A segurança internacional, numa perspectiva contemporânea,, ultrapassa o conceito tradicional de proteção militar e territorial dos Estados-nação. Com o aprofundamento das ameaças, que vão desde o terrorismo até a imigração e até as pandemias, a noção de segurança trazida por Ayse Ceyhan na sua teoria da governança securitária evoluiu para abranger o campo da biopolítica. Assim, a abordagem da Ceyhan, fortemente enraizada nas teorias foucaultianas de biopolítica, propõe uma análise crítica dos Estados sobre como usam novas tecnologias de controle para “proteger” a população, ao mesmo tempo em que disciplinam corpos e comportamentos.

Ayse Ceyhan é uma importante teórica contemporânea no campo da segurança internacional, conhecida principalmente pela sua análise crítica da biopolítica, vigilância e governação da segurança. Ceyhan trabalha como pesquisadora na França e passou sua carreira acadêmica estudando as interseções entre tecnologia, segurança e controle social. Em uma era pós – 11 de setembro, ela é uma das vozes mais influentes na análise de como as lógicas de segurança estão interligadas com técnicas de controlo populacional, resultando na exclusão e estigmatização de identidades específicas.

Ceyhan (2008) argumenta que o conceito de segurança está cada vez mais ligado a lógicas biopolíticas, onde as ameaças são identificadas e contidas através de práticas de vigilância e classificação de identidade. Michel Foucault desenvolveu o conceito de biopolítica, que é a gestão da vida e do corpo pelo Estado. Inspirada por ele, Ceyhan analisa como a biometria e as medidas de vigilância digital se tornaram ferramentas essenciais de segurança nas democracias modernas.

Ademais, a autora enfatiza que à medida que estas tecnologias se proliferaram, particularmente na sequência dos ataques de 11 de setembro, surgiu uma governança securitária que se concentrou não apenas em conter os inimigos visíveis, mas em classificar e controlar todos os indivíduos, colocando-os identificados como uma ameaça “potencial”. Esta lógica cria uma hierarquia de identidade na qual certos grupos – muitas vezes imigrantes, refugiados e minorias étnicas – são mais vulneráveis ​​à vigilância, realçando a relação inerente entre segurança e exclusão social (Ceyhan, 2008).

Ceyhan também destaca as implicações desta governança biopolítica para as democracias contemporâneas, uma vez que ao centralizar a vigilância e o controlo nas mãos do Estado e das suas tecnologias, os direitos e liberdades civis podem ser corroídos. Para ela, os argumentos para proteger a segurança nacional são frequentemente usados ​​para justificar medidas que limitam a privacidade e limitam o espaço para dissidência (Ceyhan, 2008).

Neste sentido, a lógica da segurança desloca o foco das ameaças externas para a vigilância dos cidadãos, estabelecendo uma relação de desconfiança em que o próprio corpo passa a ser objeto de vigilância constante. A autora salienta que à medida que as tecnologias de rastreamento e vigilância avançam, há uma tendência crescente para a “normalização” da vigilância, em que a aceitação destas práticas se torna um aspecto rotineiro da vida moderna, adaptando a sociedade a uma nova forma de controlo que, paradoxalmente, mina a própria democracia que procura proteger (Lyon, 2007; Ceyhan, 2008)

Em suma, as contribuições de Ceyhan para as Relações Internacionais é crucial para compreender a complexa interação entre segurança, vigilância e direitos civis num mundo globalizado onde as linhas entre proteção e controlo estão a tornar-se cada vez mais confusas. Assim, ao refletir sobre o papel da biometria e da governação da segurança, Ceyhan alerta para os riscos de uma sociedade onde as liberdades individuais estão constantemente sob ameaça por motivos de segurança pública e levanta questões profundas sobre os limites da biopolítica e da vigilância nas democracias modernas.

Referências:

CEYHAN, Ayşe. Technologization of Security: Management of Uncertainty and Risk in the Age of Biometrics. Surveillance & Society, Thousand Oaks, v. 5, n. 2, p. 102-123, 2008.

LYON, David. Surveillance Studies: An Overview. Cambridge: Polity Press, 2007.