
Larissa Schoemberger – Internacionalista formada pela UNAMA
Podemos concordar que o ano de 2023 foi cheio de “polêmicas” internacionais que deram o que falar, indo de temas políticos e geopolíticos passando por temas de direitos humanos, meio ambiente, mudanças climáticas, até a economia. Aqui vamos comentar um pouco sobre alguns temas internacionais que marcaram o ano para as relações internacionais e o que podemos esperar em 2024.
Começando por assuntos inacabados em 2022, temos o conflito Rússia-Ucrânia. Para analistas de assuntos internacionais, alguns acontecimentos eram esperados tendo em vista que não foram findados no ano passado e ainda estarão em curso em 2024, pelo menos no começo.
O caso do conflito na Ucrânia teve seu início em fevereiro de 2022 e vem acontecendo até o momento. Em todo esse momento o conflito teve várias reviravoltas no ano passado e esse ano não foi diferente, em destaque esse ano podemos pontuar em junho a “traição” do grupo Wagner, ao se rebelarem e marcharem em direção a Moscou e dois meses depois a morte de Prigozhin, chefe do grupo, e a contraofensiva de Kiev com a intenção de recuperar os territórios ocupados por Moscou, mas que foi logo barrada por uma sólida defesa russa, mesmo com essa contraofensiva frustrada o exército ucraniano ainda conseguiu recuperar algumas cidades no sul e no leste (AFP, 2023, online).
Continuando pela pauta geopolítica esse ano ainda tivemos quatro conflitos de destaque no cenário internacional, em julho o Níger sofreu um golpe de estado, a guarda presidencial do país avançou contra o presidente em exercício, Mohamed Bazoum, acarretando na tomada de poder. Após o golpe sofrido, o governo atual do país revogou toda a cooperação militar com a França que tinha mais de 1.500 soldados no território nigerense.
O ataque relâmpago do Azerbaijão a região de Nagorno-Karabakh que aconteceu em setembro, deixando quase 600 mil mortos, a Corte Internacional de Justiça ordenou que o Azerbaijão permitisse o retorno “seguro” dos habitantes da região. As negociações para um acordo de paz ainda não terminaram (AFP, 2023, online). A Guerra Israel-Hamas que começou em outubro com um ataque de Hamas a Israel, a partir da Faixa de Gaza que teve um contra ataque pesado apoiado pelos EUA e União Europeia. Além dos bombardeios, Israel também controla o território de Gaza, privando a população de água, eletricidade, alimentos e medicamentos (AFP, 2023, online).
E a tensão entre a Venezuela e Guiana foi centrada na disputa pela região de Essequibo na guiana. Esse território é reivindicado por Maduro nos últimos anos devido à descoberta de petróleo e gás offshore na região (REUTERS, 2023, online; OLIVA, 2023, online).
Passando um pouco para assuntos nacionais, outro acontecimento que foi muito importante para as relações internacionais foi a volta do Lula à Presidência do Brasil e o seu reposicionamento dentro do cenário internacional. Esse evento também já era esperado pelos analistas já que as eleições aconteceram em 2022, todos estavam esperando por sua posse em janeiro de 2023.
Para os analistas estava claro que o presidente eleito, com a promessa de colocar o Brasil novamente no eixo internacional, teria bastante trabalho depois de quatro anos de retrocesso em políticas ambientais e crises institucionais o que não se esperava era o ataque antidemocrático de bolsonaristas aos prédios dos Três Poderes da República em Brasília com o intuito de destituir Lula do cargo. O que foi um fiasco e esse ataque renderam investigações da justiça brasileira em cima de Bolsonaro que recebeu uma condenação administrativa e a inelegibilidade eleitoral para os próximos 8 anos.
Esse ano também o Brasil conseguiu ter diversos destaques internacionais devido à sua volta de posicionamento mais moderado e voltado para resolução de conflitos, posicionamentos esses que foram feitos por Lula em relação ao conflito na Ucrânia, Israel-Hamas e também Venezuela-Guiana. Além disso, o Brasil assumiu a presidência temporária do conselho de segurança da ONU, voltou para o conselho de direitos humanos, assumiu a presidência do G20, e Dilma foi nomeada presidente do banco dos BRICS.
2023 com certeza vai ser marcado pelas catástrofes ambientais e mudanças climáticas. Dentre os acontecimentos na pauta ambiental que aconteceram esse ano podemos destacar os terremotos no sudeste da Turquia e parte da Síria que aconteceu em Fevereiro foi considerado um dos terremotos mais mortais dos últimos 100 anos, de magnitude 7,8, deixando pelo menos 56 mil mortos. E o terremoto de Marrocos em setembro com magnitude entre 6,8 e 7 (AFP, 2023, online).
Outros acontecimentos foram os grandes incêndios que aconteceram no Canadá, Havaí e Grécia. No Brasil aconteceram grandes enchentes e tornados no Sul e Sudeste do país (PACHECO; CALDAS, 2023, online). Marcado também como o ano de “Ebulição Global”, esse ano foram registrados ondas de extremo calor no mundo que de acordo com o observatório europeu Copernicus, foi superado o ano de 2016 que era considerado o ano mais quente já registrado (AFP, 2023, online).
