
Caio Farias Martins
Marcelo Eduardo Alves de Brito
Com intuito de realizar a retrospectiva 2025 sob a esfera econômica, é inegável afirmar que este ano teve a presença de diversos acontecimentos que afetaram as dinâmicas globais. Nessa perspectiva, tais eventos possuem correlações com o mercado financeiro até o mercado real, com protecionismo avançado estadunidense, consolidação de estruturas na economia política internacional e dentre outros. Destarte, tais momentos evidenciam cada vez mais de que forma o fenômeno da “interdependência global”, caracterizado pela crescente conexão e dependência mútua entre Estados e mercados, intensifica a velocidade e a profundidade com que choques econômicos se espalham pelo sistema internacional.
Dentre os principais acontecimentos de 2025, destaca-se a política protecionista de Donald Trump em seu segundo mandato, o qual impôs de novas tarifas comerciais, conhecida como “tarifaço”, afetando países do Sul Global dependentes do mercado estadunidense.
Imagem 01: Distribuição Global dos Impactos do “Tarifaço” Estadunidense

Fonte: G1 (2025)
Disponível: https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/08/01/mapa-do-tarifaco.ghtml
Conforme a imagem 01, é evidente que as tarifas adotadas pelos Estados Unidos gerou impactos relevantes no sistema econômico internacional e, de forma direta, em economias emergentes como a brasileira (G1, 2025). Assim, provocou instabilidades nas cadeias globais de valor, aumento da volatilidade financeira e retração de fluxos comerciais, evidenciando a fragilidade das economias periféricas diante de choques oriundos dos centros econômicos.
Ademais, observa-se em 2025 um movimento de consolidação e tentativas de reestruturação da economia política internacional, marcado por esforços de diversificação de parcerias e fortalecimento de arranjos multilaterais alternativos.
Nesse contexto, ganharam destaque as tentativas de avanço nas negociações entre o Mercosul e a União Europeia, ainda que permeadas por questões políticas e, principalmente, protecionismo agrícola como principal obstáculo, refletindo a complexidade de harmonizar interesses entre blocos com distintos níveis de desenvolvimento (CEPAL, 2021).
Outro acontecimento relevante de 2025 foi a realização da Conferência das Partes (COP) pela primeira vez na região amazônica, fato de grande simbolismo político e econômico. A escolha de Belém, símbolo da Amazônia como sede, reforçou o protagonismo do Brasil no debate ambiental global e contribuiu para o aumento da conscientização verde, ampliando discussões sobre desenvolvimento sustentável, financiamento climático e preservação ambiental. Tal evento também impactou as expectativas de investimentos internacionais, ao alinhar o país às diretrizes do Acordo de Paris (UNFCCC, 2015) e aos instrumentos de financiamento climático do Fundo Verde para o Clima (GREEN CLIMATE FUND, 2023), estimulando o interesse em projetos concretos de energia renovável e saneamento básico na Amazônia.
De forma geral, os acontecimentos econômicos e políticos de 2025 demonstram elevada capacidade de reverberação internacional, espalhando-se de maneira rápida e profunda pelo sistema econômico global. Em um contexto marcado pela globalização e pela forte integração entre mercados financeiros, cadeias produtivas e fluxos de capitais, choques originados em grandes economias ou eventos multilaterais, conforme Castells (2010) tendem a afetar simultaneamente diferentes regiões, intensificando a volatilidade e ampliando os efeitos sistêmicos sobre a economia internacional.
Essa dinâmica pode ser analisada a partir da teoria da Interdependência Complexa, desenvolvida por Robert Keohane e Joseph Nye, especialmente na obra Power and Interdependence (1977). Segundo os autores, o sistema internacional contemporâneo é marcado pela existência de múltiplos canais de interação entre os Estados — econômicos, políticos, sociais e institucionais —, pela ausência de uma hierarquia clara entre os temas da agenda internacional e pela instrumentalização do uso da força militar, que permanece como prerrogativa exclusiva dos Estados, deixando de ser o principal instrumento de poder nas relações internacionais.
Nesse contexto, decisões econômicas, políticas comerciais e agendas ambientais passam a gerar efeitos transnacionais amplificados, tornando as economias mais sensíveis e vulneráveis a choques externos. Assim, os acontecimentos de 2025 evidenciam como a intensificação da interdependência global amplia a velocidade e a profundidade da propagação de impactos econômicos, reforçando a relevância das análises de Nye e Keohane para a compreensão da economia política internacional contemporânea.
Referências:
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
CEPAL. O acordo Mercosul–União Europeia: desafios e oportunidades para o desenvolvimento sustentável. Santiago: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, 2021. Disponível em: https://www.cepal.org. Acesso em: 2025.
G1. Mapa do tarifaço: veja países mais e menos afetados com novas taxas dos EUA. G1, 01 ago. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/08/01/mapa-do-tarifaco.ghtml. Acesso em: 28 dez. 2025.
GREEN CLIMATE FUND. Investing in climate-resilient development. Incheon: Green Climate Fund, 2023. Disponível em: https://www.greenclimate.fund. Acesso em: 2025.
KEOHANE, Robert O.; NYE, Joseph S. Power and interdependence: world politics in transition. Boston: Little, Brown and Company, 1977.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). COP e agenda climática global. ONU, 2025. Disponível em: https://www.un.org. Acesso em: 2025.
UNFCCC. Paris Agreement. Paris: United Nations Framework Convention on Climate Change, 2015. Disponível em: https://unfccc.int. Acesso em: 2025.
