Por Daiany Lima Duarte, acadêmica do 6° semestre de Relações Internacionais

Com a chegada do mês de novembro, Belém abriu os braços para receber a maior conferência de meio ambiente do mundo: Conference of Parts (A Conferência das Partes), ou, como popularmente conhecida, COP da Amazônia. Este ano contou, não só pela presença de diversos chefes e ministros de Estados, mas com uma numerosa participação de povos originários, os quais antes estavam isentos de debates. Não por querer, pois eram realizadas em regiões de distâncias significativas (G1, 2025).

Debates acerca da exploração excessiva no território, principalmente no que concerne em territórios indígenas e quilombolas, a necessidade de políticas verdes e consumo sustentável, por exemplo, foram apresentados em inúmeros espaços, sejam eles oficiais e paralelos. De modo geral, a COP 30 ficou marcada pela grande presença de povos atingidos diretamente pela exploração e mudança climática que vem atingindo o mundo.

Um ponto a ser destacado, mesmo que breve, foi o cuidado da sociedade civil em incluir o debate infanto-juvenil nesse período. A Cúpula Das Infância, desenvolvida em paralelo pela Cúpula dos Povos, que reuniu diversos movimentos sociais na Universidade Federal do Pará, garantiu que crianças e jovens pudessem ter seu momento de fala para apresentar suas realidades frente às dificuldades climáticas, sociais e econômicas. Na carta deixada por essas crianças, há um pedido simples: Cuidem do planeta. (Cúpula das Infâncias, 2025)

Entretanto, para além do antes e durante desse evento tão aguardado, a ânsia pelo que viria depois era o que rondava o imaginário e sentimento populacional e mundial. Na questão regional, era vasta a ideia do que seria deixado de legado para a cidade. Para além dos espaços revitalizados e/ou criados para esse momento, o resquício dos debates, propostas e acordos também fazem parte desse dilema. Foram duas semanas recheadas de discussões, rodas culturais e protestos. Uma das herdades são pacotes de financiamentos, oportunidades e declarações. A 30ª Conferência das Partes aprovou o chamado “Belém Package” e lançou declarações que buscam articular ações sobre industrialização verde e adaptação, algo inédito para a região. Assim como mostrar que Belém é uma cidade que transborda cultura. (COP30 BR, 2025)

Todavia, a nível global, percebeu-se que foi mais uma COP que não andou da forma como os ambientalistas esperavam. Pautas acerca da transição energética ficaram no limbo, principalmente sobre combustíveis fósseis. Chegaram a ser debatidas, mas no texto final obteve recuo como “redução gradativa”. Tal ponto foi palco de discussão após o ex-vice-presidente estadunidense, Al Gore, afirmar que a Arabia Saudita tem atuado para bloquear avanços sobre as transições, o que inclui os combustíveis fósseis (VEJA, 2025). Para os lobistas e os outros seguimentos burgueses, foi mais uma Conferência das Partes recheada de oportunidades para manter os interesses econômicos acima do bem-estar social e preservação ambiental.

Sob olhar atento e atemporal de Karl Marx, pode-se perceber que sua ideia acerca da base material e a superestrutura segue intacta. Marx diz que a base material (forças produtivas) determina as formas políticas e ideológicas (superestrutura) (Prefácio à Contribuição à Crítica da Economia Política, 1859). Quando aplicada à COP 30, evidencia que a base econômica global permanece sob as correntes do petróleo, mineração, agronegócio e a acumulação que se mostra ilimitada. Enquanto a superestrutura climática, tenta, de alguma forma, contornar os desfalques realizados pelos setores mencionados acima, mas sem contrariar a classe dominante no meio social, mas também, no corporativo. Isto esclarece o motivo da Conferência das Partes estagnar em diversos setores: as adaptações avançam porque não mexem com o lucro, enquanto a mitigação emperra pois há ameaça ao capital fóssil e seus Estados.

Referências:

BRASIL. Ministério dos Povos Indígenas. Ministra Sônia Guajajara diz que “recorde de presença indígena na COP 30 coloca povos originários no centro das decisões climáticas” em Belém. G1, 18 nov. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2025/11/18/ministra-sonia-guajajara-diz-que-recorde-de-presenca-indigena-na-cop-30-coloca-povos-originarios-no-centro-das-decisoes-climaticas-em-belem.ghtml. Acesso em: 25 nov. 2025.

BRASIL. Secretaria-Geral da Presidência da República. Cúpula dos Povos transforma Belém no epicentro da participação popular durante a COP30. 2025. Disponível em: https://www.gov.br/secretariageral/pt-br/noticias/2025/novembro/cupula-dos-povos-transforma-belem-no-epicentro-da-participacao-popular-durante-a-cop30. Acesso em: 25 nov. 2025.

COP30 Brazil. COP30 approves Belém Package. 2025. Disponível em: https://cop30.br/en/news-about-cop30/cop30-approves-belem-package1. Acesso em: 25 nov. 2025.

VEJA. A grave acusação feita por Al Gore contra a Arábia Saudita na COP 30. Revista Veja, 2025. Disponível em: https://veja.abril.com.br/agenda-verde/a-grave-acusacao-feita-por-al-gore-contra-a-arabia-saudita-na-cop30/. Acesso em: 25 nov. 2025.MARX, Karl.Prefácio à Contribuição à Crítica da Economia Política. 1859.