Ana Gabriela Silva – Acadêmica do 4º semestre de Relações Internacionais da UNAMA.

As guerras acontecem há muitas eras, começam e terminam repetidamente, com intervalos e intensidades diferentes, hora curtos, outras vezes longos, por motivos que se repetem ao longo da história, conquistas, disputas por territórios, religião, busca por poder e etc. Por outro lado, os efeitos e consequências são basicamente os mesmos: lucro, território, reconhecimento, destruição, perdas, morte e as pessoas comuns que não têm nada a ver com a situação sempre sofrem, porque são a parte mais fraca e vulnerável, principalmente crianças e adolescentes.

Em 1948, foi criada e aprovada pela Assembleia Geral da ONU, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, elucidando direitos e liberdades do ser humano, bem como sua integridade e dignidade pessoal, além de direitos políticos, econômicos, sociais, civis e culturais. Onze anos depois foi anunciada a Declaração dos Direitos da Criança, direito à liberdade, educação, alimentação e convívio social (Silva, 2025). Apesar das boas intenções dos Estados que aprovaram as Declarações, a realidade é diferente. Em áreas de guerra, as Fundações, Organizações Internacionais e Não-Governamentais tentam proteger as pessoas e garantir o mínimo de seus direitos, porém as circunstâncias não são nada favoráveis.

Segundo a UNICEF (2022), seis violações graves ocorrem em tempos de guerra com crianças e adolescentes. Matanças e mutilações, seja por bombardeios ou ameaças diretas; recrutamento ou uso de crianças e adolescentes nas forças armadas ou grupos armados; ataque a escolas e hospitais; estupro ou violência sexual grave; rapto e recusa de acesso humanitário a crianças e adolescentes. Entre 2005 e 2020, esses atos somaram mais de 200 mil casos em conflitos na Ásia, Oriente Médio, América Latina e África (UNICEF Brasil, 2022).

No ano de 2025, houve muitos registros de casos de abusos, desrespeito ao Direito Internacional, privação de ajuda humanitária, com ataques desenfreados, descumprindo o cessar-fogo, que ultrapassaram o limite do aceitável. No caso do conflito entre Israel e Palestina, constam registros de agressões, mutilações e assassinatos de crianças com todos os tipos de direitos violados. Além de casos semelhantes ocorridos na Somália, Haiti, República Democrática do Congo e Nigéria. Virginia Gamba, representante do secretário-geral para Crianças e Conflitos Armados, disse que chegaram a um ponto sem volta e inaceitável, onde ela pede o fim da guerra contra as crianças e a volta do respeito ao Direito Internacional Humanitário (ONU News, 2025).

O neurocientista da Universidade de Columbia nos Estados Unidos, Christopher Anacker, afirma que altos estresses, traumas, separação da família, por motivos de morte ou outras razões, nessa fase da vida, quando o cérebro ainda está em desenvolvimento, portanto mais maleável, pode trazer consequências irreversíveis, se tornando adultos mais estressados, ansiosos, depressivos e com tendência a desenvolver doença de Alzheimer, por isso adultos poderiam superar com mais facilidade situações de grande estresse, pois seus cérebros estão mais endurecidos. Em alguns lugares onde a UNICEF tem mais acesso, conseguem cuidar e preservar dentro do possível, crianças e adolescentes, ajudando-os a superar perdas, se conectar com outros e brincar em um espaço seguro (Schwaller, 2024).

 Essa situação tão complicada vivida por tantas crianças, adolescentes e pessoas em geral, que estão em situação de guerras só irá melhorar quando estes conflitos cessarem. Para que isso aconteça é necessário que haja uma mudança estrutural de como as coisas são feitas, negociadas, planejadas e levadas adiante, pois a estrutura que se tem é claramente falha e que produz desavenças e desentendimentos. Segundo Gilberto de Oliveira (2024), em sua análise do pensamento de Johan Galtung, a paz deveria ser definida pela superação de todas as formas de violência, seja ela direta e física, indireta dentro da concepção das estruturas da sociedade formatadas injustamente ou enraizadas na cultura.

As mudanças propostas por Galtung (1969), fazem muito sentido já que todas essas estruturas existem a muito tempo e não mudam, por essa razão guerras e conflitos ocorrem desde o início das civilizações, ainda pelos mesmos motivos. Apenas se as pessoas mudarem seus comportamentos, como pensam, como agem, como são afetadas pelo meio e como o meio em que vivem pode ser mudado por sua reação ao lhe é oferecido. Estas mudanças profundas poderiam ser facilmente tidas como utópicas, já que seria necessário que os poderosos do mundo mudassem também, porém quando se chega a um certo limite e as estruturas já são difíceis de manter, é aconselhável mudar e se adaptar às novas tendências.

Referências

OLIVEIRA, Gilberto Carvalho de. Johan Galtung e a paz por meios pacíficos. Le Monde diplomatique Brasil. 21 de fev. 2024. Disponível em <https://diplomatique.org.br/johan-galtung-paz/> Acesso em: 19 de dez. 2025.

ONU News. Cerca de 22,5 mil crianças sofreram violações graves em conflitos armados. Nações Unidas. 20 de jun. 2025. Disponível em <https://news.un.org/pt/story/2025/06/184977> Acesso em: 19 de dez. 2025.

SCHWALLER, Fred. Como a guerra afeta o desenvolvimento das crianças. DW. 22 de abril 2024. Disponível em <https://www.dw.com/pt-br/como-a-guerra-afeta-o-desenvolvimento-das-crian%C3%A7as/a-68891812> Acesso em: 19 de dez. 2025.

SILVA, Paulo Lins e. Os Tratados Internacionais de Proteção às Crianças e aos Adolescentes. IBDFAM: Instituto Brasileiro de Direito da Família. Disponível em <https://ibdfam.org.br/assets/upload/anais/254.pdf> Acesso em: 19 de dez. 2025.

UNICEF Brasil. Seis graves violações contra crianças e adolescentes em tempos de guerra.  UNICEF Brasil. 8 de mar. 2022 Disponível em <https://www.unicef.org/brazil/innocenti/brazil/seis-graves-violacoes-contra-criancas-e-adolescentes-em-tempos-de-guerra> Acesso em: 19 de dez. 2025.