
Railson Silva (acadêmico do 8º semestre de RI da UNAMA)
A vertente pós-colonial surge como um campo de estudo crítico que busca ir contra as narrativas tradicionais e hegemônicas do colonialismo, duvidando das suas formas de autoridade, controle e submissão. Dentro desse contexto, Frantz Fanon (1925-1961) se torna um dos pensadores mais importantes, cujos livros passam pelo campo da psiquiatria e da filosofia para entrar nas Relações Internacionais. Sua análise sobre a liberdade dos países colonizados, a violência na política e a formação de identidades dos povos conquistados dá ferramentas imprescindíveis para entender as dinâmicas do poder no sistema internacional. ͏
Frantz Fanon nasceu em Martinica e se formou em psiquiatria na França, se tornou um dos principais pensadores da descolonização no século vinte. Sua vivência como médico na Argélia durante a guerra pela independência (1954-1962) afetou bastante sua visão de mundo que refletiu diretamente em suas obras. Tal fato lhe permitiu estudar os efeitos mentais e políticos da dominação colonial. De acordo com Fanon (2008), o colonialismo não é só um jeito de explorar a economia, mas também uma forma que tira a humanidade do colonizado, forçando que ele tenha uma identidade submissa. Essa visão é muito importante para os estudos em Relações Internacionais, pois mostra como o colonialismo afetou as relações de poder entre Estados perpetuando desigualdades mesmo depois da independência formal das colônias. ͏ ͏ ͏ ͏ ͏
Em “Pele Negra, Máscaras Brancas” (1952), umas de suas obras mais conhecidas o autor explora a formação da identidade racial sob o colonialismo, na qual argumenta que o colonialismo impõe uma internalização de inferioridade nos colonizados. Ele aborda conceitos psicanalíticos para descrever como os colonizados foram guiados a adotar a cultura e os valores do colonizador, resultando em uma alienação dos mesmos (Fanon, 2008). Assim, para autor, essa dinâmica não é apenas individual, mas também coletiva, influenciando a forma como as sociedades colonizadas se relacionam com sua própria história e cultura.
Além do mais, ͏Fanon fala sobre a violência como algo ͏importante no͏ processo de descolonização. Ele diz que a violência colonial, ao tirar a humanidade do colonizado, só pode ser superada por uma violência revolucionária ͏que traz de volta a dignidade e a ação dos que são͏ oprimidos͏ (Fanon, 1961). Essa ideia causou dúvidas͏, mas também deu um olhar ͏profundo sobre o tipo de poder e resistência. Além de abordar sobre a legalidade͏ da͏ luta ͏com͏ armas em momentos de grande ͏sofrimento͏;͏ ou para͏ criticar a manutenção das hierarquias globais ͏que continuam a exploração dos͏ países no Sul Global.
Fanon traz também o conceito de “terceiro mundo” como um lugar de luta e apoio entre os povos marginalizados. Ele diz que o fim da colonização não é só algo político, mas também uma mudança cultural e mental (Fanon, 1961). Essa noção afetou movimentos como o ͏Pan-Africanismo͏ e a conferência de Bandung (1955) que tentavam criar uma ordem mundial baseado em igualdade e livre escolha.
Por fim, Frantz Fanon deixou um legado intelectual que continua a inspirar debates sobre colonialismo, descolonização e justiça global. Ao analisar os efeitos psicológicos e políticos da dominação colonial, ele não apenas desafiou as estruturas de opressão de seu tempo, mas também forneceu firmamentos de análise valiosos para os estudos contemporâneos nas Relações Internacionais. Sua defesa da autodeterminação e da solidariedade entre os povos oprimidos ressoa em um mundo ainda marcado por desigualdades globais e hierarquias de poder.
Referencias:
FANON, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas. Salvador: EDUFBA, 2008. Disponível em: < https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2014/05/Frantz_Fanon_Pele_negra_mascaras_brancas.pdf>
FANON, Frantz. Os Condenados da Terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1961. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/fanon/1961/condenados/04.htm>
