
Sofia Dias Santos, acadêmica do 2º semestre de Relações Internacionais da Unama
Ficha Técnica:
Ano: 2006
Direção: Tim Johnson e Karey Kirkpatrick
Gênero: Animação, comédia, aventura
Distribuição: Paramount Pictures
País de Origem: Estados Unidos
O filme Os Sem Floresta (2006), dirigido por Tim Johnson e Karey Kirkpatrick, é uma animação que, sob o viés de uma narrativa leve e humorada, apresenta uma crítica contundente à lógica de consumo e à degradação ambiental provocada pela ação humana. A trama acompanha um grupo de animais silvestres que, ao despertar da hibernação, descobre que sua floresta foi quase totalmente destruída para dar lugar a um condomínio de luxo. Diante da perda de seu habitat natural, os animais precisam se adaptar ao novo cenário e encontrar meios de sobrevivência, enfrentando os desafios impostos pela presença humana e pela urbanização desenfreada (Adorocinema, 2006).
A narrativa é centrada na figura de RJ, um guaxinim astuto que convence os demais animais a invadir as casas dos humanos em busca de comida. Aos poucos, o grupo descobre um mundo dominado pelo excesso, pelo desperdício e pela apropriação total dos recursos naturais. Enquanto os animais representam uma comunidade simples e cooperativa, os humanos simbolizam a racionalidade instrumental e o desejo constante de expansão, marcados pela substituição do equilíbrio natural por um sistema voltado à acumulação e ao controle do meio ambiente.
Sob a perspectiva das Relações Internacionais, a obra pode ser interpretada à luz da teoria realista moderna, especialmente a partir das formulações de Hans Morgenthau. Em sua obra Politics Among Nations (1948), Morgenthau estabelece que a política internacional – e, de modo mais amplo, o comportamento dos atores sociais -, é guiada por uma lógica de poder e autopreservação. Para o autor, o ser humano possui uma natureza essencialmente egoísta, de modo que seus atos são motivados pela busca incessante de vantagem e controle em um ambiente anárquico e competitivo.
No contexto do filme, os humanos refletem exatamente essa racionalidade realista: buscam garantir conforto e segurança, ainda que isso implique a destruição completa do ecossistema e a expropriação de outros seres vivos. Assim como os Estados no sistema internacional, os humanos em Os Sem Floresta agem com base em seus interesses imediatos, priorizando a estabilidade material e o domínio sobre o território, sem considerar o impacto coletivo de suas ações. A expansão urbana e o consumo desmedido podem, portanto, ser compreendidos como expressões simbólicas do interesse nacional pela sobrevivência e pelo poder, pilares fundamentais do pensamento de Morgenthau (Nogueira; Messari, 2005).
A barreira física construída entre o condomínio e o que restou da floresta – o “muro verde” que separa os animais dos humanos -, representa, metaforicamente, a anarquia do sistema internacional descrita pelo realismo moderno. Não há autoridade superior capaz de mediar o conflito entre os dois lados, pois cada grupo age conforme suas próprias necessidades e percepções de ameaça. Nesse sentido, o comportamento humano se aproxima da lógica do Estado realista: racional, calculista e voltado à autopreservação, ainda que às custas de outros.
Desse modo, Os Sem Floresta traduz visualmente os princípios do realismo de Morgenthau ao mostrar que, diante da escassez e da competição, a moral tende a ser subordinada à sobrevivência. A destruição da floresta, longe de ser um simples acidente ambiental, expressa uma ordem de poder na qual os fortes impõem sua vontade e os fracos adaptam-se para não perecer. O conflito entre humanos e animais, portanto, simboliza a dinâmica permanente de disputa e insegurança que estrutura as relações internacionais sob a ótica realista.
REFERÊNCIAS
ADOROCINEMA. Os Sem-Floresta. Disponível em: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-47019/. Acesso em: 2 nov. 2025.
MORGENTHAU, Hans J. Politics Among Nations: The Struggle for Power and Peace. New York: Alfred A. Knopf, 1948.
NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nizar. Teoria das Relações Internacionais: correntes e debates. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
