Antônio Vieira, acadêmico do 2° semestre de Relações Internacionais

Ficha Técnica

Gênero: Drama, Ação, Terror

Episódios: 9

Ano: 2023

Diretor (a): Craig Mazin

Distribuição: HBO Max

País de origem: EUA

A série vencedora de 8 prêmios Emmy (TERRA, 2024), baseada no jogo de homônimo nome, lançado em 2013, retrata a relação profunda entre Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey) aliado a sobrevivência deles em um mundo pós-apocalíptico assolado pelo fungo Cordyceps, capaz de zumbificar pessoas, e pela ameaça humana. Em busca de uma possível cura, os dois passam por inúmeras dificuldades nesse cenário marcado pela imoralidade, medo e desconfiança.

Nesse sentido, a história começa em 2003 na cidade de Boston, mostrando a vida normal de Joel, que está fazendo aniversário, ao lado de sua filha Sarah e de seu irmão Tommy. No entanto, o caos causado pelo fungo não tarda a chegar na vida deles, que aos poucos vão percebendo o comportamento atípico dos vizinhos. Sem ter noção do que estava acontecendo, eles tentam sair da cidade, porém, o que se segue nesse dia é um estado de guerra, o que seria o início de uma nova realidade para o mundo no geral e para o de Joel.

Após 20 anos, em um Estados Unidos destruído, nocivo, e dominado pela natureza, dois grupos disputam pela influência no país: FEDRA, uma organização militar que toma conta das zonas de quarentena; e os vagalumes, uma milícia anti-governamental formada por sobreviventes, que se opõem ao poder dos militares, visto por eles como autoritário. Nesse contexto, Joel agora vive em uma zona de quarentena em Boston, trabalhando para a FEDRA como contrabandista. Posteriormente, ele recebe uma proposta atípica de uma sobrevivente para levar uma garota chamada Ellie – referida como a esperança da humanidade – até os vagalumes que estavam no capitólio em Washington D.C.

Depois de muita relutância, Joel aceita mais um trabalho, mas agora em um mudo sem regras, onde os indivíduos fazem de tudo pela sobrevivência, ao mesmo tempo que usam do ambiente anárquico para expor o pior de si. Além disso, claro, os dois tem que enfrentar a ameaça dos infectados. No mais, a jornada que se segue é repleta de reviravoltas, refletindo a moralidade dos personagens que é testada a todo momento, assim como seus estados psicológicos. Essa dinâmica, por sua vez, influência a relação entre eles, afetando o futuro da humanidade.

Ademais, a trama conta com diversos elementos políticos, como a analogia das zonas de quarentena com a estrutura dos Estados modernos, e o impacto da ausência de leis para o convívio social. Dessa maneira, The last of Us pode ser associado com a teoria realista das Relações Internacionais, que, entre suas principais características, defende o Estado como o principal ator das relações internacionais, que é motivado acima de tudo pela buscar pelo poder, sendo a guerra inevitável nesse processo (SARFATI, 2005).

Nesse viés, de acordo com as ideias presentes no livro “O leviatã”, escrito pelo filosofo Thomas Hobbes, para manter a ordem social e garantir o direito à vida, o rei deve ser soberano e deter um poder absoluto sobre os cidadãos, assim impondo regras, leis, e o uso da força se necessário, com o objetivo de combater o estado de natureza (SILVA, 2011). De maneira análoga a série, a FEDRA seria esse rei, uma vez que ela detém um poder total sobre os indivíduos, que devem seguir regras e normas como: não sair dos refúgios sem permissão, contribuir na administração do local por meio da divisão de tarefas, e acima de tudo, não se alinhar a opositores da organização e não estar infectado.

O estado de natureza motiva o homem a viver em sociedade, haja vista que é um estado marcado pela constante desconfiança, competição e busca pelo poder, em resposta ao medo da morte (SILVA, 2011). Dito isso, pode-se dizer que Joel e Ellie voltam a exercer esse estado de natureza quando saem da zona segura. Isso se exemplifica tanto na cena em que Joel, desconfiado, atropela um homem que estava pedindo ajuda na rua, quanto na relação entre a FEDRA e os vagalumes, que na ausência de uma entidade reguladora, se encontram em um ambiente anárquico fomentado pela guerra.

Consoante a isso, para Thomas Hobbes, o mesmo ocorre com os Estados no sistema internacional, que não possuem um soberano para controlá-los (SILVA, 2011). Ademais, mesmo The Last of Us sendo uma ficção, a obra ressalta a permanência da política, das ideologias e da natureza humana em situações de catástrofes, que não precisam necessariamente de um cenário apocalíptico para se expor, há exemplo as guerras atuais no oriente médio e na Europa.

REFERÊNCIAS:

SARFATI, Gilberto. Teoria das Relações Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 22-46.

SILVA,Marcos. O leviatã de Thomas Hobbes como base para o entendimento do paradigma realista das Relações Internacionais. Revista Iluminart. São Paulo, v. 1, n. 6, p. 102-110, agos. 2011.

The Last of Us, da HBO, ganha oito prêmios Emmy. TERRA, 2024. Disponível em: https://www.terra.com.br/gameon/geek/the-last-of-us-da-hbo-ganha-oito-premios-emmy,6999dad869aa8d30a55794c7e8ad36913givxt03.html. Acesso em: 16, out. 2024.