
Eduarda Aísha Cavalcante- acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais da Unama.
Participar da COP 30 foi uma das experiências mais marcantes da minha formação em Relações Internacionais. Estar ali, vivendo de perto as lutas, os encontros e as conversas me fez compreender o que sempre estudei nos livros, mas agora tudo tem um peso humano muito maior.
A escolha de Belém, na Amazônia, como sede da conferência não foi apenas simbólica. Foi essencial. Realizar a COP na região que mais sente os impactos das mudanças climáticas, e por tantos anos ficou à margem das decisões globais, permitiu que o mundo olhasse para cá de verdade. Não apenas para ver os efeitos, mas para dar visibilidade às pessoas que vivem nesse território e carregam histórias e medos que dificilmente são relevantes em negociações.
Como internacionalista em formação, essa imersão foi muito mais do que acadêmica. Foi a oportunidade de entender a realidade para além das Relações Internacionais. Presenciei as movimentações globais pela defesa do planeta, a urgência que atravessa discursos e a força de uma luta coletiva que, mesmo que diferente em falas e interesses, tinha duas semelhanças claras: garantir o futuro e a justiça. E foi exatamente essa convivência com diversas culturas tão diferentes da minha, e ao mesmo tempo tão parecidas em suas preocupações, que pude entender o que de fato significa viver em um mundo interconectado.
Durante os dias da conferência, participei de rodas de conversa com pessoas de vários países, principalmente com a organização Sustaining All Life (SAL), um espaço feito para expressar o fardo emocional da crise climática. Em cada relato surgiam lembranças de infância, rios que deixaram de existir, estações do ano que não seguem mais o ritmo, o verde das paisagens sumindo das memórias como se nunca tivessem existido.
Uma reflexão dita por uma moça mexicana em uma dessas conversas me marcou. A maior semelhança que temos no meio de tanta burocracia, acordos, reuniões que a COP tem, é o medo. O medo de perder o que sobrou e principalmente o medo do futuro. E com isso, pude refletir sobre a perspectiva dela, a sensação de viver em dois mundos ao mesmo tempo: o mundo da política e o mundo das pessoas. No primeiro o que prevalece são os interesses estatais, as disputas, fronteiras delimitadas. No segundo é a vida, histórias reais, impactos reais.
Dividi com o grupo minha experiência como estudante amazônida, observando tudo isso de perto. Nossa conclusão foi que as fronteiras definem nosso território, mas o futuro não respeita essas delimitações. Ele será o mesmo para todos, mesmo que de forma mais lenta para uns e mais rápida para outros.
A minha experiência na COP 30 me mostrou que as Relações Internacionais não são apenas sobre estruturas, acordos ou Estados. É também sobre humanidade. E o papel do internacionalista também vai além dos espaços formais. E sobretudo, poder viver isso em Belém, onde cresci, tornou tudo melhor.
