
Nina Roberta Fernandes da Silva – acadêmica do 6º semestre de Relações Internacionais (UNAMA)
O termo capital financeiro partindo da visão inicial de Rudolf Hilferding, um renomado economista em 1910, é a junção do capital bancário com o capital industrial, ambos sob a dominação de grandes bancos. No contexto hodierno, o Capital financeiro faz referência aos conjuntos de ativos que fazem a economia se movimentar e que, além disso, podem passar pelo processo de conversão para dinheiro. É onde se encontram os títulos de renda fixa e das ações que passam por negociação na bolsa de valores (CAPITAL, [s.d.]).
Usufruindo do avanço tecnológico que marca o contexto do século XXI, os consórcios de banco introduziram câmaras de compensação automatizadas e transferências eletrônicas. Um dos mais emblemáticos feitos foi a Câmara de Compensação do Sistema de Pagamentos Interbancário (Clearinghouse Interbank Payments System – CHIPS) para o euromercado e outras transações internacionais (GUTTMANN, 1996).
No cenário atual, observa-se a significativa expansão de novos modelos de moeda bancária privada, que impede os bancos centrais de garantirem um equilíbrio. Dessa forma, o modelo de controle monopolista do banco central em relação ao sistema de pagamentos tem sido desafiado pela crescente onda dos sistemas de pagamentos operados de maneira privada.
Segundo Susan Strange, que foi economista política e uma das fundadoras da Economia Política Internacional (EPI), o poder não se resume a quem possui o maior exército, que ela nomeou de Poder Relacional, mas sim a quem define as regras do jogo, aqui sendo chamado de Poder Estrutural. Deve ser destacado que o sistema financeiro é a estrutura mais crítica do poder global pois o crédito, a liquidez e a capacidade de investir ou emprestar são cruciais para os Estados e empresas a nível indissolúvel (STRANGE, 1988).
Logo, quem controla esse fluxo (bancos centrais, instituições financeiras privadas, entre outras variantes) tem um poder indiscutível sobre as nações (ALENCAR e NUNES, 2018).
É essencial pontuar que, dentro do processo de globalização, a integração econômica começou a ser alinhada pela liberalização e desregulamentação dos sistemas monetários e bancários dos Estados, que começaram a expandir a capacidade de internacionalização do capital financeiro. Esse movimento teve início pelos EUA e seu sistema financeiro nacional, onde o representante se encontra sendo Wall Street (MARCUSSI, 2017).
Se encontram as finanças comandando hoje o ritmo da acumulação stricto sensu, termo que representa o processo de reprodução ampliada do capital em seus dois modelos de funcionamento: o da criação de capacidades de produção novas e o da extensão das relações de produção capitalistas, que são lidas como relações de exploração imediatas da força de trabalho por um capital orientado para a produção de valor e de mais valia (CHESNAIS, 2001).
Deve ser destacado que os verdadeiros participantes que se beneficiam do capitalismo contemporâneo são os investidores institucionais, porém eles preferem se manter de maneira discreta. Enquanto os administradores de fundo de investimento preferem ficar no anonimato, os grupos industriais, junto aos governos, são constantemente observados (CHESNAIS, 2001).
Além disso, deve ser ressaltado que a mundialização do capital acentuou os fatores de hierarquização entre os países. Sob essa perspectiva, existe uma separação entre os países da América do Norte, Japão e Europa daqueles que sofrem com a dominação do capital financeiro sem qualquer tipo de retorno ou não é mais interessante de maneira nenhuma o capital produzido.
As transformações pelas quais o capital financeiro passou ressaltam, assim, o seu poder sobre o mundo, esses processos vieram a criar um modelo de funcionamento político e econômico internacional, onde o sistema produtivo é cada vez mais dividido enquanto se produz poucos, porém, grandes grupos com o capital financeiro centralizado e concentrado (MARCUSSI, 2017).
Para concluir, deve ser destacado que existe a possibilidade de as estruturas de poder que o capital financeiro contemporâneo utiliza de base sejam modificadas. Isso depende do delineamento estratégico que os países adotarão para contornar tal cenário, podendo ser pensado em projetos que venham com cunho de auxiliar os países a ter mais controle do ramo financeiro contemporâneo, em específico do espectro especulativo.
Sendo um exemplo a criação de agentes reguladores para que a transição monetária possua mais controle e deixe de ser uma área turva ainda em termos de regulamentação.
Todavia, o maior impasse para a realização desse movimento acaba sendo como realizar de maneira efetiva modificações radicais em um modelo de funcionamento que está se tornando cada vez mais enraizado no século XXI.
Logo, tem que ser pensado e delineado não somente por um país, pois no contexto de um mundo em globalização, em especial no ramo financeiro especulativo, seria utópico sua efetividade, sendo necessário a participação de mais colaboradores para o delineamento estratégico passar a ser, de fato, efetivo.
Referências Bibliográficas:
ALENCAR, Fernando Barcellos de Andrade; NUNES, Lucas Silva Ferreira. SUSAN STRANGE: PODER ESTRUTURAL E HIERARQUIA MONETÁRIA, UMA BREVE DISCUSSÃO. Revista de Geopolítica, [S. l.], v. 9, n. 1, p. 125–142, 2018. Disponível em: https://revistageo.com.br/revista/article/view/203. Acesso em: 14 dez. 2025.
CAPITAL financeiro: o que é e qual é a sua importância. Onze [s.d.]. Disponível em: https://www.onze.com.br/blog/capital-financeiro/. Acesso em: 08 dez. 2025.
CHESNAIS, François. Mundialização: o capital financeiro no comando. Revista Outubro, volume 5, fev, 2001. Disponível em: https://outubrorevista.com.br/mundializacao-o-capital-financeiro-no-comando/. Acesso em: 14 dez. 2025.
GUTTMANN, Robert. A transformação do capital financeiro. Economia e Sociedade, Campinas, (7): 51-83, dez. 1996. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ecos/article/view/8643180/10725. Acesso em: 12 dez. 2025.
MARCUSSI, Rúbia. As transformações do capital financeiro e o crescente papel dos investidores institucionais. Revista Perspectiva: reflexões sobre a temática internacional, [S. l.], v. 8, n. 15, 2017. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/RevistaPerspectiva/article/view/71246. Acesso em: 14 dez. 2025.STRANGE, Susan. States and Markets. 1. ed. Ebook. Bloomsbury Academic, 2015. Disponível em: https://www.bloomsbury.com/states-and-markets-9781474236935/. Acesso em: 16 dez. 2025.
