
Eduardo Oliveira- Internacionalista
Dentre as inúmeras crises presentes na contemporaneidade, como o aumento do número de conflitos internacionais ativos, a inercia de instituições ditas promotoras da paz e desenvolvimento, também o recrudescimento dos direitos humanos e de preceitos democráticos, destaca-se aquela capaz de impactar negativamente todas as formas de vida ao redor do mundo: a crise ambiental global.
A crise em questão tonou-se agenda global a partir do momento em que se tornaram visíveis os impactos de ordem ecológica e sistêmica, como o aumento da temperatura da terra, o aumento do nível do mar, a extinção de espécies da fauna e flora. Estes sintomas, que não são todos, apontavam para sentido unidirecional: o reconhecimento de que as atividades humanas são incompatíveis como o equilíbrio ecossistêmica do planeta.
Desde os anos de 1960, quando os efeitos nocivos da ação humana desenfreada começam a ser denunciados, surgem, apesar de forma discreta, movimentos contra essa lógica de apropriação do meu ambiente. Apesar disto, foi somente após a guerra fria, quando os esforços e discussões de segurança começaram a arrefecer, que a pauta ambiental tornou-se questão governamental e passou a ser debatida amplamente em organizações como a ONU.
Para além disso, é fundamental reconhecer que a complexidade dos desafios contemporâneos exige a transição da terminologia crise ambiental para crise socioambiental. Essa mudança não é um mero refinamento linguístico, mas um imperativo conceitual que reflete a compreensão da indissociabilidade entre os processos ecológicos e as estruturas sociais.
A adição do prefixo “socio” busca ressaltar que os impactos de ordem ecológica citados acima têm suas raízes profundas nas questões sociais, notadamente nos modelos de produção, consumo, e nas estruturas de desigualdade e poder que regem as relações humanas. A crise é, portanto, um fenômeno integrado, onde a degradação da natureza é inseparável da injustiça social; os grupos mais vulneráveis são, em geral, os menos responsáveis e os mais afetados pela destruição dos ecossistemas.
Essa crise é resultado de décadas de negligência e fracassos institucionais e governamentais, o que despertou a necessidade do protagonismo cidadão no enfrentamento da problemática. Entretanto, conforme evidenciado por Carvalho (2021), esse protagonismo enfrenta um obstáculo significativo: a crescente desconexão entre o ser humano e a natureza, um fator que bloqueia a percepção integral dos impactos que as ações humanas exercem sobre o meio ambiente.
Diante dos persistentes fracassos institucionais em endereçar a crescente desconexão entre a sociedade e o meio ambiente, torna-se imperativa a valorização de instrumentos alternativos de comunicação e engajamento. Tais ferramentas são essenciais para promover a conscientização e subsidiar os cidadãos com o conhecimento necessário para compreender e atuar na temática socioambiental. Neste contexto, o fenômeno da comunicação radiofônica demonstra ser um meio potente e acessível para disseminar informações cruciais sobre o tema.
Reconhecendo essa missão, como disposto em Almeida (2017), o Programa Globalizando da Rádio UNAMA FM emerge como um exemplo notável de iniciativa. Estruturado como um projeto de extensão do curso de Relações Internacionais, o programa tem como objetivo central transpor as discussões sobre fatos internacionais complexos para a esfera do cotidiano da população, estabelecendo conexões diretas entre o global e o local.
O Globalizando tem consistentemente pautado a problemática socioambiental em suas mais diversas e multifacetadas perspectivas, abordando temas cruciais como a intersecção entre saúde e ambiente, a segurança alimentar, o impacto ambiental do uso de armamentos, e a importância da cultura e valorização dos ecossistemas locais. Essa abordagem contribui significativamente para o empoderamento cívico ao fornecer subsídios informativos de alta relevância sobre as dinâmicas socioambientais.
Analisando, a rádio comunicação, também nos moldes do Programa Globalizando, se configura como um instrumento estratégico na mitigação da problemática socioambiental devido à sua ampla penetração e acessibilidade, especialmente em regiões com baixa infraestrutura de internet ou altas taxas de exclusão digital.
Sua capacidade de atingir comunidades remotas e populações marginalizadas permite a democratização do acesso a informações críticas sobre o clima, práticas de manejo sustentável de recursos naturais e alertas de desastres. Além de ser um veículo de notícias, o rádio fomenta a participação cidadã ao abrir canais para a expressão de saberes tradicionais, o debate local sobre políticas públicas e o intercâmbio de experiências de resistência e resiliência comunitária frente aos impactos ambientais. Desse modo, a comunicação radiofônica não apenas educa, mas também empodera as comunidades, transformando-as de meras vítimas da crise em agentes ativos na busca por soluções socioambientais localmente contextualizadas.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Mário Tito B.; PINHEIRO, Bruna F.; DA SILVA, Gabriella N. Programa Globalizando: o Rádio como instrumento de extensão universitária em Relações Internacionais. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS, 6., 2017, Belo Horizonte. Anais… Belo Horizonte: ABRI, 2017.
CARVALHO, D. A. F. de. O Desenvolvimento Sustentável como instrumento de alienação ambiental: rumo à sexta extinção em massa. Revista Multidisciplinar de Educação e Meio Ambiente, [S. l.], v. 2, n. 2, p. 62, 2021. DOI: 10.51189/rema/1292. Disponível em: https://edito
LEFF, Enrique. Epistemologia ambiental: da articulação das ciências ao diálogo de saberes. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
WORLD RESOURCES INSTITUTE (WRI). History of Carbon Dioxide Emissions. 2024. Disponível em: https://www.wri.org/insights/history-carbon-dioxide-emissions. Acesso em: 4 ago. 2025
