Julia Castro, acadêmica do 8º semestre de Relações Internacionais da Unama

Ficha Técnica:

Ano: 2019 – 2026

Criador: Eric Kripke

Distribuição: Amazon Prime Video

Gênero: Ação, Comédia

País de Origem: Estados Unidos

Baseada nos quadrinhos homônimos criados por Garth Ennis e Darick Robertson, a série The Boys é uma sátira ambientada em um mundo em que super-heróis, conhecidos como “Supers“, são celebridades e símbolos de justiça, embora muitos deles sejam corruptos, violentos e moralmente duvidosos. Misturando humor negro e uma crítica social ácida sobre a sociedade norte-americana, a obra explora temas como poder, corrupção e mídia (Bandeira, 2024).

A trama inicia quando Hughie Campbell testemunha sua namorada sendo morta acidentalmente porA-Train, um super-heroi. Buscando justiça, Hughie se une a Billy Butcher, um homem movido por vingança contra os Supers.

Juntos, eles formam os The Boys, um grupo que luta para revelar os segredos obscuros dos heróis, incluindo a verdade por trás do Composto V, responsável por transformar bebês em supers.  O time também inclui Leite Materno (Mother’s Milk),  Francês e Kimiko (Esmeraldo, 2020).

No lado oposto, encontram-se Os Sete, o time mais influente da Vought International, tendo figuras como Capitão Pátria (Homelander),  líder da equipe que constitui o maior risco da série, e Luz-Estrela (Starlight), que descobre a podridão por trás da fachada heroica.

A Vought é uma megacorporação farmacêutica que criou esses heróis e controla eles, lucrando com sua imagem e encobrindo seus crimes. Conforme a história se desenrola, são descobertas conspirações relacionadas à criação dos heróis, envolvendo manipulação política e interesses militares (Esmeraldo, 2020).

A série apresenta uma desconstrução radical do mito do super-herói, revelando-o como uma massa de manobra corporativa que transforma poder e moralidade em mercadoria. Os “supers” não são agentes altruístas, eles são gerenciados pela Vought que controla suas imagens, discursos e comportamentos com base em interesses financeiros e políticos. 

Sob a ótica de pensadores da Teoria Crítica das Relações Internacionais, a narrativa expõe como estruturas de poder operam para naturalizar dominação e desigualdade, questionando narrativas hegemônicas que legitimam a ordem vigente.

Para o filósofo italiano Antonio Gramsci (2000), a hegemonia se sustenta quando uma classe dominante consegue apresentar seus interesses particulares como universais, moldando valores, crenças e percepções sociais. Ou seja, não é apenas uma direção política, mas também cultural (Aguiar, 2016). 

Em The Boys, a Vought pode ser entendida como um agente hegemônico que exerce influência não só por meio da coerção, mas principalmente por meio do consenso. Isso se concretiza na representação midiática dos super-heróis como ícones de patriotismo, ao passo que seus crimes são ocultados pela grande mídia.

Os autores Adorno e Horkheimer, da Escola de Frankfurt, também descrevem uma regressão do pensamento que perpetua a menoridade humana, levando à barbárie por meio da substituição da razão crítica pela mitificada. Essa barbárie promove a imitação de gestos e palavras alheias, automatizando mecanismos totalitários nos indivíduos via ideologias políticas (Santos, 2013). 

O personagem Capitão Pátria é retratado como uma sátira do típico super-herói americano, personificando a hipocrisia e os abusos do poder absoluto. Sua figura serve como uma crítica contundente ao autoritarismo e ao nacionalismo exacerbado, revelando como líderes nocivos podem ser exaltados sob o discurso do “American Way” (Felix, 2019). 

Em suma, The Boys destaca como a manipulação de narrativas atua como um instrumento de dominação cultural, sendo um aspecto fundamental no pensamento crítico das Relações Internacionais. Enquanto o espetáculo midiático cria uma realidade paralela em que a corporação é vista como essencial para a ordem social, escândalos são reinterpretados e opositores são deslegitimados. 

REFERÊNCIAS: 

AGUIAR, Ítalo Pires. Comunicação, poder e hegemonia em Antonio Gramsci. Entropia, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 80–94, jul./dez. 2016.

BANDEIRA, Eduardo. Série “The Boys” estimula debate sobre desafios atuais da comunicação. Jornal UFG, Goiânia, 2024. Disponível em: https://jornal.ufg.br/n/183003-serie-the-boys-estimula-debate-sobre-desafios-atuais-da-comunicacao. Acesso em: 15 dez. 2025.

ESMERALDO, Sabryna. The Boys: resumo das temporadas e os principais personagens. Aficionados, 2020. Disponível em: https://www.aficionados.com.br/the-boys-resumo-trama-temporada-principais-personagens/. Acesso em: 15 dez. 2025.

FELIX, Fábio. The Boys: a reação da extrema direita sobre os debates de autoritarismo e do capitalismo. Disponível em: https://movimentorevista.com.br/2024/09/the-boys-a-reacao-da-extrema-direita-sobre-os-debates-de-autoritarismo-e-do-capitalismo/. Acesso em: 13 dez. 2025.

SANTOS, Francisco Clever Nunes dos. O percurso do esclarecimento: uma análise a partir da obra Dialética do Esclarecimento de T. W. Adorno e M. Horkheimer. Revista Eros, v. 1, n. 1, p. 129–142, out./dez. 2013.