
Kamilly Mácola – acadêmica do 8° semestre de Relações Internacionais da Unama.
Os megaeventos esportivos são fontes de vários tipos de casos de estudos dentro das Relações Internacionais desde o final do último século, isso se deve pela criação de novas teorias que dão enfoque a novos atores internacionais, como Organizações Não Governamentais, que se diferem das teorias mainstreams, as quais abrangem apenas os estados como atores principais das relações internacionais (SUPPO, 2012). A exemplo deste, podemos observar a corrente construtivista, a qual, um de seus autores, Alexander Wendt, argumenta que os agentes e a estrutura são co-construídos, ou seja, ambos se modelam através de ações e interações, seja elas políticas ou sociais, que modificam os interesses e a identidade dos atores (WENDT, 1999).
Os jogos Olímpicos, no geral, representam não somente a conquista de um atleta de determinado país, mas, também, do poder de um Estado dentro do sistema internacional, sendo usado como um fator para praticar a diplomacia pública, demonstrar sua superioridade dentro do quadro geral de medalhas das olimpíadas como um todo e até mesmo atrair investimentos ao país sede dos jogos (VASCONCELLOS, 2008).
Mesmo que a origem dos jogos olímpicos tenha sido na Grécia Antiga, a idealização dos jogos modernos aconteceu pelo francês Pierre de Frédy, conhecido como Pierre de Coubertin, o pai das Olimpíadas (SANTOS; CAETANO, 2024) junto com o Dr. William Penny Brookes, o qual aplicou as competições no nível regional. Com a ousadia de Pierre, foi reunido um congresso olímpico no ano de 1894 com objetivo de reunir os países para iniciar os jogos como conhecemos hoje, assim reunindo Bélgica, Grã-Bretanha, Grécia, Irlanda, Itália, Rússia, Espanha, Suécia e Estados Unidos (National Geographic Brasil, s.d.).
Durante toda a sua trajetória, o modelo dos jogos se modificou diversas vezes com transformações sociais e políticas no sistema, onde se elevaram as modalidades, os números de competidores por países, o aumento do público nos estádios e arenas e televisionado (SOUSA, 2024), além de um dos pontos mais importantes, que segundo o Comitê Olímpico do Brasil (COB), o jogos tem como objetivo:
Contribuir na construção de um mundo melhor, sem qualquer tipo de discriminação, e assegurar a prática esportiva como um direito de todos. A educação, a integração cultural e a busca pela excelência através do esporte são ideais a serem alcançados. O Olimpismo tem como princípios a amizade, a compreensão mútua, a igualdade, a solidariedade e o “fair play” (jogo limpo). Mais que uma filosofia esportiva, o Olimpismo é uma filosofia de vida. A ideia é que a prática destes valores ultrapasse as fronteiras das arenas esportivas e influencie a vida de todos.
Um fato relevante na competição das Olimpíadas de Paris 2024 é a igualdade de gênero entre os competidores, com a participação igual de mulheres e homens. Esse marco é resultado de iniciativas do Comitê Olímpico Internacional (COI), em conjunto com o Movimento Olímpico e as Federações Internacionais (DEPASSE, 2023). Segundo dados do Movimento Olímpico, a participação feminina nos Jogos Olímpicos começou em Paris, em 1900, na segunda edição dos Jogos da era moderna e, em Tóquio 2020, foi alcançado um maior equilíbrio de gênero, com 48,7% de mulheres e 50,3% de homens competindo, além de permitir que mulheres carregassem as bandeiras de seus países na cerimônia de abertura.
Além disso, as olimpíadas, no geral, tem uma oportunidade única de realizar a interação social entre diferentes estados e seus cidadãos, assim sendo palco para a diplomacia cultural, cooperação internacional entre os Estados e o mais importante promovendo a compreensão mútua, tendo a base da identidade nacional de cada pessoa. A identidade nacional é fomentada e expressada nas olimpíadas com os atletas, que levam consigo a responsabilidade de levar a cultura e ressaltá-la com o primeiro lugar no pódio, e com os amantes de esportes que fazem uma pequena contribuição para a globalização junto com o multiculturalismo (ALVES, 2023).
Em síntese, as Olimpíadas de Paris 2024, assim como outros eventos esportivos, vão além de serem simples competições entre países; elas têm como objetivo a troca de culturas e o reforço das relações internacionais, ajudando na construção e manutenção de identidades nacionais. A teoria construtivista, nas Olimpíadas de Paris, se manifesta de várias maneiras, a começar pelo reforço de relações internacionais, bem como, na questão da manutenção da identidade nacional e nos impactos político e social que podem haver dentro das competições com rivalidades históricas ou rivalidades criadas dentro dos jogos. Com as Olimpíadas de Paris, podemos ter a construção e a mistura de várias culturas, possibilitando manifestações que ultrapassam as barreiras dos esportes que contribuem para a formação da realidade internacional, destacando a importância das Olimpíadas no sistema global.
REFERÊNCIAS
ALVES JUNIOR, Gilberto. Os processos de conversão, exclusão e continuidade dos esportes olímpicos, seus critérios, fatores determinantes e aplicações político-sociais. 2023. 29 f., il. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Educação Física) — Universidade de Brasília, Brasília, 2023.
DE SANTANA, William Ferraz; DE OLIVEIRA, Mateus Henrique; UVINHA, Ricardo Ricci. Are the Olympics up-to-date? Measures taken by the IOC to enhance gender equality in the Games. Olimpianos-Journal of Olympic Studies, v. 6, p. 234-250, 2022.
DOS SANTOS, Doiara Silva; CAETANO, Clarisse Silva. AS PROMESSAS DE PARIS 2024: UMA “NOVA VISÃO DO OLIMPISMO”?. RENEF, v. 15, n. 23, p. 81-95, 2024.
OLYMPICS. In: DEPASSE, Guillaume. PARIS 2024: OS PRIMEIROS JOGOS OLÍMPICOS COM TOTAL IGUALDADE DE GÊNERO. [S. l.], 27 mar. 2023. Disponível em: < https://olympics.com/pt/noticias/paris-2024-primeiros-jogos-total-igualdade-genero. Acesso em: 17 jul. 2024. >
QUAL É A ORIGEM DAS OLIMPÍADAS O MAIOR EVENTO ESPORTIVO DO MUNDO. Nacional Geografic Brasil, s.l., s.d. . Disponível em: < https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2024/07/qual-e-a-origem-das-olimpiadas-o-maior-evento-esportivo-do-mundo. Acesso em: 15/07/2024. Acesso em: 15 jul. 2024 >
SUPPO, Hugo. Reflexões sobre o lugar do esporte nas relações internacionais. Contexto Internacional, v. 34, p. 397-433, 2012.
VASCONCELLOS, Douglas. Esporte, poder e relações internacionais. 2008.
WENDT, Alexander. Social Theory of International Politics. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.

Ótimo texto!! 👏👏👏
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