
Nivia Iani Silva Imbiriba
3° semestre.
Conhecida por ser uma zona de influência regional, de interesses externos, econômicos e políticos, atrelados à dominação territorial e populacional que, por muitos séculos, guiou a condução do país por mãos que não eram, nem mesmo, conhecedoras da região, apenas, dominadoras.
Somado a isto, o Estado iraniano está localizado no Oriente Médio entre o Mar Cáspio e os Golfo Pérsico e de Omã, importantes ferramentas de passagem entre o Oriente Médio e a Ásia Central. Ao que concerne principalmente ao Golfo Pérsico, esta região é símbolo de poder, de estratégias e de disputas territoriais, devido a sua passagem promover e facilitar a distribuição do petróleo para o mundo, o qual é uma das bases mais vantajosas e rentáveis à economia iraniana.
Dessa forma, no que se refere à guerra revolucionária, segundo a tese de Héctor Saint-Pierre, “uma guerra será revolucionária se estiver a serviço de uma causa revolucionária, se ela for a manifestação bélica de uma política revolucionária” (SAINT-PIERRE, 1996), dito de outro modo, uma guerra revolucionária só será possível se abarcar causas que, realmente, alterem a dinâmica das políticas coercitivamente impostas, de Estados, sobre outros e que retomem o controle interno visando trazer melhorias econômicas, políticas e sociais ao seu território, sem haver influências externas na condução do Estado.
Por conseguinte, tratando-se da guerra revolucionária iraniana, a Revolução Iraniana de 1979 foi o que alterou profundamente o modo de agir do Irã e de ser, enfim, reconhecido no mundo. À luz da teoria construtivista, o mesmo passou de ator, quem cria um personagem que não é ele e executa um roteiro determinado, para agente, o qual tem vontades e interesses próprios, desse modo, deixou de ser submetido ao controle estrangeiro, para agir sob seu pensamento, suas escolhas e necessidades.
Em adição, a revolução iraniana foi um movimento revolucionário de massas, (sendo a primeira revolução televisionada ao vivo pelos canais televisivos e de rádio) motivado para se opor à autocracia conduzida pelo Xá Mohammed Reza Shah Pahlavi. A forte dinastia foi fundada por seu pai, o Xá Reza Khan, e mantinha-se no poder “pelo uso cada vez maior da repressão política” (COGGIOLA, 2007), assim como, da repressão pelo uso da força bélica. A dinastia usava os investimentos, adquiridos por intermédio das reservas petrolíferas, para investir em tecnologia militar de ponta, tornando-se o maior comprador de armamentos bélicos dos Estados Unidos na década de 1960.
Segundo o teórico neorrealista Kenneth Waltz, a compreensão do poder que se tem se dá através do poder bélico, assim, deixando nítida a aliança iraniana com os norte-americanos, os quais queriam alavancar a “onda anticomunista” que era disseminada durante a Guerra Fria. Tal repressão explicitava-se em distintos âmbitos, como na aprovação de um projeto de lei que se dizia “laico e pluralista” no qual previa a proibição do uso do véu pelas mulheres, mantendo-as em casa, a censura ao clero e a invasão a escolas religiosas por meio da polícia política do Xá, a Savak. A qual realizava a intimidação de pessoas, torturas, detinham protestos e prendiam quem se opusesse ao regime.
No entanto, contraditoriamente ao dizer “pluralista” da lei proposta, o Xá omitiu que a Constituição fosse seguida pelos eleitos que tivessem o Islã como sua religião, fazendo com que o juramento diante do parlamento fosse feito sob qualquer escritura sagrada, dessa forma, excluindo o Alcorão e negando o contingente populacional que, em sua grande maioria, é de religião islâmica.
Destarte, entra em cena o Imã Ruhollah Khomeini que foi o aiatolá (espelho de Deus) xiita (defensores de Ali, sucessor de Maomé) iraniano, líder espiritual e político da revolução. Seguindo, o aiatolá contrapôs-se inteiramente à lei proposta pelo Xá, à Savak e suas ações repressoras, bem como à submissão aos interesses dos Estados Unidos. Diante de protestos e greve geral, o primeiro-ministro revogou o projeto de lei, posteriormente, Khomeini foi preso devido a negar que religiosos da província de Qom fossem proibidos de celebrar o ano novo iraniano, porém após um período, foi libertado. Desse modo, o aiatolá Khomeini foi um imenso e importante líder revolucionário que influenciou o povo a lutar contra a ditadura autocrática do Xá, para combater a impetuosa Savak, superar as profundas desigualdades sociais, e recuperar os reais valores do islamismo que estavam sendo deturpados. Sendo preso e exilado em Bagdá e Paris.