Somando os conflitos mais as catástrofes ambientais temos uma contribuição grande para as Crises Migratórias.
Conflitos na Ucrânia, Sudão, Mianmar, República Democrática do Congo, crise humanitária no Afeganistão, Somália: nunca os números de deslocados no mundo foram tão altos, com 114 milhões contabilizados no final de setembro, segundo os últimos dados compilados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). Depois, a guerra entre Israel e Hamas após o ataque excepcional de 7 de outubro que causou 1,7 milhão de novos deslocados, segundo a ONU (AFP, 2023, online).
Passando para economia, temos a Argentina que neste ano sofre com a maior inflação que o país já teve desvalorizando fortemente a sua moeda, o que contribuiu para a vitória de Javier Milei economista ultraliberal nas eleições de novembro. O presidente eleito promete “privatizações, cortes com “motosserra” nas despesas públicas, dolarização e a supressão do Banco Central” (AFP, 2023, online).
O que nós podemos esperar em 2024? Diante dos acontecimentos que atravessaram 2022 para 2023 e que ainda perduram e os que começaram em 2023 e que ainda dão continuidade, podemos esperar que 2024 seja um ano marcado ainda com bastantes conflitos geopolíticos, e com a crise migratória que foi afetada por esses conflitos e com as duras políticas migratórias dos países da União Europeia.
Também vai ser um ano que o meio internacional vai estar de olho nas eleições estadunidenses e com a candidatura de Trump e o aumento das tecnologias de comunicação e inteligências artificiais podemos esperar um aumento nas fake news e deep fakes como aconteceu nas eleições de 2020. Também vão ser as eleições presidenciais de Tiwan, eleições no México, eleições no Parlamento Europeu.
A agenda internacional vai estar lotada de eventos como a conferência de segurança de Munique, o Fórum Econômico Mundial e Davos, a Cúpula da União Africana em Adis Abeba, a Cúpula dos BRICS na Rússia, a COP 29 no Azerbaijão, entre outros. Rússia assumindo a presidência dos BRICS, Itália assumindo a do G7 e o Brasil do G20.
Essas mudanças e o acontecimento desses eventos são significativos para deixar o cenário internacional em movimento e manter os analistas em assuntos internacionais ocupados o ano todo. Essas mudanças vão ter impacto direto em como os países se relacionam e para alguns países esse impacto vão atingir no âmbito doméstico por isso a importância de estarmos atentos e entender tudo que aconteceu esse ano e o que vai acontecer ano que vem.
Referências
AFP. 2024: o ano de todos os perigos para o jornalismo?. ISTOÉ, 15 dez. 2023. Disponível em: <https://istoe.com.br/2024-o-ano-de-todos-os-perigos-para-o-jornalismo/>. Acesso em: 26 dez. 2023.
AFP. Dez acontecimentos que marcaram o ano de 2023. Uol, 28 nov. 2023. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2023/11/28/dez-acontecimentos-que-marcaram-o-ano-2023.htm. Acesso em: 26 dez. 2023.
AFP. Migração, calor, maratonas: o ano de 2023 em dez recordes. ISTOÉ, 19 dez. 2023. Disponível em: <https://istoe.com.br/migracao-calor-maratonas-o-ano-de-2023-em-dez-recordes-2/>. Acesso em: 26 dez. 2023.
MARTINSSON, Analice. 2024 será um ano agitado nas #relaçõesinternacionais!. Linkedin, 27 dez. 2023. Disponível em: https://www.linkedin.com/feed/update/urn:li:activity:7145876683621924864/. Acesso em: 27 dez. 2023.
OLIVA, Gabriela. EM 2023, LULA NÃO ATINGIU O OBJETIVO DE SER PACIDICADOR NO CENÁRIO GLOBAL. O TEMPO, 27 dez. 2023. Disponível em: https://www.otempo.com.br/especiais/retrospectiva-2023-brasilia/governo/em-2023-lula-nao-atingiu-o-objetivo-de-ser-pacificador-no-cenario-global-1.3299753. Acesso em: 27 dez. 2023.
PACHECO, John; CALDAS, Joana. SC teve 9 tornados com rajadas de vento de até 120 km/h em 2023; nº supera média dos últimos 4 anos. G1, 08 dez. 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2023/12/08/el-nino-e-primavera-provocam-numero-recorde-de-tornados-em-2023-em-sc.ghtml. Acesso em: 26 dez. 2023.
PEREIRA, Laura. Retrospectiva 2023: Relembre os acontecimentos que marcaram o ano. MONEYTIMES, 20 dez. 2023. Disponível em: https://www.moneytimes.com.br/retrospectiva-2023-relembre-os-acontecimentos-que-marcaram-o-ano/. Acesso em: 26 dez. 2023.
REUTERS. Entenda a disputa de território entre a Venezuela e Guiana. CNN BRASIL, 07 dez. 2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/entenda-a-disputa-de-territorio-entre-a-venezuela-e-guiana/. Acesso em: 26 dez. 2023.
