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Em 2024, especialmente no dia 7 de setembro, o Brasil comemora 202 anos de sua independência, um marco histórico que transformou profundamente a configuração política e econômica do país. Com a famosa obra de Pedro Américo “Independência ou Morte” em 1888, instaura-se um marco primordial com o grito pela autonomia brasileira em relação a metrópole (Portugal). Com isso, o período desde a Independência até os dias atuais possui grande períodos e governos que moldaram a nossa política econômica atual, com grandes transformações e crises econômicas que este Estado chamado Brasil enfrentou.
Como a economia está intrinsecamente ligada à política, os eventos políticos — como a instauração da República Velha em 1889, a Era Vargas, a República Liberal Democrática, entre outros períodos históricos — tiveram um impacto significativo na economia brasileira. Esses períodos foram marcados por diversas abordagens econômicas, incluindo medidas liberais, o keynesianismo e o neoliberalismo, além de variações nas parcerias econômicas e nas pautas de exportação.
Portanto, é crucial analisar o panorama histórico da economia desde a independência até os dias atuais e correlacioná-la com a economia contemporânea. Assim, torna-se possível compreender como as políticas econômicas do passado influenciam as questões econômicas atuais ou dependências atuais, como a questão da Divisão Internacional do Trabalho.
Segundo Celso Furtado (2020), o subdesenvolvimento do Brasil é um processo condicionado por fatores ligados principalmente ao colonialismo. Nesse sentido, o autor destaca que o modelo econômico implementado durante o período colonial priorizava a exportação de produtos primários em detrimento da formação de um mercado interno robusto, somado ao uso de mão de obra escrava, o país formou uma estrutura econômica marcada pela grande concentração de riqueza e pela dependência externa aos mercados estrangeiros (FURTADO, 2020).
Além disso, é importante destacar que o Brasil exportava produtos de baixo valor agregado e importava produtos industrializados do exterior, tendo as primeiras tentativas de desenvolver a indústria nacional surgindo tardiamente durante os anos 1930, com as políticas de substituição de importações em resposta a queda na demanda internacional de produtos primários, notadamente o café e o aumento nos preços de bens industrializados da Europa e EUA provocados pela crise de 1929 (Ibidem). Sendo assim, o Estado brasileiro desempenhou um papel participativo no processo de desenvolvimento da indústria nacional durante este período, visando tornar a economia nacional menos vulnerável a flutuações no mercado internacional.
O modelo, entretanto, teve seu fim com o aumento das taxas de juros dos EUA a partir de 1979, com isso, o endividamento externo que até então possibilitava o crescimento econômico de países em desenvolvimento deflagrou uma crise na balança de pagamentos desses países, levando a baixos índices de crescimento, altas taxas de inflação, diversas medidas de ajustes estruturais e a acordos com o FMI (BRASIL, 2023). Neste período, o Brasil passou por uma série de planos econômicos para se recuperar da crise, eventualmente encontrando sucesso com a implementação do plano real.
Além disso, durante os anos 1990 e início dos anos 2000, o país pôs em prática o modelo neoliberal, realizando a abertura comercial e financeira da economia, a privatização de empresas públicas e a execução de uma política fiscal que gerasse superávits (Arantes, 2017). Entretanto, o modelo neoliberal foi atenuado durante o primeiro governo Lula (2003-2010), onde o Estado voltou a ter um papel importante na economia através de estímulos fiscais, a atuação de bancos públicos como indutores do crescimento econômico e políticas de redistribuição de renda (IBIDEM), políticas que se mantiveram durante o governo Dilma (2011-2016).
Nos últimos anos o neoliberalismo voltou a ser o modelo implementado no Brasil durante os governos Temer (2016-2018) e Bolsonaro (2019-2022). As medidas colocadas em prática durante estes governos trouxeram grandes consequências negativas para a economia e para a sociedade brasileira ao mesmo passo em que garantiram lucros recordes para o mercado financeiro (DA SILVA e BARBOSA, 2020). Nesse sentido, o país hoje convive com os efeitos da financeirização econômica, que suplanta os lucros auferidos da produção pelo rentismo e ainda agrava a desigualdade e a concentração de riqueza historicamente presente no país.
Sendo assim, o panorama atual da economia mostra um cenário complexo onde a financeirização e a desigualdade são problemas que precisam ser enfrentados. Somado a isso, o país passa por um processo de desindustrialização que se estende desde os anos 1990 e vem se acelerando nos últimos anos (Portal da Indústria, 2022), tornando a retomada da indústria um fator crítico para evitar que o país volte a ser dependente da exportação de produtos primários.
Portanto, torna-se evidente as profundas diferenças na política econômica do país ao longo das décadas, com facetas econômicas diferentes sob cada etapa histórica enfrentada pelo estado brasileiro, primeiramente, utilizando-se de uma política comercial que era pautada na exportação de produtos primários com baixo valor agregado e posteriormente passando pelo seu processo de industrialização em 1930 com o intuito de ampliar suas possibilidades de retornos lucrativos.
Logo, a adoção do neoliberalismo como modelo econômico, fez-se parte primordial da política comercial brasileira durante grande parte do século 20 e retorna ao seu lugar de importância no início do século 21, sendo levado até os tempos atuais. Porém é necessário ser debatido os futuros desafios da economia brasileira, como o lento e recente processo de desindustrialização que aflige o rumo futuro da política econômica estatal, sendo necessário a adoção de ações que moldem e corroborem com o desenvolvimento econômico e social.

Referências:
ARANTES, Flávio; CAZEIRO LOPREATO, Francisco Luiz. O novo consenso em macroeconomia no Brasil: a política fiscal do plano real ao segundo governo Lula. Revista de Economia Contemporânea, v. 21, 2018.

BRASIL. O perfil econômico dos anos 1970. Portal Siscomex, 2023. Disponível em: <https://www.gov.br/siscomex/pt-br/servicos/aprendendo-a-exportarr/curiosidades-e-fatos-historicos/o-perfil-economico-dos-anos-1970&gt;. Acesso em: 7 set. 2024.

DA SILVA, Wagner Pires; BARBOSA, Erlene Pereira. Austeridade e neoliberalismo no Brasil pós-golpe. Revista Sítio Novo, v. 4, n. 3, p. 336-347, 2020.

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. Companhia das Letras, 2020.