
Maria Eduarda Perdigão, acadêmica do 2° semestre de Relações Internacionais da Unama.
Ficha Técnica:
Ano: 2023
Gênero: Drama
Diretor: Rikiya Imaizumi
Distribuição: Netflix
País de Origem: Japão
O longa-metragem japonês, “Meu Nome é Chihiro” (Call Me Chihiro, 2023), dirigido por Rikiya Imaizumi e baseado no mangá “Chihiro-san”, escrito por Hiroyuki Yasuda, aborda temas como empatia, marginalização e cotidiano através das relações humanas. Ambientado em uma pequena cidade litorânea do Japão, o filme acompanha a trajetória de Aya, uma ex-acompanhante que decide abandonar sua antiga vida para trabalhar em uma loja de bentôs e por conta de seu antigo trabalho, é conhecida e chamada por “Chihiro”, seu antigo nome artístico (Dias, 2023).
Evitando grandes reviravoltas e conflitos, o longa apresenta Chihiro ao telespectador de maneira sensível e simbólica, sem amarras morais e estigmatização referentes a seu antigo trabalho. Ao invés disso, a trajetória da protagonista é construída a partir de encontros e conversas com diferentes personagens igualmente marginalizados, evidenciando sua capacidade empática ao acolher indivíduos, como jovens solitárias e moradores de rua com naturalidade e sem julgamentos, o que a torna uma figura de conforto, revelando uma humanidade e profundidade emocional capaz de transformar as pessoas a seu redor.
Todavia, a personagem carrega consigo marcas de seu passado as quais influenciam suas escolhas e o modo o qual ela se relaciona com os outros, vivendo entre o desejo de pertencimento e a constante sensação de deslocamento. Chihiro evita criar vínculos profundos e não consegue permanecer em um lugar por muito tempo, peregrinando de um canto para outro em busca de uma paz que não está mundo afora, sentindo como se não se encaixasse totalmente a um único lugar. Essa inconstância entre a força e a fragilidade é o que torna Chihiro uma figura tão humana, a destacando não apenas por ser a narrativa principal do filme, mas sim por suas contradições que geram curiosidade e empatia pelos conflitos silenciosos os quais trava consigo mesma (Borges, 2023).
Nesse sentido, o filme pode ser interpretado à luz da Teoria Feminista das Relações Internacionais (RI), vertente que busca abranger a compreensão acerca de como os conceitos das relações internacionais foram formulados predominantemente a partir de uma visão masculina, limitando a compreensão das dinâmicas internacionais e desconsiderando as contribuições e experiências de mulheres e outras identidades de gênero, tratando-as como margem da política global ( E-International Relations, 2018).
Nesse viés, a teórica feminista das Relações Internacionais, Christine Sylvester, apresenta em sua obra “Feminist Theory and International Relations in a Postmodern Era” (1994), uma abordagem a qual retira o foco das RI dos Estados para a experiência humana, ou seja, o cotidiano. Para Sylvester, o cotidiano é um espaço político central, no qual as normas sociais, relações de poder e experiências moldam e são moldadas pela ordem internacional. Desse modo, as formas de poder antes invisibilizadas pelos paradigmas dominantes, podem se expressar livremente, demonstrando que a vida comum, o corpo e as emoções são elementos fundamentais para a compreensão da política global.
No filme, essa perspectiva se encontra no modo em como a personagem transforma seu convívio, ou seja, o seu cotidiano, em um espaço de reinvenção social e empatia. As ações e a forma em como Chihiro ocupa espaços e constrói vínculos revelam uma política feita de afeto e presença, demonstrando que a política também se manifesta através do cuidado, das relações afetivas e da ternura, incorporando visualmente a teoria elaborada por Christine Sylvester de que a vida comum também é campo legítimo de análise política e feminista através de práticas pequenas capazes de reconfigurar o âmbito social.
Por fim, Call Me Chihiro convida o telespectador a repensar o que compreendemos por gentileza e vida em sociedade, destacando-se ao celebrar a delicadeza entre as relações humanas através de uma narrativa sensível e acolhedora. Assim, o filme evidência como gestos simples – que muitas vezes podem passar despercebidos -, podem carregar grandes significados, revelando a importância das pequenas trocas e a beleza que habita na simplicidade das rotinas monótonas e silenciosas.
REFERÊNCIAS:
BORGES, Fernanda. Meu nome é Chihiro. 2023. Disponível em: https://cineminhazumbacana.wordpress.com/2023/03/05/meu-nome-e-chihiro-2023/ Acesso em: 28 Nov. 2025
DIAS, Helena. J-Drama “Meu Nome É Chihiro”- Crítica. 2023. Disponível em: https://www.coisasdemineira.com/2023/03/j-drama-meu-nome-e-chihiro-critica/ Acesso em: 20 Nov. 2025
E-International Relations. Introducing Feminism in International Relations Theory. 2018. Disponível em: https://www.e-ir.info/2018/01/04/feminism-in-international-relations-theory/ Acesso em: 29 Nov. 2025
SYLVESTER, Christine. Feminist Theory and International Relations In A Postmodern Era. 1994. New York: Cambridge University Press.
