
Gabriele Nascimento ( acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais na UNAMA)
A realização da 30ª Conferência das Partes em Belém do Pará, no coração da Amazônia, representa um marco histórico na agenda diplomática e no reconhecimento internacional do papel da floresta na crise climática. Tratar de justiça climática é entender que quem vive na floresta enfrenta de forma mais agravada as mudanças do clima. Portanto, discutir clima é falar sobre justiça socioambiental e, consequentemente, sobre gênero.
Em “Bananas, Beaches and Bases” (1989), Cynthia Enloe questiona onde estão as mulheres na política internacional. Ela mostra como uma visão masculina domina as relações de poder, como na ideia de nacionalismo. Nessa narrativa, as mulheres são sempre colocadas no papel de frágeis e de uma “pátria violada”. Com isso, o controle político se mantém concentrado e dar invisibilidade a visão e a importância política feminina no cenário internacional.
A Amazônia é lar de uma rica diversidade de culturas, povos e comunidades cujas vidas estão intrinsecamente ligadas à floresta e têm na natureza sua principal referência de vida, representando existencia e cultural. Segundo Gov (2025), as mulheres, sobretudo as negras, indígenas, quilombolas, rurais e periféricas, estão entre as mais impactadas pelos desastres ambientais. Enfrentando chuvas intensas, calor extremo e insegurança alimentar.
Antunes et al (2022), destacam que as mulheres historicamente têm sido colocadas à margem ou à sombra do conhecimento e do pensamento ocidental, mesmo desempenhando um papel central na conservação da floresta — sendo elas as que cultivam, ararem e colhem alimentos em sistemas agroecológicos, sustentando assim não apenas suas famílias, mas também a biodiversidade local.
Segundo Warren (2000), o debate sobre os impactos da mudança climática nas mulheres foi introduzido na década de 1970 com o ecofeminismo, teoria que questiona, a partir de uma análise do gênero, a lógica de dominação e produção que oprime grupos como os “Outros humanos” (mulheres, população negra, indígenas, pobres, idosos e crianças) e “Outros terrestres” (animais não-humanos e a natureza).
Nesse contexto, é preciso reconhecer a importância do protagonismo feminino na COP30 e garantir a inserção de mulheres amazônidas em debates globais, não como meras receptoras de informações, mas como vozes ativas de representatividade, reivindicação e formuladoras de soluções. De acordo com a ONU (2025):
Alcançar a igualdade de gênero e a justiça climática exige a participação plena, igualitária e significativa das mulheres nos processos de tomada de decisão. As mulheres que vivem nas comunidades mais afetadas pelas mudanças climáticas — especialmente as indígenas e rurais — precisam ter voz ativa na definição de soluções sustentáveis, em benefício de toda a sociedade.
A luta por uma inclusão genuína nos espaços de poder que historicamente as silenciam ainda é um desafio. Para mulheres Amazônidas, participar de eventos internacionais significa afirmar sua própria vida e existência. No entanto, falar em nome da Amazônia e de seu povo exige condições e apoio e a COP30 é uma oportunidade de inserção.
Portanto, o protagonismo de mulheres amazônidas no centro do debate garante representatividade feminina e demonstra que a Amazônia é palco de resistência e luta, sobretudo para grupos historicamente marginalizados e excluídos dos processos decisórios. Discursões sobre o futuro do clima não devem ser construídas sem a perspectiva conjunta dos principais atores que realmente vivem e desenvolvem iniciativas que preservam a floresta.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Natália; et al. O ecofeminismo na Amazônia: a relação entre a natureza e as mulheres amazônidas. Internacional da Amazônia. Publicado em: 12 de Out. de 2022. Disponível em: < https://internacionaldaamazoniacoms.com/2022/10/12/o-ecofeminismo-na-amazonia-a-relacao-entre-a-natureza-e-as-mulheres-amazonidas/ >. Acesso em: 08 de Nov. de 2025.
COP 30 em Belém: Ação climática e justiça ambiental por e para todas as mulheres – ONU MulheresONU Mulheres. Publicado em: 04 de nov. de 2025. Disponível em: < https://share.google/mgU1BvsW4aMZUGzda >. Acesso em:08 de nov. de 2025.
ENLOE, Cynthia. Bananas, Beaches and Bases: Making Feminist Sense of International Politics. 1989.
GOV.BR. Plano de Ações Integradas Mulheres e Clima. Ministério das mulheres. Públicado em: 2025. Disponível em: <https://www.gov.br/mulheres/pt-br/assuntos/mulheres-e-clima >. Acesso em: 08 de Nov. de 2025.
TORRES, Iraldes Caldas. As novas Amazônidas. Manaus: Edua – Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2005. Acesso em: 08 de nov. de 2025.
WARREN, Karen J. Ecofeminist Philosophy. 2000. Acesso em: 08 de nov. de 2025.
