica, como também aumentou a percepção de ameaça da Rússia (Walt, 1998).
Tal dinâmica pode ser compreendida segundo o chamado dilema de segurança, em que as ações de um Estado ou de uma aliança para aumentar a proteção acabam gerando insegurança para outros atores, alimentando um ciclo de rivalidade e desconfiança (Herz, 1950).
Nesse contexto, conflitos contemporâneos como a guerra na Ucrânia evidenciam a atualidade do pensamento de Tucídides. A resposta russa ao avanço da OTAN pode ser vista como uma tentativa de reequilibrar o poder regional e resguardar sua própria segurança diante da presença crescente da aliança militar em seu entorno geopolítico. Assim, observa-se que as relações internacionais continuam guiadas pela lógica da competição e da sobrevivência estatal que já estava presente nas reflexões de Tucídides (1987).
Portanto, embora a OTAN utilize discursos que enfatizam a promoção da paz, estabilidade e valores democráticos, sua atuação revela a manutenção de interesses estratégicos que asseguram a hegemonia militar e política de seus membros, sobretudo dos Estados Unidos. Desse modo, a aliança representa, na prática, a materialização contemporânea da lógica realista: a busca contínua por poder e segurança em um sistema internacional marcado pela anarquia.
Em síntese, a análise de Tucídides permanece essencial para compreender como o medo, o interesse e a necessidade de preservação da soberania continuam moldando as principais decisões de política externa no cenário global atual.
REFERÊNCIAS
GADDIS, John. L. The Cold War: A New History. New York: Penguin Press, 2005.
HERZ, John H. Idealist Internationalism and the Security Dilemma. New York: World Politics Press, 1950.
MORGENTHAU, Hans. J. A Política entre as Nações: A Luta pelo Poder e pela Paz. Brasília: Editora da UnB, 2003.
NORTH ATLANTIC TREATY ORGANIZATION. NATO Handbook. Brussels: NATO Office of Information and Press, 2001. Disponível em: https://www.nato.int/docu/handbook/2006/hb-en-2006.pdf. Acesso em 28 out. 2025.
TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Tradução de Maria da G. de Souza. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1987.
WALT, Stephen M. International Relations: One World, Many Theories. Foreign Policy, Washington, n. 110, p. 29-46, 1998. Disponível em: https://www.columbia.edu/itc/sipa/S6800/courseworks/foreign_pol_walt.pdf. Acesso em 28 out. 2025.
