
Por Ana Mel Grimath, acadêmica do 8º semestre de Relações Internacionais na Unama.
O Natal é uma celebração comemorada por todo o mundo de diferentes maneiras. Representado como grande símbolo do cristianismo, no dia 25 de dezembro celebra-se o nascimento de Jesus Cristo. Sua origem remete às festas pagãs que eram realizadas na antiguidade, quando os romanos celebravam a chegada do inverno (solstício de inverno). Somente a partir do século IV é que a festividade tomou o significado religioso do cristianismo, a partir da consolidação dessa vertente (PEREIRA, 2020).
Atualmente, alguns dias antes do Natal se iniciam os preparativos para a comemoração. Combinado com as grandes vendas de presentes, o fim do ano, as reuniões entre familiares e amigos, o Natal é responsável por dissipar e celebrar diversos sentimentos, como o amor, a união, a esperança e a paz.
Inclusive, uma das marcas significativas do Natal nos dias atuais ainda é a música do John Lennon “Happy Xmas (War is over)”. Lançada em dezembro de 1971 a música fazia parte de uma campanha publicitária que anunciava o fim da guerra do Vietnã (Rádio Eldorado, 2020). Propagando a paz e a trégua da guerra, a música ascendeu como um símbolo de todos os sentimentos natalinos citados anteriormente.
Dessa forma, esse espírito natalino, combinado de diversos fatores, proporciona um sentimento de paz e apaziguamento nas relações mundiais, mas a verdade é que não passa de um sentimento produzido pela mídia.
Neste Natal, a cidade considerada santa pelos cristãos está sem decoração natalina e sem a presença de milhares de turistas. Belém, na Palestina, vive o seu segundo Natal em guerra na Faixa de Gaza, onde o número de mortos já passa de 45 mil pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza (G1, 2024).
“Não colocamos uma árvore de Natal, nem decoramos as ruas”, disse Anton Salman, prefeito de Belém. “Limitamos a alegria”, afirmou o prefeito. “Queremos (…) mostrar ao mundo que a Palestina continua sofrendo com a ocupação israelense e a injustiça” (G1, 2024).
Ao mesmo tempo, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia continua. À véspera do Natal um bloco de apartamentos na cidade central ucraniana de Kryvyi Rih foi bombardeado por um míssil balístico russo, causando a morte de uma pessoa e 11 feridos (G1, 2024).
“Enquanto outros países do mundo celebram o Natal, os ucranianos continuam sofrendo com os intermináveis ataques russos”, escreveu o ombudsman de direitos humanos da Ucrânia, Dmytro Lubinets, no Telegram (G1, 2024).
Nesse sentido, é possível traçar uma análise dessa perspectiva a partir das teorias das Relações Internacionais. O Paradigma Cosmopolita, que nasce através do pensamento de Hugo Grotius e Immanuel Kant, destaca a sociedade internacional como sendo também um ator das relações internacionais. Immanuel Kant, autor idealista clássico, aponta que o ser humano tem seus direitos garantidos independente de onde ele estiver, porque ele é racional, e sua razão diz que ele é sujeito de direitos. Além disso, Grotius ratifica esse pensamento desenvolvendo o Direito Internacional, que a partir do Pacta Sunt Servanda seria garantido aos indivíduos (SARFATI, 2005).
Outra importante crítica que é pertinente de ser citada dentro do paradigma cosmopolita, direciona-se ao autor clássico Abade de Saint Pierre, que acreditava que a paz só seria alcançada por meio dos preceitos cristãos (SARFATI, 2005).
Levando em consideração os fatores apresentados, os desastres mundiais causados pelo homem vão muito além em quantidade e intensidade em comparação aos que foram apresentados no texto. Ao contrastar o idealizado “espírito natalino” com os cenários de guerra na Palestina e na Ucrânia, é possível perceber como esse sentimento pode ser percebido como uma construção midiática dissociada das realidades de conflito.
Em linhas gerais, Sob a ótica do paradigma cosmopolita das Relações Internacionais, os direitos universais do ser humano deveriam ser preservados independentemente do local ou da situação, mas a prática demonstra que as injustiças e ocupações continuam a moldar as relações globais. Sendo assim, percebe-se o abismo entre o ideal de paz universal e a realidade de guerras e desigualdades, causando a dúvida se a capacidade das celebrações natalinas de transcender suas origens simbólicas para influenciar concretamente a ordem mundial.
Referências:
Belém vive mais um Natal sem brilho em meio à guerra em Gaza. G1. Publicado em 24/12/2024. Acesso em 24/12/2024. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2024/12/24/belem-se-prepara-para-mais-um-natal-sem-brilho-em-meio-a-guerra-em-gaza.ghtml>
Happy xmas” (War is over) – a música de protesto de John Lennon que virou um clássico de Natal. Rádio Eldorado. Publicado em 24/12/2020. Acesso em 25/12/2024. Disponível em: <https://www.am570.com.br/post.php?id=1951>.
PEREIRA, Lucas. História do Natal: origem, significado e símbolos. Minas Gerais: Biblio, 2020. Disponível em <https://biblio.direito.ufmg.br/?p=4105>
SARFATI, Gilberto. Teoria das Relações Internacionais. São Paulo. Saraiva: 2005.Ucrânia mostra destruição causada por mísseis russos em ataque na véspera de Natal. G1. Publicado em 24/12/2024. Acesso em 25/12/2024. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/ucrania-russia/noticia/2024/12/24/ucrania-mostra-destruicao-causada-por-misseis-russos-em-ataque-na-vespera-de-natal-video.ghtml>

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