Maria Eduarda Perdigão, acadêmica do 2° semestre de Relações Internacionais da Unama.

Ficha Técnica:

Ano: 2022

Autor (a): Larissa Lair

Gênero: Romance

Editora: Violeta

País de Origem: Brasil

O romance literário “Incógnito”, da autora brasileira Larissa Lair, apresenta uma narrativa que convida o leitor a uma jornada de autenticidade e de reconhecimento do outro em meio às pressões sociais impostas, abordando temas como bullying, orientação sexual e pertencimento. Com o enredo ambientado no universo juvenil, o livro acompanha o cotidiano de Hector Yun, um típico atleta estrela do colégio, popular e sempre rodeado de pessoas. Hector parecia possuir uma vida perfeita até o dia em que encontra um caderno abandonado no pátio da escola, movido por uma intensa curiosidade, Hector decide ler o conteúdo do caderno, descobrindo tratar-se de um diário assinado apenas como “Incógnito”, onde o personagem passa a mergulhar nas experiências e confissões do autor desconhecido (Boero, 2025).

O “Incógnito”, além de personagem que dá nome à obra, é apresentado de forma simbólica e sutil, diferentemente de Hector. A existência do personagem é construída na força das suas confissões e na sua ausência, atraindo o leitor a descobri-lo não somente por suas palavras carregadas de reflexão e emoção, mas pelo efeito que ele causa nas pessoas ao seu redor. O Incógnito é alguém que vive entre o conflito do desejo de querer ser visto e o medo de se expor, narrando emoções invisíveis e sendo o observador que compreende aquilo que os outros não conseguem dizer, mesmo sem ocupar o centro das atenções, é o personagem que mais desperta empatia e curiosidade por suas diversas nuances.

A escrita fluída e emocionalmente precisa de Larissa Lair constrói um espaço literário que se destaca pelo equilíbrio entre leveza e profundidade, onde ao mesmo tempo em que fala de amizade, cotidiano e vivências, também levanta discussões através de personagens complexos e cheios de intensidade, marcados por inseguranças e medos, mostrando o conflito em se reconhecer em meio às normas padrões nos ambientes em que se está inserido sem recorrer ao dramatismo, explorando o poder que um relato pessoal tem de despertar questionamentos e compreensão em quem o lê.

Dessa forma, o livro pode ser analisado pelas lentes da Teoria Crítica das Relações Internacionais (RI), vertente que busca compreender e transformar estruturas de poder presentes em dinâmicas sociais e internacionais, partindo da ideia de que dinâmicas culturais, políticas e econômicas são construídas historicamente, podendo assim, ser modificadas para a construção de uma sociedade mais inclusiva e justa (Couto, 2025).

Nesse sentido, um dos principais teóricos da Teoria Crítica, Andrew Linklater, analisa em sua obra “The Transformation of Political Community” (1998), como as estruturas de poder moldam as relações humanas e definem quem é aceito e quem é excluído dentro das comunidades políticas e morais. Para Linklater (1998), tais estruturas – sustentadas por normas sociais, culturais e políticas – produzem formas de dominação que regulam a vida em sociedade, mantendo hierarquias de pertencimento e restringindo o reconhecimento do outro.

A partir dessa crítica, o teórico propõe um processo de superação das estruturas de poder que geram desigualdades e exclusão no sistema internacional, o qual ele chama de emancipação. Para Linklater (1998), a emancipação significa romper com as normas morais que impedem o reconhecimento pleno e participação dos indivíduos na coletividade, tornando-se assim, um projeto ético e coletivo voltado à construção de uma comunidade política mais aberta às diferenças e inclusiva.

Na obra, essas lógicas de exclusão e emancipação são representadas nas figuras do Incógnito e de Hector. O personagem Incógnito é silenciado e excluído por ter uma identidade fora dos padrões estabelecidos, dessa forma, seu diário se torna uma forma de expressão e resistência, um meio onde ele afirma sua existência e conquista voz diante das estruturas que o deixam à margem da sociedade. A partir disso, quando Hector entra em contato com as expressões do outro, ou seja, com o Incógnito, o personagem passa a questionar as normas que o cercam e suas próprias limitações, iniciando o processo de emancipação e se libertando das amarras morais de “normalidade” que o limitavam.

Por fim, “Incógnito” demonstra que, por meio da escrita, escuta e empatia é possível transformar a forma como enxergamos o mundo e a nós mesmos. Onde a liberdade só se torna plena quando se há coragem de viver fora de expectativas impostas, quebrando as normas morais e valorizando a autenticidade como forma de existência. Desse modo, Larissa Lair propõe ao leitor um olhar sensível, convidando a reconhecer a beleza presente naquilo que é invisível e desconhecido, concluindo com uma mensagem reflexiva e inspiradora que expressa a essência de seu pensamento: seguir sempre “sorrindo com o rosto todo, com amor e coragem”.

REFERÊNCIAS:

BOERO, Marcelo. Incógnito: Livro De Larissa Lair. Almanaque Raimundo Floriano. 2025. Disponível em: https://raimundofloriano.com.br/views/Comentar_Post/incognito-livro-de-larissa-lair-postagem-do-leitor-marcelo-boero-9gAqbdKuxg5xJcPjbyXm Acesso em: 31 Out. 2025

COUTO, Amauri. 5 Teorias das Relações Internacionais fora do mainstream. ESRI. 2025. Disponível em: https://esri.net.br/teorias-das-relacoes-internacionais-fora-do-mainstream/ Acesso em: 02 Nov. 2025

LINKLATER, Andrew. The Transformation of the Political Community: Ethical Foundations of the Post-Westphalian Era. Polity Press, 1998.