Cainã Alves do Amaral – acadêmico do 4º semestre de Relações Internacionais (UNAMA)

A trigésima Conferência entre as Partes (COP30) é um grande marco para a Amazônia, haja vista que o maior evento de cunho climático do globo irá ocorrer em solo amazônico, trazendo consigo diversas perspectivas e análises frente a um mundo cada vez mais impactado pela iminência de crises climáticas, fomentadas pela degradação ambiental, gases de efeito estufa e aquecimento global, estando todos estes sob um processo de correlação vigente. Como diria Antônio Guterres – secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) – “a era do aquecimento global acabou; a era da “ebulição global” chegou”. (NAÇÕES UNIDAS, 2025)

Nessa perspectiva, diversas são as perguntas que entrelaçam os debates de cunho acadêmico e científico acerca da COP30: “10 anos após o Acordo de Paris, medidas foram efetivadas?”; “o que diverge a COP30 das COP’s antecedentes?”; “qual legado será deixado pela COP na Amazônia?”; “quais são as principais problemáticas a serem solucionadas?”. Paralelamente a isso, compreende-se de forma consentida que Belém do Pará está nos holofotes do mundo, materializada pelo fomento do turismo, chegada de mais de 50 mil pessoas à cidade (BRASIL, 2025), dentre elas, chefes de Estado e delegações do mundo todo, reformas na infraestrutura municipal, além de que a maior floresta tropical do globo será o palco principal das discussões.

Em contrapartida, mesmo após 10 anos que sucedem o Acordo de Paris, ainda é trazido à tona problemáticas estruturais no que tange à governança global como um todo, onde o mundo, mesmo sob um contexto cada vez mais conectado e globalizado, demonstra fragilidades em lidar com as questões de cunho transnacional, sendo assim, não diferentemente para assuntos que envolvam a matriz ambiental/climática. Desse modo, James Rosenau – renomado teórico da vertente neoliberal das Relações Internacionais – em suas respectivas obras intituladas de “People Count” e “Governance without government” aborda sobre a essencialidade da participação da sociedade civil e de autores não-governamentais nas discussões transnacionais, uma vez que estes são os mais impactados pelas problemáticas ambientais, por exemplo, sendo marginalizados das discussões acerca de consternações que tanto os afetam.

Tal panorama consternador é materializado na Amazônia com populações e comunidades tradicionais como os quilombolas e ribeirinhos sendo marginalizadas e vulnerabilizadas, haja vista que estas – de forma majoritária – não têm poder de fala nas principais conferências, e, em menor escala ainda: poder de veto, apesar de serem os mais impactados pela degradação ambiental e aquecimento global. Consonante a isso, a Amazônia, a qual por muito tempo foi considerada uma colônia dentro do próprio Brasil (LOUREIRO, 2022), marcada por práticas discursivas como “vazio demográfico” e “área inabitada”, ainda demonstra, em pleno século XXI, sequelas de um processo estrutural marcado pela marginalização e vulnerabilidade dos mais desfavorecidos.

Além disso, esta consternadora vulnerabilidade também se materializa através do processo de greenwashing que ocorre na capital paraense, sendo o exemplo mais destacável o que ocorre na Vila da Barca, uma das regiões mais encarecidas de recursos na capital paraense, seja no que tange ao saneamento básico e/ou infraestrutura diversa. Nesse sentido, uma das principais obras da COP-30, sendo esta, a Nova Doca, vangloriada como uma conquista inédita para a capital paraense, haja vista que trouxe consigo diversas áreas de lazer e entretenimento para a região central de Belém, contrasta com a realidade fúnebre presenciada pelos moradores da Vila da Barca, uma vez que estes percebem os dejetos e entulhos do canal da Doca – isento de saneamento básico – sendo realocados para regiões próximas às suas moradias, deteriorando-as consequentemente e fomentando cada vez mais a vulnerabilidade à escalas maiores. (BRASIL DE FATO, 2025)

Consonante a isso, tratando-se exclusivamente do caráter institucional da COP30, denota-se que esta carrega um fardo iminente da COP29, no que tange à resolução de acordos climáticos e implementação de medidas intervencionistas principalmente, uma vez que a COP de 2024, ocorrida em Baku, no Azerbaijão, careceu de avanços significativos no que concerne a pauta ambiental e climática, tanto no âmbito normativo quanto no âmbito prático em si. Desse modo, percebe-se que muito são os desafios a serem enfrentados, não apenas no que concerne a conferência como um todo, mas também ao Brasil, o qual, neste momento, tem o papel simbólico de liderar as discussões globais acerca das mudanças climáticas e de trazer à tona uma visão mais periférica, a qual faz jus ao Sul Global – sendo este, o que mais sofre com o aquecimento global, ou mais adequado: “ebulição global”.  

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Ministério do Turismo. COP30: Belém deve receber mais de 50 mil turistas estrangeiros para Conferência da ONU. [Brasília]: Ministério do Turismo, 1 nov. 2025. Disponível em: https://www.gov.br/turismo/pt-br/assuntos/noticias/cop30-belem-deve-receber-mais-de-50-mil-turistas-estrangeiros-para-conferencia-da-onu. Acesso em: 7 nov. 2025.

CASTRO, Mariana. Obra da COP30 vai levar esgoto de área nobre em Belém para comunidade de palafitas. Brasil de Fato, 2025. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2025/04/28/obra-da-cop30-vai-de-levar-esgoto-de-area-nobre-em-belem-para-comunidade-de-palafitas/. Acesso em: 7 nov. 2025.

NAÇÕES UNIDAS, 2025. Coletiva de imprensa do secretário-geral da ONU sobre o clima. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/240543-coletiva-de-imprensa-do-secret%C3%A1rio-geral-da-onu-sobre-o-clima. Acesso em: 7 nov. 2025.

ROSENAU, James. Governance without government: Order and Changes in World Politics. Cambridge University Press, 1992.

ROSENAU, James. People Count! Networked Individuals in Global Politics. Boulder, CO: Paradigm Publishers. 2008.