Sob o pensamento de Ali Shariati, sociólogo e intelectual revolucionário iraniano, seus estudos discorreram acerca da revolução política, na qual o autor dizia ser a busca pública ativa pelo bem, sendo a transição pública o caminho até a redescoberta do verdadeiro eu. Desse modo, relacionando à teoria crítica, a qual questiona as bases teóricas de tudo que era dito antes, o teórico Habermas fala sobre a práxis dialógica que se refere ao estabelecimento da reflexão que leve ao diálogo. Em suma, sobre os dois autores, a revolução política tem como sua base insubstituível, a práxis dialógica, reflexão na qual levou milhares de iranianos a dialogarem juntos, materializando-se na forma de protestos, contra um regime opressor que resultou numa guerra revolucionária iraniana. A qual obteve seu sucesso em 1º de fevereiro de 1979, após a queda do Xá, marcada pelo retorno do aiatolá Khomeini à capital Teerã, assumindo a liderança da revolução e declarando a República Teocrática Islâmica Iraniana, tendo governado o Irã até a sua morte em 1989.
Relacionado a isto, no que tange à primeira revolução televisionada, expõe-se a atuação da imprensa no modo com que se falava e o que se disseminava acerca da revolução. Adicionalmente, a imprensa estrangeira ocidentalista, juntamente a seus aliados políticos, buscava noticiar sobre o aiatolá sempre ligado à violência, badernas, confusões, transmitindo para o mundo a imagem de um líder irresponsável, inconsequente e incapaz de liderar uma revolução. Já não bastasse a criação de um líder que personificava o mal, a imprensa ainda tratou de deturpar e relacionar o caos generalizado ao islamismo, denotando-o uma imagem fanática e extremista, que só ganhou ainda mais destaque com os ataques de 11 de Setembro, às Torres Gêmeas, ao relacionar grupos extremistas à religião Islâmica e a população muçulmana, os quais nada tem a ver e, nem mesmo, se relacionam ao extremismo de grupos, que interpretam propositalmente, de forma errada, o Alcorão, a bíblia sagrada do islã.
Logo, a guerra revolucionária iraniana remodelou o cenário interno e externo do Irã, trazendo-lhe profundas mudanças estruturais na política, na sociedade e no seu destaque diante do cenário internacional, tornando-o um dos líderes do Oriente Médio. Por fim, é imprescindível descaracterizar a imagem que, até hodiernamente, se difunde por um grande contingente populacional, acerca da religião islâmica estar atrelada ao extremismo, as bases religiosas do islã nada se assemelham à correntes terroristas, portanto, o mundo ocidental deve tratar de corrigir os seus erros ainda disseminados.
REFERÊNCIAS:
BASTOS, C; OLIVEIRA, S. Ação Comunicativa e Ação Dialógica: Contribuições para Uma Educação Libertadora. APRENDER – Cad. de Filosofia e Psic. de Educação, Vitória da Conquista, v. 4, n. 7, 2006, p. 119-134.
COGGIOLA, Osvaldo. A Revolução Iraniana. 1.ed. São Paulo: Editora da Unifesp, 2007.
DIAZ. L; BALARDI, R. A Ideologia do Neo-realismo de Kenneth Waltz. Anais do 10° Salão Internacional de Ensino e Pesquisa de Extensão – SIEPE, Santana do Livramento, Nov. 2018, p. 1-6.
OLIVIERO, Maurizio. Os países do mundo islâmico. Revista Novos Estudos Jurídicos – Eletrônica, v. 22, n. 1, Jan./Abr. 2017, p. 162-200.
SANTO, M; BALDASSO, T. A Revolução Iraniana: Rupturas e Continuidades na Política Externa do Irã. Revista Perspectiva: Reflexões Sobre a temática Internacional, Espírito Santo, v. 10, n. 18, Fev. 2018, p. 70-84.
SHARIATI, Ali. SHARIATI, Ali, GLOBAL SOCIAL THEORY. 11 May. 2015. Disponível em: globalsocialtheory.org/thinkers/shariati-ali/. Acesso em: 20 de junho de 2023.
ZANONI, David Anderson. Do Xá ao Aiatolá: as representações sobre a Revolução Iraniana através da Revista Veja (1978-1979). Revista Cantareira, n. 18, 5 fev. 2019.

Excelente texto! Parabéns Nívia!!
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Ainda hoje existe muito preconceito sobre a religião islâmica, o qual se vê em muitas obras cinematográficas como filmes e séries.
É imprescindível saber a origem de tamanho preconceito.
Um excelente texto!
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