
Nina Roberta Fernandes da Silva, acadêmica do 3° semestre de Relações Internacionais da UNAMA
Ficha técnica:
Ano: 2019
Diretores: Kleber Mendonça Filho, Juliano Dornelles
Distribuidora: Vitrine Filmes
Gênero: Drama. Suspense.
Países de origem: Brasil
Indicado a diversas premiações e vencedor do Prêmio do Júri em Cannes, “Bacurau” é uma história que se passa no sertão brasileiro e apresenta a história dos moradores da comunidade de Bacurau lutando contra uma tentativa de apagamento (O Globo, 2019). A obra explora a desumanização vivida pelo povo da região e o colonialismo.
A narrativa que representa o ponto inicial, é tratado no começo apenas como uma espécie de erro, pois ao pesquisar Bacurau no mapa, nada foi encontrado, como se a comunidade não existisse. Após esse episódio, cada vez mais situações inusitadas e incomuns foram acontecendo de forma crescente, o que deixou a população cada vez mais temerosa de que algo poderia vir a ocorrer.
Veio assim, se revelando ao longo da trama que o Prefeito de Bacurau é negligente e não se importa com a comunidade, fato comprovado pelo envio produtos vencidos e de remédios que não combateram de verdade as doenças que estavam assolando a população, atitudes essas que impulsionam a aversão da comunidade por ele. Por muitos momentos, o Prefeito é retratado falando sozinho, e quando os moradores interagiam com ele, era para lhe dirigir ofensas.
Não bastante o cenário de desumanização já vivido pela comunidade, veio acontecer o assassinato de uma criança em Bacurau, o que representou o início da tentativa de apagamento total da população por parte dos estrangeiros norte-americanos, onde tratavam a morte como uma espécie de jogo. Onde quem matasse mais, mais pontos conseguiriam fazer. Entretanto, não contavam que a população iria revidar, e muito menos que iriam conseguir derrotá-los.
Dessa forma, o longa metragem “Bacurau” trabalha com a Teoria da Escola Inglesa das Relações Internacionais, onde é debatido como os termos de civilização e barbárie são reproduzidos e moldam as hierarquias globais no contemporâneo (STIVACHTIS e YANNIS, 2015). Jean Starobinski, em sua obra nomeada “As máscaras da civilização”, disserta sobre como o termo civilização, que simboliza a sociedade que atingiu o ponto máximo de desenvolvimento, só tem sentido quando trabalha com seu antagonista, a barbárie.
A barbárie precisaria da ajuda daqueles que representam uma sociedade exemplar e correta, ou seja, os civilizados implantam para os bárbaros, costumes e regras que são considerados exemplares e que devem ser seguidos. O modelo de civilização representa o pensamento de colonização, visto que uma sociedade decide implantar seus ideais a uma outra tendo em vista que o seu modelo é o correto.
Por fim, pode-se concluir que “Bacurau” concede uma representação de pessoas que sofrem com processo de desumanização na sociedade. O longa-metragem representa como comunidades são vítimas por serem consideradas inferiores e por isso, deveriam ser apagadas. Dessa maneira, a obra consegue espelhar conceitos encontrados presentes nas Relações Internacionais, visto que se estabeleceu um padrão do que seria uma postura civilizada de uma sociedade perante a Sociedade Internacional, onde esse padrão se encontra sendo um padrão europeu do que seria civilização.
Referências:
BACURAU ganha Prêmio do Júri e faz história em Cannes. O Globo, 2019. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/cultura/filmes/bacurau-ganha-premio-do-juri-faz-historia-em-cannes-23693090> . Acesso em: 10 de jan. de 2024
STIVACHTIS, YANNIS. Civilizações e Hierarquias Globais: Uma Abordagem da Escola de Inglês. E-International Relations [online], 2015. Disponível em: <https://www.e-ir.info/2015/05/28/civilization-and-global-hierarchies-an-english-school-approach/ >.

incrível! ótima resenha! parabéns para autora!👏👏👏
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